Crítica | Pequena Grande Vida: menos nem sempre é mais

Desde que ganhou fama nos bastidores de Hollywood, Alexander Payne nunca aceitou ser limitado por um rótulo. Apesar de seu estilo característico, sua filmografia é bastante eclética. Sideways – Entre Umas e Outras, Os Descendentes e Nebraska são exemplos que ilustram esse pensamento, sendo que os dois últimos foram indicados ao Oscar. Natural que cada novo projeto de Payne gere uma certa expectativa. Algo que ocorre com Pequena Grande Vida, que apesar de carregar muito da assinatura de seu criador, destoa da qualidade de seus antecessores.

Na trama, as perspectivas para o futuro da humanidade não são as melhores. Superpopulação, excesso de produção de lixo, alimentos em escassez e etc. O cenário muda quando cientistas descobrem uma forma de encolher pessoas, algo que poderia contribuir para o meio ambiente. Logo a notícia se espalha, atraindo a atenção da população. É nesse contexto que Paul Safranek (Matt Damon) e Audrey Safranek (Kristen Wiig) enxergam uma possibilidade de mudarem de vida.

Alexander Payne trabalha Pequena Grande Vida através de pontos de vista divergentes e o encantamento com o novo. Apesar da prerrogativa de auxiliar o meio ambiente e garantir um futuro para a humanidade, fica claro que muitos que aderem ao processo de encolhimento tem como ambição o viés financeiro. Por tanto, tal mudança possui um peso para os ricos e outro completamente diferente para os menos favorecidos. Assim como dilemas completamente opostos. Embora esteja calcado na fantasia, Payne consegue extrair humor das situações mais comuns. Além de projetar uma aura de encantamento ao redor do processo de redução. De fato, o início do longa é promissor. Mas algo se perde pelo caminho.

Apesar de todo o tom satírico que circunda a premissa, Pequena Grande Vida perde força ao abandonar seu instigante plot narrativo. Mais precisamente quando os protagonistas decidem passar pela transformação. O debate a respeito das consequências do processo de encolhimento é logo abandonado, na medida em que o longa assume um viés excessivamente emotivo. Fica claro o discurso de que a desigualdade acompanhará a sociedade não importa qual o cenário, assim como a capacidade do ser humano para cometer atrocidades. Tudo acompanhado de uma mensagem ambiental, sobre como devemos aprender a apreciar as pequenas coisas que nos cercam. O ato de encolher é também uma forma de reconhecer o quanto o mundo é imensamente precioso.

Mas a ideia não é executada da melhor forma possível, descambando para um drama excessivamente apelativo. O que também joga contra Pequena Grande Vida, mais precisamente em questão de roteiro, é o desperdício de ótimos nomes. Christoph Waltz, Kristen Wiig e Jason Sudeikis são alguns dos exemplos. Além de participações pouco inspiradas de Neil Patrick Harris e Laura Dern. Matt Damon faz bem o típico homem comum, que não alcançou seus objetivos e anseia por um pouco de perspectiva. Nada além disso. Quem ainda consegue se destacar Hong Chau, numa interpretação cativante.

Apesar de não ser um desastre, Pequena Grande Vida é um dos trabalhos menos inspirados de Alexander Payne. Portador de uma mensagem social importante, o longa carrega o estigma de que poderia entregar muito mais.