Medo viral aposta na tecnologia a favor do horror, mas peca pela trama superficial e roteiro fraco
A maioria das tramas de terror, para estabelecer uma atmosfera de tensão, necessita criar uma sensação de desamparo sobre os protagonistas, muitas vezes isolando-os da comunicação com o restante da sociedade. Se antigamente apenas cortar os cabos telefônicos deixava a vítima incomunicável, hoje, com a disseminação da comunicação sem fio, os filmes de terror tem um grande desafio: elaborar estratégias de roteiro para isolar as vítimas de qualquer ajuda exterior. Tramas cuja premissa consiste em viagens para locais isolados, como florestas e desertos se tornaram comuns e se repetem até hoje. No entanto, cada vez mais filmes do gênero, ao invés de lutar contra a tecnologia, tentando evitá-la, apostam em usá-la como uma ferramenta para promover o medo. Esta não é uma tarefa simples, e exige muita criatividade para chegar a um resultado atrativo. Medo Viral segue por esta premissa, integrando o sobrenatural com o universo de aplicativos móveis, mas infelizmente o roteiro pouco engenhoso nos leva a uma trama rasa, longe de ser intrigante ou mesmo assustadora.

Medo Viral é o primeiro longa de terror roteirizado e dirigido pelos irmãos Vang. O elenco conta com alguns rostos já vistos em outas produções de terror, como Bonnie Morgan (a Samara de “O Chamado 3”), Saxon Sharbino (‘Poltergeist: O Fenômeno’), Brandon Soo Hoo (da série “Um Drink no Inferno”) e Alexis G. Zall (“Ouija: Origem do Mal”), além de Mitchell Edwards que tem sua estreia no terror neste filme e se destaca dentre os demais atores. Na trama, após a misteriosa morte de uma colegial, um grupo de jovens recebe um convite suspeito para baixar um o aplicativo de celular. Trata-se de um assistente com inteligência artificial que aos poucos mostra sua verdadeira face e seu macabro propósito.
Na cena inicial acompanhamos o assassinato da primeira vítima da entidade tecno-sobrenatural. O design do ser maligno em questão até parece interessante nessas primeiras cenas, mas ao longo do filme ele só demonstra ser mais um aglomerado de clichês, ou elementos muito melhores utilizados em filmes anteriores (como a silhueta alta com grandes dedos, remetendo a Babadook, por exemplo). Na história, o ser é uma espécie de bicho-papão, que identifica os principais medos de suas vítimas através de um aplicativo e deturpa a realidade para matá-las de pavor. Um grupo de amigos que recebeu o convite para baixar o tal aplicativo possuído tenta entender o que está causando tudo aquilo para se livrar do tormento daquela entidade.
Os personagens em geral são extremamente superficiais e com diálogos fúteis, com exceção de algumas falas do personagem Cody (Mitchell Edwards), que até destoam do restante do filme pelas intrigantes, porém pontuais, reflexões sobre temas atuais. As ações dos personagens são incongruentes com as situações ameaçadoras pelas quais são submetidos, de modo que pode ser incômodo para boa parte dos espectadores que buscam um mínimo de realismo ou identificação com algum dos personagens. Além disso, a justificativa para a relação do ser maligno com a tecnologia é muito mal explorada e pouco atrativa, funcionando apenas como uma conveniência de roteiro. As mortes são muito previsíveis e boa parte delas acontece off scream, só vemos cenas de perseguição que se mostram cansativas no decorrer do longa. Cenas de horror explícito são ausentes e pouquíssimos efeitos práticos são utilizados.

Medo Viral segue uma corrente interessante de filmes que tentam integrar a tecnologia com o sobrenatural, mas esta combinação acompanhada de um roteiro fraco pode gerar resultados decepcionantes, como foi este filme. Neste caso, ao invés da tecnologia aprimorar o sobrenatural, e vice versa, há um prejuízo mútuo, sem gerar qualquer indício de tensão ou reflexão interessante, e seguindo o clichê de sustos “repentinos” porém previsíveis, que estamos cansados de ver em produções do gênero.
O filme é distribuído pela Fênix Filmes no Brasil e chega aos cinemas dia 16 de agosto de 2018.
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