Crítica | Ilha dos Cachorros é uma das mais belas animações já feitas nos últimos anos

Ilha dos Cachorros é uma animação brilhante e tocante que consegue atingir a todos os públicos

Em A Ilha dos Cachorros somos apresentados a um mundo saído direto da cabeça de Wes Anderson, atuando como diretor e roteirista, com uma mistura de temas políticos, sociais e familiares que são apresentados sem tornar a animação em algo maçante de assistir. Em um clima que apenas Anderson poderia criar, alinhado com o belíssimo uso do stop-motion, a animação não deixa a desejar e entrega uma incrível aventura que tem o poder de atingir a todos os públicos.

A animação se passa a 20 anos no futuro, na fictícia cidade de Megasaki, no Japão, onde todos os cachorros foram exilados para um lixão em uma ilha longe dos humanos, devido o surgimento da gripe canina que atingiu todas as raças do melhor amigo do homem. Acompanhamos a jornada de Atari Kobayashi (Koyu Rankin), um garoto de 12 anos de idade, sobrinho do prefeito Kobayashi (Kunichi Nomura), que vai para o lixão atrás de Spots (Liev Schreiber), seu cão de guarda, o primeiro animal enviado para a ilha. Chegando lá, Atari conta com a ajuda de cinco cachorros, Rex (Edward Norton), King (Bob Balaban), Duke (Jeff Goldblum), Boss (Bill Murray) e Chief (Bryan Cranston), todos partem em uma incrível aventura, fazendo descobertas e enfrentando os desafios que aparecem.

Anderson apresenta uma diversidade de assuntos durante o filme e brinca de maneira leve com todos eles. O prefeito Kobayashi, um político que exerce seu poder sem nenhum tipo de questionamento, apresenta um governo baseado no totalitarismo; o uso da mídia, sob controle do governo, para gerar ódio e preconceito contra uma raça inteira; a tecnologia tomando conta do dia a dia, substituindo o que antes era um ser vivo e agora é apenas uma máquina robótica, como os cachorros robôs criados como substitutos; a supremacia de uma única raça, os gatos, em relação aos cachorros; teorias da conspiração em relação ao surgimento da gripe canina. Todas essas ideias abrem reflexões para a nossa realidade, fazendo com que exista uma ligação da trama com o que vivemos no nosso mundo. Mas a abordagem desses temas não é aprofundada pelo roteiro, e isso não é algo negativo, pelo contrário, é o que faz com que a nossa curiosidade funcione e nos impulsione a debater sobre o filme.

Ilha Dos Cachorros é muito mais sobre a aventura de Atari e sua procura por Spots, com alguns toques de drama, humor e a autodescoberta de verdadeira natureza de Chief, que ao longo da trama rouba a história para si e divide o protagonismo com Atari. O roteiro tem uma forma simples na apresentação de cada etapa da jornada dos personagens, gerando interesse em acompanharmos as reviravoltas durante os 101 minutos do longa. A decisão de nem sempre traduzir as falas em japonês é uma excelente ferramenta com propósito definido e que funciona, e como o próprio Anderson já disse, nós conseguimos entender a emoção da cena e nos conectar com o momento, proporcionando uma incrível imersão. O visual do stop-motion passando pela construção da cidade, os personagens (tanto humanos e robôs), os detalhes de pequenas coisas, as cores, tudo enche os olhos de tão competente e lindo que é.

Não existem grandes defeitos em Ilha dos Cachorros, a animação é uma obra-prima excêntrica de Wes Anderson e sua criatividade única. Apesar de alguns erros com o desfecho de alguns personagens, a conclusão do todo é satisfatória. O filme tem tudo para ser levado ao Oscar como melhor animação, seu trabalho de voz, visual e técnica contribuem e muito para isso acontecer. Sem sombra de dúvidas, essa é uma das mais belas animações já feitas nos últimos anos, e que deve ser lembrada por muito tempo.