Premiado pela Sociedade Nacional de Críticos de Cinema (NSFC), “Lady Bird: A Hora de Voar“, levou para a estante os prêmios de: Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Laurie Metcalf) e de Melhor Roteiro para Greta Gerwig. Vale ressaltar, que este é o longa de estréia de direção de Greta Gerwig, tal trabalho representa a competência de uma boa história e de uma narrativa que sabe trabalhar das suas pequenas nuances até suas maiores emoções.
Greta Gerwig (Frances Ha) assumi o trabalho de solo de dirigir e roteirizar o longa, e autenticando mais seu estilo de história. A trajetória que da-se início com Christine “Lady Bird” McPherson (Saoirse Ronan) é bem intimista, uma observação e reflexão sobre os dramas da fase adolescente para a fase jovem adulto, adulto. É inegável que tal caminho e desenvolvimento de personagem não pareça um pouco como se fosse uma história mais pessoal para a diretora/roteirista, deixando seus traços biográficos e espelhando suas experiências em sua obra.
Lady Bird é o arquétipo do adolescente que tenta transcender seus medos e inseguranças, mas deixando tudo pior para si mesmo e talvez para os que estão a sua volta. Tudo é somatizado e tratado com exageros, os extremos são sempre muito presentes. A paixão é sempre intensa, a raiva mais ainda, tristeza então, nem se fala. Todos esses elementos são beneficiados pela sensibilidade que o roteiro carrega e pela visão de uma diretora mulher, estamos tratando de dramas da fase de uma adolescente, uma ótica feminina sobre o que está ao redor e as percepções da idade em questão.
Laurie Metcalf interpreta a mãe de Christine (Marion McPherson), uma personagem de suma importância para realçar as relações interpessoais dentro da obra, e para explanar como a dinâmica de mãe e filha são complicadas, intensas, mas que o amor e o sentimento materno sempre se elevaram contra todos os revés. Não há muito espaço para sutilezas quando as duas estão em cena, sempre é algo muito forte, discussões com tons de vozes bem altos, gritos e frases fortes são ditas sem pensar duas vezes. Tanto o grito alto como o silêncio das duas, são igualmente ensurdecedores, sempre demonstrando o peso das brigas. Mas nem tudo entre elas se resume a isso, existem momentos bem afetuosos, como a cena de abertura dentro do carro, como a cena em uma loja de roupas, mais uma vez mostrando os extremos e como a escrita transita bem entre eles.
A complexidade do roteiro e do que é abordado, mora na simplicidade dos temas. Relações em famílias, relacionamentos, amizade, faculdade, escola. Como isso é trabalhado é que mostra o caráter de quão virtuoso cada um dos assuntos pode ser, é dicotômico e deveras e importante. Outro ponto válido a ressaltar, é que a história brinca com os estereótipos, mas nunca caindo no erro de usá-los de forma errônea, é pontual e agrega.
O figurino opta sempre por cores entre as mais pastéis e por horas as mais vivas, cada uma representando momentos diferentes do humor da protagonista e do seu estado de espírito. Apesar do caráter íntimo que o filme possui, não temos muitos closes ou planos mais fechados, é sempre trabalhado planos mais abertos, a sensação de liberdade é sempre exaltada, é hora de voar.
Apesar de todos os dramas envolvidos em Lady Bird, o filme não cai no tom melancólico e apático, pelo contrário, aproveita das suas situações para sempre criar gags para momentos divertidos e engraçados, e são precisamente funcionais, nunca é forçado ou fora de tom. O filme se conhece, e se conhecendo, sabe trabalhar as ferramentas que deseja usar, sempre pontual.
“Lady Bird: A Hora de Voar” é um estudo bastante íntimo, sensível e divertido da fase adolescente e dos dramas que esta carrega.