O uso de estética retrô para jogos indie é uma prática bem comum. Seja para evocar um tempo em que os jogos eram mais simples ou se aproveitar de um estilo artístico menos custoso. A melhor situação é quando esse sentimento nostálgico é atualizado com filosofias de design mais atuais. É isso que acontece com Cyber Shadow, desenvolvido pelo estúdio finlandês Mechanical Head Studios e publicado pela Yacht Club Games.
Em Cyber Shadow, você controla Shadow, o último ninja de um clã que foi destruído pelo Dr. Progen, que dominou a cidade com seu exército sintético. O personagem agora terá que libertar os seus amigos prisioneiros e vingar os mortos.
Nos primeiros minutos, percebe-se que o jogo é uma grande homenagem a clássicos como Ninja Gaiden e Shinobi. Talvez por causa disso, ele possui uma dificuldade bem excessiva, sendo muitas vezes frustrante e punitivo. Mas, felizmente, algumas decisões de design mais atuais tornam a experiência bem divertida, desafiadora e raramente injusta. Na maioria das fases, o level design tem escolhas bem interessantes e inimigos com padrões bem diferentes. Apesar de ser bem difícil nas primeiras tentativas, depois que você pega o padrão dos ataques, vai ficando mais fácil se livrar deles.
Uma das novidades que me chamou a atenção é a forma como o jogo trata seus power-ups. Quando você mata a maioria dos inimigos, eles derrubam um tipo de dinheiro. Quando você chega nos checkpoints, pode gastar esse dinheiro para fazer o checkpoint e recuperar sua vida, te oferecer power-ups e recarregar sua munição de ataques especiais. Essa escolha de como e quanto gastar do seu dinheiro acaba sendo interessante durante as fases. Esses itens especiais são bem variados e oferecem mais ações para o jogador, mas, ao levar 3 ataques, eles são destruídos. O problema é que, geralmente, eles são fixos em partes do cenário, e eu gostaria que pudesse escolher entre eles algumas vezes. Mas acredito que isso seria um problema a mais para ser balanceado.
Você começa Cyber Shadow bem limitado. Atacar em diferentes posições e se mover pelo cenário é custoso e difícil. Mas, ao avançar no jogo, você vai ganhando novos ataques e formas de se mover, facilitando um pouco mais sua vida. Felizmente, o level design e os inimigos é bem escalado durante as fases. Eu nunca senti que o jogo estava fácil ou difícil demais de uma forma injusta. Ele sempre estava para me medir no pico de minha habilidade. Não estou dizendo que o jogo é fácil, muito pelo contrário, mas ele geralmente conseguia entregar uma experiência divertida. O design do jogo entende tão bem que tipos de inimigos são mais chatos que alguns deles são tratados como armadilhas. O jogador deve escolher atacar eles e sofrer as consequências ou tentar desviar para sair ileso.
Apesar de ficar mais poderoso com o tempo, o jogo acaba ficando um pouco mais difícil de controlar. Os controles não são exatamente muito precisos e o leque de novas habilidades e como você tem que usá-las acaba exigindo mais ainda do jogador. Nas últimas fases e chefes, eu senti que ele estava realmente me pedindo para usar tudo que aprendi durante essa aventura.
Apesar de eu não gostar muito do estilo de pixel art que foi escolhida, eu adorei o character design e a direção de arte de forma geral. Os chefes e outros NPCs tem um design muito maneiro e as fases geralmente contam uma história, fazendo sentido com o level design. A trilha sonora é outro ponto forte do jogo, conseguindo evocar os sentimentos certos e empolgando nas partes mais frenéticas.
Cyber Shadow possui um título e uma história bem genéricos, mas até que consegue trazer conceitos interessantes na sua mistura do espiritual com o cibernético. Ele é uma experiência bem difícil e muitas vezes frustrante, mas que vai te recompensar pela tentativa e percepção dos padrões. Os controles podem não ser tão precisos assim, mas quando você consegue dominá-los, se sente um verdadeiro ninja. O jogo atualmente está no Game Pass, então vale a conferida.