Angra ØMNI é o disco que consolida uma formação sólida e altamente inspirada

Por Luke Muniz

Com 27 anos de banda e 9 discos de estúdios lançados, o Angra carrega toda a energia de um grupo que trabalha com excelência, inspiração e amor pelo que fazem, e o que eles fazem, é heavy metal. Heavy Metal nacional.

Muitas discussões acerca dos trabalhos do conjunto surgem entre os fãs. Se fã de Metal é exigente, os do Angra possuem uma peculiaridade entre os demais. As avaliações beiram o específico até de segundos de uma música ou de músicas. Umas com fundamentos, outras por pura divergência de gosto. Possuindo discos injustiçado por seus seguidores, estes sendo “Fireworks“, “Aurora Consurgens” e “Aqua“. Algo que é comum entre esses CD’s era o momento conturbado em que os membros estavam, refletindo assim na recepção. Mas nem de longe são criações medíocres. Apenas excelentes trabalhos lançados em épocas erradas.

Porém e entretanto, em 2014 e com uma nova formação, o Angra explodia com o autêntico e corajoso “Secret Garden“, explorando mais caminhos do progressivo. Fabio Lione nos vocais e Bruno Valverde assumindo as baquetas, um novo ar enchia os pulmões da Deusa do Fogo e dos fãs desta.

Em 2018, ØMNI marca uma consolidação do que foi realizado em 2014. Fazendo questão que tudo fosse acompanhado, a banda semanalmente postava em seu canal oficial do youtube, vídeos de report sobre as composições, e recebendo feedbacks quase que imediatos do que estava sendo realizado. Com a saída de Kiko Loureiro, este que saiu para ser o novo guitarrista do Megadeth, Marcelo Barbosa, membro do Almah, assume as cordas ao lado de Rafael Bittencourt.

ØMNI trata-se de:

“O tema é conceitual, abordando histórias curtas de ficção científica, que acontecem em vários lugares no tempo simultaneamente. Uma ficção sobre um futuro, mais precisamente em 2046, onde a humanidade terá mudanças profundas causadas por uma inteligência artificial, o que possibilitará uma comunicação entre pessoas do presente e do futuro.”

Talvez aqui seja o álbum conceitual mais excêntrico do Angra, ainda mais que seu antecessor, “Secret Garden“. É metalinguístico e tratando de todos os conceitos que a banda fez antes. Demonstrando maturidade de uma carga de 27 anos, não podíamos esperar menos, é mais uma magnum opus do metal nacional.

Somos introduzidos no ØMNIverso com a “Light Of Transcendence“, uma power metal que já é familiar aos fãs do gênero, com um tema de guitarra altamente memorável, cantante e emocionante. Seu refrão é contagiante e extremamente energético, como toda boa música speed. Seus arranjos com cordas e orquestra dão outro ar a música, mostrando todo o esmero com a canção.

Travelers Of Time“, esta que foi a single do disco, sendo liberada no youtube, sintetiza e representa bem todo o ar que álbum tem. Isto até nas palavras de Felipe Andreolli, baixista, em uma live em seu Facebook. Ela já começa com um riff bem pesado e em seguida entrando uma batida típica que o Angra usaria, com um gingado brasileiro, lembrando o maracatu. Em seguida, todos entram e o vocal explode, numa melodia lenta, porém, deveras imponente e com um clima peculiar, juntando ainda vozes em coral. Os solos se dividem uma parte mais agressiva e outra mais melodiosa. Mestre Bittencourt ainda tem uma “palinha” antes do segundo solo, tornando a música completa.

Black Widow’s Web” tem uma pegada bem progressiva, com uma alternância de clima bem dinâmica. Começamos com o vocal limpo e doce de Sandy, em seguida segue para o Mago Lione, fazendo uma interseção entre o calmo e o visceral vocal de Alissa White-Gluz. Sendo esta, a primeira música do Angra com guturais. E mais uma com um refrão que é para cantar junto e memorável. É a música do álbum com maior mudanças de clima. É recompensador ouvir o começo da canção com a Sandy e terminar ela como começou.

