Novos episódios do Homem sem Medo chegam para limpar o nome da Marvel na Netflix, trazendo o embate entre Demolidor vs Matt Murdock de forma inspirada e bem equilibrada
Fazia tempo que não víamos algo de qualidade dos heróis Marvel na Netflix. Depois do fracasso que foi Defensores e as continuações insossas de Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro, o sinal de alerta foi ligado para esse pequeno espaço do MCU fora dos cinemas. Desse modo, a responsabilidade da 3ª temporada de Demolidor só aumentou quando alguns cancelamentos aconteceram nesse espectro.
A trama continua a partir do final de Defensores, onde o Demolidor sobreviveu por muito pouco ao desabamento de um prédio, sendo cuidado posteriormente na mesma igreja onde foi amparado quando criança. O sentimento de ter perdido Elektra, dentre outras tragédias ocorridas, faz com que Matt Murdock (Charlie Cox) questione sua fé e queira viver apenas no anonimato, longe dos seus amigos Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson). Enquanto isso, o “Rei do Crime” Wilson Fisk (Vicent D’Onofrio) passa a colaborar com o FBI, delatando criminosos em troca de vantagens como a não condenação de seu grande amor, Vanessa (Ayelet Zurer).
Caso você não tenha assistido Defensores (ou não tenha conseguido terminar de ver), mas aprecia as temporadas solo do Homem sem Medo, basta ter conhecimento desse ponto de partida descrito acima para aproveitar a 3ª temporada. Há uma espécie de volta às origens aqui: esses novos episódios se assemelham muito mais ao primeiro ano do que ao segundo, que deu um destaque muito grande a Frank Castle. Pode esperar então um roteiro muito mais intimista, voltado aos dilemas tanto de Matt Murdock quanto ao de praticamente todos os personagens que o rodeiam, incluindo os vilões.
Vicent D’Onofrio entrega um Rei do Crime ainda mais convincente aqui, superando seu trabalho iniciado em 2015 com o personagem. Méritos para os roteiristas que mantiveram a obsessão por Vanessa, além de toda a inteligência e crueldade conhecida das HQs, com o status do vilão progredindo de forma gradativa até termos a dimensão real do seu poder. A grande novidade no elenco fica por conta de Wilson Bethel como o agente do FBI Ben Poindexter, que nos quadrinhos é ninguém menos que o Mercenário, um dos maiores vilões do Demolidor e que nessa temporada acrescenta muita qualidade à trama. Por falar em FBI, até um personagem secundário como o agente Ray Nadeem (Jay Ali) ganha uma história de fundo bem elaborada.
Os momentos mais cansativos podem ser atribuídos a Karen e Foggy. Há um movimento claro em dar aos amigos de Matt uma condição de igualdade em valor, apesar das claras diferenças entre os três. Foggy confia muito mais no sistema e quer usar os meios legais para resolver os problemas apresentados, enquanto Matt, por motivos óbvios, acredita em algo intermediário ao vigilantismo e a legalidade. Karen, por sua vez, não é a pessoa inocente que eles pensavam e tem seu passado bastante explorado.
Mas o conflito principal da 3ª temporada de Demolidor é do protagonista com ele mesmo, e o uso do uniforme improvisado (apenas roupa preta) do 1º ano é um dos vários símbolos usados para representar esse conflito. É uma batalha sem fim, a essência do que é o personagem, dono de grandes arcos nos quadrinhos como “A Queda de Murdock”, que inspira esses novos episódios.
Para o leitor e fã do personagem, há uma grande recompensa em relação a isso, tanto no desfecho da história como em toda a ação da série, muito bem coreografada e lançando mão das famosas cenas de luta no corredor com direito a um plano sequência sensacional, que dessa vez atinge um nível ainda maior. Há um elogiável equilíbrio entre as lutas, diálogos marcantes e violência estética. O desfecho da história no apartamento do Rei do Crime é o maior exemplo disso.
Demolidor é uma série que sabe muito bem valorizar seus personagens. O problema disso é que ela escancara o desleixo que a Netflix tem com seus outros heróis da Marvel, como Luke Cage e Punho de Ferro. Será que há futuro para eles na plataforma?