A nova minissérie histórica da Netflix, Como um Relâmpago (Death by Lightning), revive uma das histórias políticas mais esquecidas dos Estados Unidos: o assassinato do presidente James A. Garfield, o 20º ocupante da Casa Branca. Criada por Mike Makowsky (Bad Education) e produzida por David Benioff e D.B. Weiss (Game of Thrones), a produção em quatro episódios adapta o livro Destiny of the Republic, de Candice Millard, transformando o episódio trágico de 1881 em uma reflexão sobre poder, ambição e loucura. Confira a crítica da série:
A trama de Como um Relâmpago e sua construção histórica
A série começa de forma inusitada em 1969, quando um frasco com um cérebro humano cai no chão de um museu militar. O órgão pertence a Charles J. Guiteau (Matthew Macfadyen), o homem que assassinou Garfield (Michael Shannon). A partir daí, a narrativa volta a 1880 para reconstruir os caminhos que levaram os dois homens — um político reformista e um delírio ambulante — a se cruzarem em uma estação de trem, em um dos eventos mais impactantes da política americana.
Garfield é apresentado como um congressista de Ohio relutante em disputar a presidência. Durante a Convenção Nacional Republicana, seu discurso improvisado o leva inesperadamente à indicação. Ao lado de sua esposa Lucretia (Betty Gilpin) e do vice Chester Arthur (Nick Offerman), ele tenta governar em meio à corrupção e às disputas internas de poder. Paralelamente, Guiteau surge como um personagem obcecado e errático, convencido de que teve papel fundamental na ascensão de Garfield e merecia recompensas por isso.
Um estudo de contrastes
Com direção de Matt Ross e fotografia de Adriano Goldman, Como um Relâmpago adota uma narrativa linear, pontuada por flashbacks que aprofundam o estado mental de Guiteau e a visão idealista de Garfield. O contraste entre os dois é o núcleo dramático da minissérie: de um lado, o homem que tenta reformar um sistema político corrompido; do outro, aquele que acredita que a violência é um caminho para o reconhecimento.
Macfadyen interpreta Guiteau com uma mistura de arrogância e desespero, revelando um homem que flutua entre o delírio e a manipulação. Já Shannon confere a Garfield uma presença serena, retratando-o como alguém que não buscou o poder, mas que, uma vez nele, quis usá-lo para promover igualdade racial e moralizar o governo. O roteiro enfatiza esse contraste sem recorrer à dramatização excessiva, mantendo o foco no aspecto humano e histórico dos acontecimentos.
A crítica social e política por trás do drama
Como um Relâmpago não é apenas um retrato de época. Ao revisitar os Estados Unidos do século XIX, a série traça paralelos com o presente, expondo como o poder e a ambição continuam a corroer instituições. O retrato de um país ainda marcado pela escravidão, racismo e corrupção política soa atual, sugerindo que as tensões que moldaram a república americana continuam a ecoar mais de um século depois.

Crítica da série Como um Relâmpago
Um retrato trágico e humano na Netflix
Apesar de seu ritmo contemplativo, a minissérie se mantém envolvente por meio das atuações e da atenção aos detalhes históricos. A ascensão e a queda de Garfield são mostradas com sobriedade, sem sensacionalismo, destacando as ironias de uma nação em construção. Ao mesmo tempo, Guiteau é apresentado não apenas como vilão, mas como um sintoma de um país em crise moral.
Em seus quatro episódios, Como um Relâmpago oferece um olhar lúcido sobre um capítulo esquecido da história americana, equilibrando rigor histórico e tensão dramática. A minissérie retrata um presidente que poderia ter transformado os Estados Unidos e um homem que acreditava poder mudar o destino por meio de um ato insano. O resultado é uma reflexão sobre poder, loucura e legado — e sobre como a história tende a se repetir.