Crítica | Guerra Fria

Novo filme de Paweł Pawlikowski está indicado a 3 Oscars, incluindo melhor direção

Paweł Pawlikowski, diretor polonês e vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro por Ida, volta à premiação com seu novo filme Guerra Fria, um romance frio como o lugar de origem do diretor.

Guerra Fria conta a história de um homem e uma mulher que se apaixonam durante a, pasmem, Guerra Fria em 1949 na Polônia e passam os próximos anos tentando ficar juntos apesar de todas as adversidades dentro e fora do seu relacionamento.

A primeira coisa que salta aos olhos ao assistir Guerra Fria é, com certeza, sua fotografia. O longa é filmado em um lindo e melancólico preto-e-branco que consegue passar perfeitamente o frio da Polônia, dos seus personagens e, consequentemente, do romance desenvolvido no filme. Além disso, o diretor optou por exibir o filme em 4×3, padrão normalmente visto em filmes e TVs antigas, acredito que para passar um ar de antigo e nostálgico, dando a impressão que esse é um filme perdido dos anos 40 que está sendo revisitado hoje.

A decisão de filmar em uma tela “quadrada” pode ser esquisita e o expectador pode imaginar que informações se perdem nesse formato. Mas, muito pelo contrário, o fotógrafo Łukasz Żal consegue passar muita informação em um espaço claustrofóbico. Por não ter muito espaço para os lados, ele decide geralmente enquadrar os personagens mais abaixo da tela e nos dar mais informação de forma vertical. Existem várias cenas que poderiam ser emolduradas de tão lindas.

Mas esse sentimento de um filme de romance antigo desaparece nos primeiros minutos do longa. O romance desenvolvido aqui é totalmente sem química e problemático. É perceptível que essa foi uma decisão proposital, que o filme tenta mostrar a dificuldade dessas pessoas que tentam ficar juntas mesmo sendo tão diferentes e tendo um período político conturbado que vive lhes separando. Mas essa decisão acaba por nos fazer não comprar o casal e muitas vezes torcer contra sua união, deixando o filme meio sem propósito em diversos momentos. É como se nós estivéssemos em um relacionamento abusivo com o filme, que vai tentando juntar essas pessoas que a gente não quer ver juntos.

O diretor e também escritor Pawlikowski escreveu o filme pensando nos próprios pais que se apaixonaram durante a Guerra Fria e tiveram um relacionamento bem atribulado. O casal do filme é Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot). Ela é uma cantora e dançarina e ele é um música e maestro que se apaixonam por causa da música mas tem muitas coisas bem diferentes. O seu relacionamento é muito bem representando por uma música de amor trágico que Zula canta durante todo o filme em locais e contextos diferentes, geralmente mais feliz quando eles estão bem e mais triste quando as coisas não estão dando certo, como uma metalinguagem.

O nome do longa entrega a situação histórica em que o filme se passa e até há algumas críticas à propaganda comunista usada na União Soviética no início. Mas o background político acaba ficando mesmo pouco desenvolvido e mais minimalista enquanto o longa foca na parte menos interessante que é o romance entre os dois.

Guerra Fria é, ao mesmo tempo, um filme lindo e desagradável de assistir. A sua fotografia nos convida para esse mundo triste e melancólico mas toda a situação que envolve o casal do longa é uma tortura tanto para quem torce para o casal ficar junto como para aqueles que não. É um filme frio, sobre um relacionamento frio e uma época fria.