Os Novos Mutantes Os Novos Mutantes

Os Novos Mutantes

Certos filmes parecem fadados ao fracasso muito antes de seus lançamentos. Seja por troca de diretores, revisão de roteiro, refilmagens etc. Os Novos Mutantes, tratado durante muito tempo como uma lenda urbana, é uma dessas películas amaldiçoadas. Depois de vários adiamentos desde 2018, o longa chega aos cinemas no pior período possível. Todo o descaso da Disney para com a obra desde a compra da Fox passa a impressão que lançá-lo não foi nada mais que uma forma de deixar a vida seguir. Uma pena para o público, que precisa encarar esse projeto inacabado na tela.

A sensação de algo incompleto percorre toda a duração do filme, provavelmente decorrente de uma pós-produção atrapalhada. Efeitos especiais e práticos, fotografia, trilha sonora e especialmente a interação entre os atores carecem de refinamento. O que é surpreendente se levarmos em conta que a projeção tem apenas uma locação central para desenvolver a trama. Não fossem os valores milionários investidos, Os Novos Mutantes poderia muito bem ser algum tipo de projeto de fã. O que deixa claro que no cinema, com exceção dos recentes Logan e Deadpool, ainda não existe um rumo definido para os X-Men e seus derivados.

A dinâmica entre os protagonistas, que deveria ser a grande força da história, é bastante irregular. Na teoria, a questão de aprender sobre os próprios poderes durante o conturbado período da adolescência deveria ser o fator comum que facilitaria uma futura união no último ato. Mas a montagem e o roteiro dificultam o processo, extraindo o mínimo possível das cenas onde a “equipe” está presente. Isso impede que seja criada uma conexão entre o espectador e os personagens, algo essencial para tornar a experiência pelo menos agradável. Visto a enorme variedade de filmes de super-heróis, Os Novos Mutantes tinha a obrigação de acertar nesse aspecto.

O longa também falha na hora de definir seu tom. A intenção do diretor Josh Boone é criar um clima de casa mal assombrada, flertando mais com o terror do que a ação desenfreada. Porém, os medos dos personagens não despertam nenhum senso de urgência. Falta uma intenção maior de realmente passar alguma credibilidade para as manifestações “sobrenaturais”, que servem apenas para ilustrar os traumas passados dos protagonistas. Obviamente tomando mais tempo de tela do que o necessário, isso tira peso do confronto final contra o verdadeiro inimigo. Dando ao último ato uma pressa que atrapalha o desfecho da história e torna o combate decisivo extremamente morno. Mesmo com a crise resolvida, é impossível enxergar o nascimento de um novo grupo. Os Novos Mutantes, em tese, deveria ser um filme de origem.

Nas atuações, o elenco acaba sofrendo por conta do texto. Além da já citada dificuldade em criar uma dinâmica, os personagens possuem pouca profundidade. Dessa forma, até mesmo nomes talentosos não tem muito o que fazer. Alice Braga entrega uma vilã genérica, que pouco faz em cena. Maisie Williams (Rahne Sinclair/Lupina) até se esforça, mas o crescimento de sua personagem é afetado por todos os problemas do filme. Nem mesmo a sempre magnética Anya Taylor-Joy (Illyana Rasputin/Magia) escapa ilesa, não conseguindo fugir da pegada bad girl que o roteiro passou. Charlie Heaton (“Sam” Guthrie/Míssil) e Henry Zaga (Roberto da Costa/Mancha Solar) são deixados de lado durante toda a projeção. E Blu Hunt (“Dani” Moonstar/Miragem) em nenhum momento convence como personagem principal, justamente porque o filme não sabe o que fazer com seus poderes.

O resultado final de Os Novos Mutantes não chega a ser uma novidade e fica difícil imaginar que seria diferente se as coisas tivessem corrido bem lá atrás. Agora que a Disney finalmente tirou essa farpa do dedo, pode focar no seu grandioso serviço de streaming e esquecer desse projeto de pequenos X-Men. Todos saem ganhando nessa.