Como “A Caminho Da Lua” fala sobre o enfrentamento da perda?

A animação A Caminho Da Lua estreou outubro na Netflix e conta a história de Fei Fei (Cathy Ang), uma jovem menina que, influenciada por histórias de sua infância, resolve construir uma nave espacial para encontrar a deusa Chang’e (Phillipa Soo) na lua. Mas não se enganem, a história está para além de uma simples aventura. Na verdade, esse filme traz personagens com profundidades, extremamente reais em seus sofrimentos.

O barato das animações é que elas são um belo meio para apontar todas as variantes da vida e até o enfrentamento das dores humanas (alô, Rei Leão!). Mas o milagre dos desenhos é que eles não pegam apenas às crianças, mas também os adultos. Com colorações e musicais, esses filmes apontam o repentino e a desgraça, revelam a lástima e as superações, bem na nossa cara.

A Caminho Da Lua faz uma passagem muito significativa da negação da perda e a reinvenção da dor. Quando se perde um ente querido é possível que surja manifestações e reações variadas em cada pessoa. Questionamentos da existência e negação, por exemplo, são pensamentos presentes em nossas vidas. Fei Fei, em todo o filme, passa por diversas fases do luto. Esta é uma das simbologias que nos fazem se identificar tanto com essas histórias, pois encontramos nelas um pouco de nós.

 

Mas não é só Fei Fei que se encontra nesse processo de conflitos. A deusa Chang’e faz do luto e da depressão um impressionante espetáculo de luzes, músicas e cores. O que erroneamente entendemos como oposto da depressão, não é? Afinal, como pode uma Super Popstar como ela ser depressiva? Aí, meus caros leitores, é que tá o engano. Nem sempre as pessoas acometidas por esse transtorno estão deitadas no fundo de uma rede, sem contato com o mundo. As reações são diversas, o que inclui a forma dessa pessoa experimentar seu sofrimento.

 

Essas diferenças de confrontos estão muito bem representadas pelas duas personagens, que em um momento do filme compartilham suas perdas e seus vazios. E isso é muito emblemático. É uma das maiores passagens dessa história. Quando falamos sobre luto, as redes de apoio são fundamentais para um enfrentamento de qualidade, possibilitando uma vivência desses sentimentos de forma genuína e autêntica.

As dores devem ser vivenciadas. Elas partem de nós e não devem ser negligenciadas. Escutem o que vocês têm para falar nessas fases e se entendam como sujeitos capazes de sentir o que precisam sentir nas situações mostradas a vocês. E se uma animação é capaz de nos trazer essa reflexão profunda sobre nossas existências, então elas sempre serão bem-vindas.