Insania” mantém o ritmo progressivo e a melodia e também a atmosfera pesada. Com uma base mais limpa, com teclados e efeitos e um arranjo matador de baixo, tornando tudo único e bem pensado. Ela é ascendente. Seu solo é bem cadenciado e valoriza bem a base, seguindo para um interlúdio que eleva o clima da música. Contando com mais corais, é com certeza uma das faixas mais interessantes.

Com Rafael Bittencourt assumindo os vocais, como também aconteceu em 2014, na faixa “Violet Sky“, “The Bottom Of My Soul” é uma “progballad” onde o guitarrista mostra sua desenvoltura para cantar e todo o seu feeling, esta sendo uma das faixas mais expressivas. Principalmente por todo o conceito que circunda a sua letra. Possui até uma pegada pop na sua melodia.

War Horns“, que é dona do primeiro clipe do álbum, é a segunda Power do ØMNI. Ela inicia-se com uma voz, como se fosse um locutor de programa de TV, e logo todos os instrumentos entram e com uma frase de guitarra agressiva e marcante. Todo a atmosfera da música é como se fosse um presságio de algo, essa sensação é bastante transmitida. Desde a letra junta da melodia e do solo altamente técnico e preciso. Faixa esta que contou com a participação de Kiko Loureiro, e é altamente notório, ele imprime sua marca e deixa ela clara de longe. O Angra sempre teve um Power diferente das maiorias das bandas únicas do gênero, e “War Horns” prova isso da melhor forma, sendo bem diferente da sua irmã “Light Of Transcendence“.

A música mais divertida do álbum, sem dúvida alguma. “Caveman” é singular e segue na linha de versos em português com corais, como em “Carolina IV“, “Unholy Wars PT I: Imperial Crow“. Ideia que com certeza brotou da mente de Bittencourt, fazendo um paralelo em sua letra com o homem e a caverna, e ainda combando com o conceito do disco em si, sobre as viagens no tempo. Tem um verso que valoriza demais a melodia da voz e com um refrão com uma levada mais rápida e cadenciada, mais uma para cantar junto

Magic Mirror” lembra muito elementos do “Angles Cry” e do “Holy Land“, com backing vocals marcantes e riffs pesados em partes chaves e de interlúdios. Com direito até uma passagem com piano, lembrando “Carolina IV“. Com partes mais diferentes umas das outras, nunca deixando a música cair e voltando mais uma vez para encerrar com seu refrão poderoso.

A balada de carteirinha assinada que todo álbum do Angra tem, “Always More“. Ela tem uma peculiaridade interessante, parece que ela faz parte da “Magic Mirror“, é o mesmo tom de quando uma termina e a outra começa. Com um vocal singelo e um verso tocante, “Always More” mostra todo o alcance e interpretação que Fabio Lione pode dar a uma canção. É uma balada que com certeza tem a cara da banda.

ØMNI – Silence Inside“, assim como “Upper Levels“, é uma filha legítima de “The Shadow Hunter“, é inegável o parentesco. Desde o timbre do violão dedilhando, do baixo acústico, das percussões, da agressividade, dos vocais mais médios e graves. A música mais longa do disco, contando também com a participação dos vocais de Rafael. É mais uma magnum opus da banda, sem sombra de dúvida. Com melodias que deixam sua marca de primeira e com um clima denso. Facilmente poderia ser uma música de uma trilha de um filme, sem dúvida.

ØMNI – Infinite Nothing“, também da linhagem do “Temple Of Shadows“, é uma orquestra que junta os arranjos das músicas de todo o álbum e faz uma “tour” por tudo que você ouviu no ØMNIverse. Filha legítima de “Gate XIII

ØMNI é memorável, com todos os elementos essenciais e autênticos do metal e do próprio Angra. Com um conceito que cativa, com músicas excelente, desde a melodia até a letra. É o resultado da energia e sinergia entre os membros e até dos fãs.