Depois de um longo período de tentativas frustradas, finalmente a adaptação de The Umbrella Academy ganhou vida pelas mãos da Netflix. E mesmo com alguns percalços no caminho, é possível afirmar que a série baseada na obra escrita por Gerard Way e ilustrada por Gabriel Bá é um entretenimento extremamente satisfatório.
O cerne da trama é a morte de Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore), excêntrico milionário que adotou sete crianças que nasceram no mesmo dia sob circunstâncias misteriosas. Disposto a treiná-las para combater futuras ameaças à Terra, ele funda a Umbrella Academy. É desse ponto que somos apresentados aos personagens principais e como cada um deles seguiu seu próprio caminho no decorrer dos anos, de uma forma ou de outra. A força de The Umbrella Academy reside justamente no estudo e desenvolvimento desses personagens, assim como toda a dinâmica familiar de um grupo de super-heróis. Adotando uma premissa similar ao que foi feito em A Maldição da Residência Hill, cada episódio busca explorar um membro específico ao mesmo tempo em que desenvolve a trama principal.
O showrunner Steve Blackman compreende que é mais fácil para o espectador desenvolver laços de empatia com super-heróis falhos, que de alguma forma carregam medos, traumas e inseguranças comuns a ele. Dessa forma, ele explora a mente castigada dos membros da Umbrella Academy. Ainda nessa estratégia, Blackman aproveita para adentrar o âmbito familiar e todas as suas complicações. Nem mesmo o apocalipse iminente é motivo suficiente para que haja uma cooperação imediata entre os personagens. No entanto, são os abusos físicos e psicológicos que unem os protagonistas, assim como os personagens secundários.
Além disso, The Umbrella Academy é recheada de elementos que fisgam nossa atenção desde o início. Em especial a fotografia, direção de arte e trilha sonora acertada, casando perfeitamente com cada cena e momento chave. Logo, a estranheza desse universo passa a ser um detalhe perfeitamente compreensível, dando ainda mais força para que a história seja contada.
No entanto, algumas decisões acabam incomodando bastante. No que diz respeito ao desenvolvimento dos personagens, nem todos são contemplados da mesma forma. Klaus (Robert Sheehan) é quem melhor se beneficia disso. Sua curva de crescimento é a que mais se destaca, sendo dele alguns dos melhores momentos da temporada. A forma como sua condição de viciado em drogas e seu poder de conversar com os mortos são exploradas enriquece ainda mais seu arco. O mesmo vale para o Número Cinco (Aidan Gallagher), que rouba a cena nos primeiros cinco episódios (embora perca força na reta final).
Os vilões Hazel (Cameron Britton) e Cha-Cha (Mary J. Blige) também merecem destaque, especialmente Hazel. Ainda que sejam vítimas do principal problema da temporada: a eterna sensação de que a trama anda em círculos. Apesar do início empolgante, The Umbrella Academy não está imune a famosa “barriga” nos episódios de transição para a reta final. Toda a investigação sobre a causa do Apocalipse, a inserção da Organização e outros elementos acabam cansando mais do que divertindo. Um incômodo que pode ser corrigido num provável segundo ano da série.
Esses problemas afetam principalmente Vanya Hargreeves (Ellen Page), que deveria ser um dos elementos mais surpreendentes da história. A composição mais intimista de Page é compreensível, mas seu crescimento não é capaz de superar as adversidades citadas. Por outro lado, sua interação com os irmãos é bem mais interessante.
The Umbrella Academy é uma série sobre personagens poderosos que, apesar de todos os talentos, possuem dificuldades de se reencontrarem com seus aspectos mais humanos. Mas que nunca desistem dessa busca, mesmo com todos os traumas que carregam. O resultado final é uma ótima experiência nesse primeiro ano e uma expectativa justificável para a segunda temporada.