Às vezes, a premissa de um filme ou série chama mais atenção do que o próprio conteúdo. Podemos exemplificar essa afirmação com séries como Lovesick e Eu, Tu, Ela, exclusivas da Netflix no Brasil. A primeira trata de um rapaz com alguma DST, que precisa dessa forma procurar todas as amantes que já teve na vida. A segunda, de um casal se relacionando com uma terceira pessoa. O resultado é, nas duas hipóteses, séries legais de acompanhar, mas que poderiam ter sido muito mais. Crashing sofre da mesma coisa.
A trama de Crashing se passa em Londres, mais especificamente num hospital abandonado. Os moradores do local pagam o aluguel através de contratos para serem “guardiões” do local, mas com o constante risco de despejo, afinal, o local é um hospital. É lá que vive Anthony (Damien Molony) e Kate (Louise Ford), um casal aparentemente bem resolvido até a chegada de Lulu (Phoebe Waller-Bridge), melhor amiga de Anthony que busca novos ares, passando assim a morar no hospital também.
A força da série também passa pela relação dos coadjuvantes. Sam (Jonathan Bailey) é apresentado como o típico hétero babaca e pegador, que vai mudando aos poucos sua postura desde a festa em sua homenagem logo no primeiro episódio, onde constrói vínculo com Fred (Amit Shah), um homem gay. O principal caso da trama, que é a relação entre Anthony e Lulu, se torna interessante mais pela qualidade de Phoebe Waller-Bridge (também criadora da série) do que pela originalidade do roteiro.
A premissa do hospital abandonado é até interessante, mas poderia ser mais explorada. O elenco é muito enxuto para um cenário que apresenta tanto espaço, e não há uma apresentação muito convincente das dificuldades financeiras pela qual passam os personagens. Há algum contraste social em momentos pontuais (como na arrogância do namorado de Fred), mas nada que fortaleça a ideia de que o hospital seja um refúgio necessário a essas pessoas, se levarmos em conta o real contexto de que Londres possui um dos maiores custos imobiliários por metro quadrado no mundo.
Além disso, há algumas sacadas espertas como o vômito na panela do restaurante, e a imprevisibilidade de lâmpadas e prateleiras do hospital, que podem cair a qualquer momento. Crashing é mais uma da lista de séries descompromissadas que vemos facilmente em um dia, até por que são apenas seis episódios com vinte e poucos minutos cada.