Depois de fiasco com Ben Affleck, Netflix traz ótima versão do Demolidor para o streaming
Depois de muita espera, eis que finalmente podemos afirmar com muito orgulho que um dos heróis mais legais da Marvel Comics, o Demolidor, foi retratado de forma justa nas telas. O péssimo filme de 2003 com Ben Affleck serviu como lição, e todos os cuidados foram tomados na criação do programa.
Praticamente tudo está de acordo com as melhores histórias do personagem. A ambientação da Cozinha do Inferno, as habilidades de Matt Murdock (Charlie Cox), o acidente que originou sua cegueira… não há preocupações em relação a isso no episódio 1, “No Círculo”. Não mesmo.
A cena introdutória mostra de forma sintetizada o que esperar do resto da temporada. Narrativa linear com alguns flashbacks, diálogos emocionais e poderosos (como na confissão com o padre), além da ação muito bem coreografada. E violenta.
O caráter do protagonista é muito bem desenvolvido, e isso não significa que ele já e defina. Nessa estreia temos um Matt que se formou em advocacia a pouco tempo, e acaba de abrir seu escritório junto com seu amigo Foggy Nelson (Elden Henson) (que não é o mesmo banana das HQs, mas está muito bem encaixado no contexto). Voltando a Matt, ele ainda é um cara com boa dose de imaturidade, e seu lado mulherengo com humor negro também está presente.
Obviamente essa inexperiência reflete nas cenas de luta em Demolidor, e aparentemente é difícil de se manter o controle enquanto espancamos um traficante de pessoas pego no flagra. Outras habilidades de Matt além do seu potencial combativo são exploradas, como sua capacidade em detectar se uma pessoa está mentindo através da percepção de seu batimento cardíaco. Mas isso apenas é um aperitivo do que está por vir, já que seu mentor Stick (Scott Glenn) só aparecerá daqui alguns episódios.
A trama está muito bem construída, tanto que sentimos a presença de Wilson Fisk (Vicent D’Onofrio) sem ele aparecer de fato. Outros desmembramentos da história marcam território, como a “mulher de negócios” Madame Gao (Wai Ching Ho), o empresário japonês Nobu (Peter Shinkoda), e a dupla russa Vladimir e Anatoly (Nikolai Nikolaeff e Gideon Emery). Karen Page (Deborah Ann Woll) é outra figura que se destaca, toda carga dramática e trágica que a personagem traz é explorada logo de início, resta saber se manterão essa abordagem, dado o desfecho do episódio.
As referências ao MCU estão melhores do que o esperado, pois estão além de citações baratas como muitas vezes éusado em Agents of SHIELD. Os acontecimentos de Os Vingadores (2012) estão totalmente enraizados na história, já que toda a destruição causada pela batalha de Nova York impulsionou construtoras a lucrar ilegalmente com a reconstrução da cidade, como é o caso da Union Allied. Há um easter-egg que liga o show da Netflix com a série da ABC, como o já divulgado cartaz de uma luta do boxeador Jack Murdock contra o Homem-Absorvente, que apareceu no início da 2ª temporada de Agents of SHIELD.
O visual ficou show, desde a ambientação da Cozinha do Inferno, muito tensa e violenta, até a linda e detalhada fotografia que se inspira demais nas páginas da HQ. Um recurso muito interessante (apesar de nem tão original) é o reflexo das pessoas através dos óculos de Matt. A fonte principal é claramente as histórias escritas por Frank Miller, o primeiro a usar vidraças de igreja com o Demolidor.
O Homem sem Medo finalmente encontrou seu lugar, já podemos recomendar a série e assinatura do serviço mesmo sem ter terminado o restante da temporada. Sim amigos, há coisas que nem precisamos ver para entendermos sua qualidade e importância.
Obrigado, Netflix.