Eis que, quase dez anos após de conhecermos as aventuras da dupla Soluço e Banguela, chega ao fim a franquia Como Treinar seu Dragão. A nova (e última) história acontece cerca de um ano após os fatos do segundo filme. Soluço já lidera Berk e tem uma campanha de resgate de dragões, realizando-a junto com seus amigos e contando com a ajuda de sua mãe, Valka. É nesse contexto que eles descobrem que um perigoso caçador de dragões, especializado em matar Fúrias da Noite, está atrás de Banguela. Para proteger não apenas a vida do seu amigo, como também as dos dragões que Berk abriga, Soluço e os vikings partem em busca de uma nova terra que ouviram falar apenas através das lendas.
CRESCER, CRESCER, CRESCER
Uma das coisas que mais considerei enquanto assistia ao filme foi o tempo – não apenas o da história, mas também o do espectador. A criança que assistiu ao primeiro Como Treinar seu Dragão já abandonou a infância tal como o Soluço, e essa é uma coisa que vai pesar na experiência daqueles que foram o público-alvo da primeira produção. Não que os mais novos não possam se emocionar ou curtir a sequência, assim como os que têm mais idade, porém me pareceu um filme com ainda mais impacto para aquele fã que, assim como o protagonista, está dando seus primeiros passos em direção à vida adulta – e não é uma jornada fácil.
É essa ideia central que o filme vai desenvolver – muito mais do que a ameaça do novo vilão e tudo que isso ocasiona. Se no anterior vimos que Soluço se tornou o novo líder de Berk, assim como Banguela assumiu o posto de alfa dos dragões, agora é hora de vê-los trabalhando dentro de suas novas posições. Como qualquer marinheiro de primeira viagem, Soluço cometerá erros e estratégias furadas que vão empurrá-lo para situações perigosas. É muita coisa – e responsabilidade – para uma pessoa tão jovem, que terá seus momentos de duvidar de si mesmo e se perguntar se está fazendo o melhor para a sua comunidade. Quem não se sentiu assim quando a vida adulta começou a cobrar o seu preço?
Também é hora de vermos Banguela crescendo ao arranjar uma namorada pela primeira vez. Dentro desse contexto, a relação entre o dragão e seu dono também muda. Se desde o início existe uma relação de amizade sincera e companheirismo, aqui também há um sentimento paternal por parte de Soluço, que tenta ajudar o amigo a conquistar a sua crush e fica preocupado com os rumos que aquele relacionamento tomará. Soluço, como um pai calejado, sabe bem o que arranjar uma parceira significa. E, com todo esse panorama, é fácil entender que direção o filme tomará.
PICOS E RASANTES
Se no geral fiquei satisfeita com todos os rumos que a produção traçou para o desfecho, houve pontos que me incomodaram. Um deles foi a participação de Astrid, que ganhou mais espaço como o anjo bom ao ouvido do Soluço do que como a guerreira viking que vimos nos filmes anteriores. Até consigo entender os motivos pelos quais a colocaram nessa posição, porém é um arquétipo bastante saturado nas histórias em que temos um protagonista homem cheio de dúvidas e desafios e há uma mulher como sua companheira. Outra coisa que me desagradou foi a necessidade exagerada de aprovação de Melequento por Valka. Os pequenos provavelmente não vão pegar a dubiedade dessa relação, mas ela é perceptível a um olhar mais atento e incomoda.
É importante falar que o roteiro do filme é previsível. Todos os trailers lançados (seria uma moda geral dos trailers?) jogam na cara do espectador o que se deve esperar da nova história, e juntar dois mais dois para adivinhar o final não é difícil.
MAS ISSO É RUIM?
De forma alguma. O que importa, no fim das contas, é o caminho que ela segue. Mesmo que o espectador saiba o que acontecerá, isso não estraga a experiência porque o final é justo, bonito e merecido. Não foi à toa que escutei tantos fungados no cinema.
O que me preocupa, talvez, é a possibilidade de o estúdio observar a generosa cifra que a
série rendeu e querer, mesmo sem necessidade, enfiar um ou dois filmes a mais na história. Sabemos que isso aconteceu com outras animações de finais igualmente fechados (oi, Toy Story e Shrek, estou olhando para vocês). Espero que não se repita com Como Treinar o seu Dragão porque, caso aconteça, tenho minhas sinceras dúvidas de que a qualidade do enredo se mantenha.
E AÍ? GOSTOU?
Diferente de muitas pessoas que assistiram ao filme comigo, não dei uma chorada gostosa no cinema. Porém, saí com o coração aquecido e a alma satisfeita, o que para mim valeu muito. A despedida foi agridoce, assim como é crescer. Nunca é fácil dizer adeus e seguir em frente, mas vale a pena quando olhamos para a jornada como um todo.