Depois de surpreender a todos em 2016, o Mercenário Tagarela está de volta em Deadpool 2. Um filme que, à sua maneira bizarra, ressalta a importância da família
Tirem as crianças da sala! Deadpool 2 chega aos cinemas cercado de expectativas, afinal, o primeiro filme (lançado em 2016 e dirigido por Tim Miller) conseguiu atingir um público ávido por conteúdo graficamente violento que ao mesmo tempo oferece diversão suja e super heróis. Até então, nenhum estúdio havia ousado nesse sentido e o resultado foi sensacional: um filme de baixo orçamento (US$ 58 milhões) que encheu bastante os cofres da FOX (quase US$ 800 milhões).
A trama de Deadpool 2 segue o Mercenário Tagarela cumprindo diversas missões, fazendo o que faz de melhor que é dar um fim a bandidos e malfeitores ao seu modo. Ao mesmo tempo temos Cable, um mutante que vem do futuro para assassinar o garoto Russell, aparentemente sem motivo algum. O caminho de ambos acaba se cruzando, e Wade Wilson decide formar uma equipe para ajudá-lo na missão.
Passado o vislumbre inicial, Deadpool 2 possui um trunfo que poucas continuações podem se dar ao direito de ter, que é apostar em qualquer coisa. Quer falar de viagem no tempo da forma mais manjada possível? Pode. Quer adaptar personagens desconhecidos das HQs de modo livre? Idem. Isso se deve à abordagem da auto sátira. Rir de si mesmo tem dado bastante certo, e essa é mais uma característica que aproxima a franquia de Guardiões da Galáxia, assim como aconteceu há dois anos atrás.
Comparações à parte, vale destacar aqui o prazer que é ter Ryan Reynolds no papel principal. O ator não apenas se redimiu como conseguiu aqui cimentar um herói para chamar de seu, tal qual relacionamos Tony Stark com Robert Downey Jr. e Wolverine com Hugh Jackman. Esse último, aliás, participando no filme de diversas maneiras ao longo do filme, seja numa caixa de cereal ou mesmo numa provocação de Reynolds referente a Logan.
Como não poderia ser diferente, o elenco fica bem mais recheado nessa continuação. No entanto, há uma certa impressão passada nos trailers sobre a X-Force que é quebrada totalmente no filme, mas não daremos spoiler aqui. Zazie Beetz possui bastante presença e carisma como Domino, compensando assim o pouco tempo que ela tem de tela. Já Morena Baccarin, brasileira que interpreta Vanessa, continua tendo uma atenção proporcional ao primeiro filme. O garoto neo zelandês, Julian Dennison (A Incrível Aventura de Rick Backer, de Taika Waititi), que vive Russell, possui um arco bem construído e também rende momentos interessantes.
Outra figura cercada de expectativas era o personagem de Josh Brolin, Cable. Depois de conquistar milhares em seu papel como Thanos em Vingadores: Guerra Infinita, o ator dá as caras mais uma vez num filme de herói (a 3ª para ser mais exato, se contarmos Jonah Hex) e cumpre bem o seu papel. Algo bastante presente nas HQs da Marvel Comics é a interação entre o protagonista e Cable, algo que foi bem transferido das páginas para as telas. Sobre sua origem, seria impossível para a FOX manter um filme coerente caso tentasse ser cem por cento fiel em relação ao Cable dos quadrinhos (ali sim, uma verdadeira bagunça apelativa), porém, mais uma vez, podemos dizer que a essência foi mantida. Desse modo, Brolin entrega um autêntico “casca grossa” com direito a diversas cenas de ação visualmente empolgantes.
Tais cenas parecem ganhar um upgrade com David Leitch na direção. O diretor, que também deu vida a clássicos modernos da ação como John Wick 1 e 2 (que ganha piada em Deadpool 2 também) e Atômica, conduz muito bem o que está em tela usando o cenário de forma criativa e tudo mais, faltando apenas um pouco da fluidez que o caracterizou nos filmes citados. Talvez a necessidade de lidar com mais CGI que o normal tenha atrapalhado Leitch e sua equipe, mas ele ainda seria uma escolha interessante para um eventual terceiro filme.
Deadpool 2 é uma ótima opção que chega nos cinemas. Muito por manter e expandir a qualidade do primeiro, mas também por definir alguns desafios para um eventual terceiro filme no que diz respeito a roteiro. Aqui, acabou acontecendo uma mudança no final que tira boa parte de uma certa carga dramática que o filme teve, isso pode desagradar alguns, mas é um fato que afasta bastante o longa da FOX de um outro lançamento recente que é Guerra Infinita, no que diz respeito a consequências.
Sim, trabalhar com viagem no tempo pode ser um verdadeiro tiro no pé e bagunçar uma franquia de forma irrecuperável, e X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido e sua sequência estão aí para provar esse ponto. Talvez a forma Deadpool de lidar com a situação impeça a FOX de cometer os mesmos erros.