Alberto Genovese, De Bilionário a Presidiário, crítica da série documental da Netflix Alberto Genovese, De Bilionário a Presidiário, crítica da série documental da Netflix

De Bilionário a Presidiário (2025) | Crítica do Documentário | Netflix

A Netflix continua a explorar o formato das séries documentais com De Bilionário a Presidiário (Start Up, Fall Down: From Billionaire to Convict, 2025), produção italiana em três episódios que examina a ascensão e queda de Alberto Genovese, um dos nomes mais conhecidos do setor de startups na Itália. Dirigida com o rigor técnico que se tornou marca do gênero na plataforma, a série busca reconstituir um dos escândalos mais recentes e controversos da vida pública italiana — o caso que levou um empresário de sucesso à prisão por crimes de agressão sexual. Confira a crítica do doc:

O império de Alberto Genovese: De Bilionário a Presidiário

Nascido em Nápoles em 1977, filho de médicos bem-sucedidos, Alberto Genovese construiu uma carreira sólida no mundo dos negócios. Formado em Administração pela Universidade Bocconi, acumulou experiência em instituições como Goldman Sachs, McKinsey e Bain & Company antes de se tornar empreendedor. Em 2008, fundou a empresa de seguros online Facile.it, depois vendida à Oakley Capital, e seguiu criando novos negócios, entre eles Prima Assicurazioni e Brumbrum. Seu sucesso financeiro e a imagem de “autodidata do Vale do Silício italiano” o tornaram figura recorrente nos noticiários de economia e inovação.

O documentário mostra como, a partir de 2018, Genovese ampliou seu poder e influência com novos investimentos e parcerias de alto valor. Mas, por trás da imagem pública de sucesso, havia uma vida privada marcada pelo excesso, pelo consumo constante de cocaína e pela criação de um espaço que se tornaria símbolo de seu colapso: a Terrazza Sentimento, cobertura em Milão onde ele promovia festas regadas a drogas e álcool.

O escândalo e a prisão

A série detalha o episódio de outubro de 2020, quando uma jovem de 18 anos denunciou Genovese por agressão sexual após uma dessas festas. As investigações revelaram imagens de câmeras de segurança e relatos de outras mulheres que afirmaram ter sido vítimas em circunstâncias semelhantes, tanto em Milão quanto em Ibiza. A partir daí, a figura do “bilionário das startups” deu lugar à do réu em um caso de grande repercussão na mídia italiana.

Genovese foi preso em 2020, acusado de agressão sexual, posse e tráfico de drogas, além de pornografia infantil. Em julgamentos posteriores, foi condenado a 7 anos e 11 meses de prisão. Em 2024, recebeu ainda uma sentença adicional de 10 meses, com pena suspensa, por sonegação fiscal de mais de 4 milhões de euros. Atualmente, cumpre pena na Penitenciária de Bollate, em Milão, com autorização para realizar trabalhos voluntários em instituições de apoio a pessoas vulneráveis.

O olhar da série documental

De Bilionário a Presidiário segue a estrutura tradicional das produções de true crime da Netflix: depoimentos, arquivos de vídeo e reconstituições visuais ajudam a contextualizar os fatos. No entanto, a série enfrenta o mesmo dilema que outras produções do gênero — o de equilibrar o impacto visual com uma reflexão mais profunda sobre os temas abordados.

Ao mostrar a ascensão de Genovese, a produção se interessa pela figura do empreendedor de sucesso, mas evita questionar as condições sociais e culturais que permitiram a normalização de seu comportamento abusivo. As reconstituições digitais e o retorno à infância do empresário, por exemplo, sugerem uma tentativa de encontrar causas psicológicas para seus crimes, o que pode enfraquecer a dimensão crítica da narrativa.

Alberto Genovese, De Bilionário a Presidiário, crítica da série documental da Netflix

Uma análise sobre poder, privilégio e impunidade

Apesar dessas escolhas, a série lança luz sobre um aspecto central do caso: a relação entre poder, dinheiro e impunidade. A figura de Genovese revela como o privilégio e o status social podem criar bolhas de proteção que retardam a responsabilização por atos criminosos. Ao mesmo tempo, a série evidencia o modo como a sociedade consome e transforma em espetáculo histórias de violência, ampliando o debate sobre os limites éticos do entretenimento documental.

Crítica: De Bilionário a Presidiário é um bom documentário na Netflix?

De Bilionário a Presidiário é um retrato direto da cultura do excesso e da desigualdade de poder no mundo corporativo. Embora siga uma estrutura familiar para quem acompanha o gênero, a produção italiana reafirma a capacidade da Netflix de transformar casos recentes em narrativas audiovisuais de grande alcance. O resultado é um relato que convida à reflexão sobre até que ponto o sucesso e o prestígio podem mascarar realidades sombrias — e sobre como o fascínio por essas quedas públicas diz tanto sobre quem as protagoniza quanto sobre quem as consome.