Faz uma semana que uma das coisas mais discutidas é a cultura do estupro. Que continue assim!
Tem gente que não aguenta mais falar sobre a cultura do estupro, e isso é até compreensível. Depois do famigerado caso da adolescente vítima de estupro coletivo no Rio de Janeiro no final do mês de maio, o sentimento de impunidade somado a uma cultura repressivamente machista gerou mobilizações de todas as partes do Brasil, e o principal canal usado foram as redes sociais digitais.
Como diz o ditado: antes tarde do que mais tarde.
Não gostaria de vir aqui afirmar que limão é azedo, açúcar é doce ou então listar 10 benefícios de uma boa caminhada. Sendo assim, também é redundante dizer que a cultura do estupro existe. O CosmoNerd se posiciona veementemente contra e entende que essa cultura porca é mais comum do que imaginamos. Apenas atribuir o rótulo de “monstro” ou “demônio” ao praticante da violência propaga a ideia de que são uma exceção, ou seja, não representam uma parcela significativa da sociedade (é só derrotar o monstro que o problema acaba). Mas basta observar comportamentos babacas como forçar beijos em micareta ou assediar garotas na rua para entendermos que o debate precisa começar bem antes do que muitos pensam, para impedir uma grande e forte influência que começa desde cedo em nossas vidas.
Infelizmente, nem todas as pessoas na discussão demonstram empatia ou a vontade de aprender e melhorar sobre o assunto. Não é incomum ver a culpa ser apontada para a vítima, seja pela forma como se veste, por manter hábitos não ortodoxos ou até mesmo pela descrença de que certos homens possam cometer certos atos. Essa discussão precisa ser em todos os locais: casa, trabalho, escola, e até no entretenimento como filmes, séries, quadrinhos etc.
Também não caia na falácia política. O feminismo luta pela igualdade de gênero, e ao contrário do que muitos pensam não veio para contrapor o machismo afim de humilhar os homens. Trata-se de um movimento além de direita, centro, ou esquerda. Mesmo um certo deputado que propõe a castração química de estupradores já foi ao STF pedir foro privilegiado para um certo pastor religioso acusado de uma série de estupros e assassinatos. E ele foi bem sucedido. Acredite: é apenas a auto-promoção que interessa a esse tipo de indivíduo.
Pode entrar, não se acanhe: Temos o Elas no Controle que insere de forma justa as garotas no contexto pop/nerd, seja com assuntos divertidos ou mesmo com o enfrentamento que às vezes se faz necessário. Para leitores e leitoras, a coluna Girl Power estreou recentemente e já possui material de qualidade também.
Jodie Foster
Há dezenas de exemplos para a maioria das situações que vivemos. Mas nesse tema específico veio à mente Jodie Foster. Em Acusados (1988), a atriz dá vida a Sarah, uma garota que é estuprada em um bar e, após denunciar a agressão, passa a ser considerada culpada pelo fato de ter fumado maconha e ser uma “moça oferecida” (mais atual do que isso impossível). O curioso é que sua advogada (que também não confiava nela de início) só consegue mais chances de punir de fato os agressores quando manda para o banco dos réus a platéia de agitadores, que permitiram e foram coniventes para que o crime ocorresse. Ganhou o Oscar de melhor atriz pelo papel.
Jodie também esteve envolvida num dos casos mais bizarros já ocorridos. Após uma fracassada tentativa de assassinato ao presidente estadunidense Ronald Reagan, o criminoso John Hinckley Jr. alegou ter feito tudo aquilo para impressionar Foster pelo seu papel em Taxi Driver (1976). No filme de Martin Scorsese, ela interpreta uma prostituta adolescente (ela tinha quatorze anos na época).