Em Crime O’Clock, o tempo está cheio de objetos para encontrar

Você provavelmente já se deparou com algum jogo de encontrar objetos escondidos em um grande mapa cheio de detalhes, como aqueles da Revista Recreio, ou quando te perguntavam onde raios estava o Wally. Muita gente acha eles divertidos, claro, mas talvez você faça parte do grupo de pessoas que acha a tarefa de procurar pequenos objetos arbitrários bem frustrante. Se for o caso (ou se você gostar muito de viagem no tempo), Crime O’Clock é a segunda chance que você pode dar a esse tipo de mecânica.

Logo ao iniciar o jogo, você recebe uma importante missão: ajudar a inteligência artificial EVE a encontrar mudanças inadequadas no tempo e no espaço para preservar a Linha do Tempo Verdadeira. Elas estão sendo causadas por cinco IAs rebeldes, que estão dispostas a fazer pequenas mudanças que vão repercutir em grandes consequências conforme o tempo passa. Não é exatamente a nossa linha do tempo do mundo real — animais antropomorfizados convivem com a humanidade e Atlântida existiu — mas é fácil ver as semelhanças e referências.

Crime O'Clock

Essa trama, contada apenas pelos cenários e diálogos entre as IAs com você, tem tudo o que uma boa história de viagem no tempo precisa ter. Paradoxos, mudanças no tempo, Eventos Nexus, anomalias… Ela também é uma boa oportunidade pra discutir sobre como pequenas ações podem mudar a vida de alguém (e de toda uma espécie), desde que você deixe o tempo agir por quanto for necessário. Como um bom fã de Doctor Who, eu não poderia ter gostado menos da trama de Crime O’Clock, mas se não é tanto a sua praia, boa parte da graça do título talvez não tenha muito apelo pra você.

A outra parte da graça do jogo é a forma como ele usa a mecânica de objetos escondidos para contar essa história de detetives temporais. Cada “fase” é um caso que deve ser resolvido, em uma das Eras disponíveis. Ao invés da fase ter um mapa “fixo”, ele tem dez variações chamadas de “tiques”, capturas temporais de como aquele lugar estava em dez momentos sequenciais no tempo. Assim, seguindo as instruções de EVE, seu objetivo é ir acompanhando suspeitos, vítimas, objetos e as ações das IAs rebeldes pelo tempo, tique a tique. É uma proposta bem parecida com o jogo de tabuleiro MicroMacro: A Cidade do Crime, lançado em 2021 aqui no Brasil, com a possibilidade da viagem temporal que só um jogo digital poderia proporcionar.

Crime O'Clock

Diferente de outros jogos de objetos escondidos, tudo que você está procurando tem alguma dica ou propósito, mesmo nos momentos mais abstratos da trama (e ainda tem um sistema de quente-ou-frio para ajudar quando necessário). A grande diferença é que você sempre tem UM objeto pra achar por vez e nada mais. É uma experiência bem mais linear e focada na história e no contexto de cada caso. Cada objeto vai sendo marcado com fotografias e anotações no mapa da fase, como um grande quadro de investigação que vai aumentando conforme a fase se desenrola.

Se você se frustrava ao ficar relembrando quais os 20 objetos que tinha que achar em outros jogos do tipo, talvez fique bem feliz com a redução da carga cognitiva do jogo. Se você gostava, provavelmente vai achar bem mais sem graça essa nova proposta. Ele ainda tem missões secundárias em cada Era, permitindo que você siga de forma mais livre as histórias de outros personagens menos importantes — numa pegada bem mais parecida com Onde Está Wally? — mas todo o modo principal é focado nessa proposta mais linear.

Crime O'Clock

Particularmente, eu me diverti bastante, principalmente por estar engajado na história que estava sendo contada em cada caso. Cada nova aparição de uma IA rebelde, cada personagem que reaparecia em um novo problema, e poder segui-los no mapa e reconstruir seus passos era bem mais divertido do que parecia. Dito isso, eu sinto que o jogo poderia ser um pouco menor: são aproximadamente 45 casos, seguindo fórmulas bem parecidas, o que pode cansar caso você decida jogar muitos em uma única sessão.

Outro motivo para esse sentimento de repetição são os “minigames”, que representam as ferramentas de EVE, como análises químicas de substâncias, ou, literalmente, sua capacidade de hackear objetos tecnológicos. Não que eles não funcionem, mas quando você joga o mesmo jogo da memória pela vigésima vez, definitivamente dá uma cansada. Menos desses momentos (ou mais variedade) poderiam ajudá-lo a ter um ritmo com mais fluidez e tornar a campanha menos cansativa a longo prazo.

Eu sei que é estranho introduzir o jogo dessa maneira, mas Crime O’Clock é um jogo de objetos escondidos para quem se frustrava com todos os outros de objetos escondidos que já existiam. Não que você vá gostar do que ele está propondo mecanicamente, mas definitivamente é uma forma diferente de ver esse tipo de puzzle, que, pra mim, funcionou muito bem. Principalmente se considerar toda a viagem no tempo que justifica não só essa nova abordagem como uma bonita história sobre o que há de melhor e pior na humanidade. Se você acha que está a fim desta missão, a Linha do Tempo Verdadeira precisa da sua ajuda.

Crime O’Clock está disponível para Nintendo Switch e será lançado para PC e Mac na Steam no dia 21 de julho. O jogo está disponível em português do Brasil.

*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.