O texto a seguir contém SPOILERS de Cidades de Papel. Se você ainda não viu, junte seus melhores amigos e embarque nessa viagem sobre a vida e suas descobertas.
John Green já é um nome consolidado no universo literário. Emplacando best-seller atrás de best-seller, o escritor é nome certo na lista de favoritos da atual geração. Buscando consolidação também nos cinemas, ele é testemunha de mais uma adaptação de sua obra. Cidades de Papel é mais vivo e inventivo do que A Culpa é das Estrelas. E talvez por isso consiga agradar fãs e forasteiros desavisados.
Não li nenhum livro de John e isso inclui o próprio Cidades de Papel. Por isso comentarei aqui como um mero espectador. Não é justo comparar o lançamento com seu predecessor A Culpa é das Estrelas. Se o último filme enfrentou uma barreira para cair no gosto dos não “iniciados”, esse conversa muito mais com o público geral. É muito mais vivo (sem trocadilhos macabros) e divertido. É um amor adolescente em alguns momentos, mas salvo algumas extrapolações, é bem mais pé no chão.
Logo de cara somos apresentados a Quentin ( Nat Wolff) e sua amiga de infância/amor da vida Margo (Cara Delevingne). Passando rápido pela infância dos dois, vemos Q nutrindo o típico romance não correspondido. Ele planejou a vida como a maioria das pessoas fazem. Colégio, Faculdade, emprego, esposa e filhos até os 30 anos de idade. Já ela levou a vida de acordo com o que sempre chamou sua atenção: mistérios. E de tanto mergulhar de cabeça em pistas e enigmas, Margo acabou se tornando um grande mistério.
Quentin representa, ao lado de seus melhores amigos Radar ((Justice Smith) e Ben (Austin Abrams), a figura do adolescente que sempre questiona se valeu a pena tantos sacrifícios em prol de um futuro garantido. Sentir falta de coisas que nunca fez é tão comum quanto notas altas nas provas. Já Margo é a encarnação da liberdade e vivacidade que costumam atribuir à essa fase da vida. E quando seus caminhos não poderiam estar mais distantes, a vida apronta das suas e une os amigos novamente. Depois de ter possivelmente a melhor noite de sua vida ao lado da amada amiga, Quentin acredita que tudo será diferente. Mas Margo não é simples de se ler, é como aquela última peça que some no momento em que você vai completar o quebra-cabeças.
Depois de ver o amor da sua vida escapando de suas mãos mais uma vez, ele decide juntar seus fiéis companheiros e partir numa jornada em busca do que ele acredita merecer. E esse é o pulo do gato do filme. É o momento em que tudo que tem que funcionar entra em ação. Nat Wolff funciona bem como protagonista e torna fácil que compremos suas motivações, até porquê é possível se colocar na pele de seu personagem. E o elenco de apoio não falha quando é exigido. Desse modo temos uma base forte para encarar o filme. Os olhos nerds se voltam para Cara Delevingne, que viverá a Magia em Esquadrão Suicida. Em seu primeiro papel de destaque no cinema, a bela modelo não compromete. Mesmo não sendo uma excelente atriz, ela consegue impor sua presença de forma delicada. Agora é esperar para ver como ela estará no vindouro filme da DC Comics.
Cidades de Papel começa como uma obra com o selo de John Green. Mas vai se tornando surpreendentemente diferente, cativante. Se o livro funciona na telona é mérito da dupla de roteiristas Michael H. Weber e Scott Neustader. Veteranos vindos de A Culpa é das Estrelas, eles já entendem a essência das obras de John e fazem um trabalho muito melhor aqui. Isso pode ser atribuído a uma qualidade superior do novo material de trabalho. Se forem trabalhar juntos mais vezes, poderemos estar assistindo ao nascimento de uma parceria pra lá de interessante.
Quando sua mente consegue entender a real mensagem do longa é que a diversão começa de verdade. Cidades de Papel é na real um filme sobre descobertas. Quando assume o manto de road movie, a mensagem fica ainda mais clara. Quentin parte em busca do amor distante, mas tudo que ele encontra é o que já estava ao seu redor e não conseguia perceber. E assim também é a nossa vida em certos momentos, principalmente na juventude. Achamos que queremos tudo, sempre sentindo que não temos nada. Mas quando olhamos para as coisas pequenas, percebemos que existe algo perfeito em meio à pessoas e casas de papel.
Com algumas referências bacanas da cultura pop (de Game of Thrones passando pela excelente cena de Pokémon), Cidades de Papel é divertido, cativante e intrigante. E vale a pena seguir esse conselho: não deixe de viver nem um segundo sequer. Nunca faça algo pela última vez, porque não existe nada mais apaixonante do que uma novidade.