Nova temporada do Homem Sem Medo mostra o potencial dos personagens e instiga novas séries originais
O ano de 2015 foi muito especial para os fãs de quadrinhos. Finalmente estreava a primeira série da parceria entre Marvel e Netflix com Demolidor. Ao contrário da horrorosa versão cinematográfica protagonizada pelo atual Batman Ben Affleck, finalmente fomos recompensados com uma história digna para o personagem: trama aceitável, ambientação excelente, coreografias maneiras e violência. Muita violência.
É justo dizer que a segunda temporada de Demolidor é mais profunda na maioria dos aspectos, como na questão herói ou vigilante. O primeiro encontro do “Demônio de Hell’s Kitchen” com Frank Castle nos leva de volta ao dilema de matar ou não um bandido, assim como o estado mental de quem se dispõe a esse tipo de coisa e os possíveis traumas. É um jogo de poder interessante entre Demolidor e Justiceiro que se estende tanto nos diálogos quanto nas cenas de ação.
Lembra da emblemática cena do corredor da primeira temporada (plano sequência sensacional)? Foi usada novamente no segundo ano, com algumas melhorias. E se o orçamento não permite cenas assim o tempo todo, ao menos as lutas continuam bonitas (e com a supracitada violência). Ainda na parte estética, o uniforme do Demolidor ganha um upgrade no capacete e ainda há diversas referência às HQs de Frank Miller na tela ao longo dos treze episódios. E fique tranquilo a respeito da famosa camisa preta com estampa de caveira do Justiceiro. Ela aparece sim!
Infelizmente a série não está livre de defeitos roteirísticos e a maior representação disso está em Karen Page (Deborah Ann Woll). São tantos momentos de perigo para um personagem teoricamente normal que fica difícil não torcer o nariz em alguns momentos, há inclusive uma menção a isso no último episódio feita pelo Sargento Mahoney (Royce Johnson). Nada que comprometa a qualidade do produto final, no entanto. A exposição exagerada de Karen pode trazer bons frutos se estiverem planejando o arco “A Queda de Murdock” para o futuro. Mesmo Foggy Nelson (Elden Henson), preso na maior parte do tempo às necessidades do texto (como lidar com a promotora linha dura), tem seus momentos como a cena no banheiro logo após ele descobrir sobre a volta de Elektra Natchios (Elodie Yung). No geral, Demolidor é isso: a tentativa e erro ao lidar com sua rotina de herói, advogado e até namorado.
A volta de Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) se encaixou de forma orgânica nesse balaio e nos resta aguardar para ver se realmente cão que ladra não morde. Stick (Scott Glenn) está de volta também, com mais tempo de tela e trazendo um humor ácido característico no meio de temporada (o chá na ressuscitação), junto com Elektra (a torta na lanchonete). A guerra entre Casto e Tentáculo fica finalmente evidente e junto com essa confusão temos um bom indício do possível desafio para os Defensores.
Sobre o futuro? O Frank Castle de Jon Bernthal roubou a cena em diversos momentos, então nada mais justo uma série solo do Justiceiro. Ao mesmo tempo fica a desconfiança sobre como abordar esse personagem a princípio simplório. Talvez o caminho seja continuar explorando a dúvida sobre sua índole junto com coadjuvantes de relevância, e sem envolvimento (ao menos não muito forte) com os Defensores, série que reunirá os heróis Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Quanto a uma série solo da Elektra, ainda não: é preciso desenvolver mais a personagem junto com o Homem Sem Medo, ainda mais agora onde ela aparentemente se tornará a líder do Tentáculo. A organização, aliás, pode se tornar o equivalente à Hydra para as séries Marvel do canal ABC, com diversas alternâncias de poder e oferecendo cada vez mais desafios para os heróis urbanos da Marvel.
A terceira temporada de Demolidor deve demorar para chegar, uma vez que a Netflix ainda irá lançar Luke Cage em setembro de 2016. A segunda temporada de Jessica Jones está sendo gravada e Punho de Ferro está contratando elenco. Parece prudente a estreia de Defensores ser logo após estes, provavelmente tendo como fio condutor o herói vivido por Charlie Cox. Não tenha medo, a Marvel não vai deixar você se esquecer do Demônio de Hell’s Kitchen facilmente.