Em tempos de Master Chef e restaurantes vendendo miojo gourmet em cada esquina, é natural que exista uma enorme má vontade de boa parte da sociedade quando é assunto é alta gastronomia. Porções mínimas de comida que agradam os olhos, mas parecem não satisfazer o estômago, além do valor elevado. Quem trocaria um PF ao lado da firma na hora do almoço por algo assim? Mas, após assistir as três temporadas de Chef’s Table, aprendi que existe muito mais por trás dessa prática.
O amor que sua avó coloca no almoço em família de domingo também está presente em todos os pratos chiques. Em 18 episódios, Chef’s Table nos guia em uma viagem poética, reveladora e bastante humana. É a desconstrução (a palavra do momento) de uma imagem cercada de esteriótipos. É como transformar a comida, e o ato de cozinhar, em algo quase espiritual.
Sim, o foco está em chefs renomados. A maioria com estrelas no renomado Guia Michelin ou bem posicionados no ranking dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo. Mas aqui eles não estão se exibindo, como em um reality show de egos. É uma oportunidade para contarem suas histórias, muitas vezes saindo de lugar nenhum até alcançar o sucesso.
Passeando pelos mais variados cantos da Terra, Chef’s Table nos presenteia com relatos de pessoas completamente diferentes, que traçaram caminhos diferentes, mas que possuem a mesma paixão: cozinhar. Especialmente nessa terceira temporada, vemos temas como conservadorismo, resgate de tradições, a coragem de romper barreiras, espiritualismo e etc. Um prato cheio de diversidade.
Temos nomes como o russo Vladimir Mukhin e o peruano Virgilio Martinez, que buscam mostrar ao mundo a qualidade da culinária de seus países, geralmente explorando a história e a terra ao redor. O americano Ivan Orkin, que transformou-se no rei do lámen no Japão. A freira budista Jeong Kwan, que longe das grandes cozinhas, fisgou vários chefs famosos.
O alemão Tim Raue, que fugiu de uma infância violenta para colocar Berlin na lista de destinos culinários da Europa. E ainda Nancy Silverton, renomada no mundo das massas. Todos com histórias variadas, que descobriram o amor pela culinária em momentos distintos.
Criada por David Gelb (do também excelente O Sushi dos Sonhos de Jiro), Chef’s Table tem aspecto técnico impressionante. Uma fotografia belíssima, que destaca tudo que cerca cada história. Além de uma trilha sonora que confere um ar épico para cada episódio. É uma experiência completa.
Chef’s Table não é uma simples série sobre comida. É algo que brinca com os sentidos do espectador, focada nas histórias por trás de pratos bonitos. Provavelmente não vai te fazer trocar aquele churrasco antes do futebol, mas pode te mostrar várias culturas diferentes e como elas encaram a arte de cozinhar.
Dentre as inúmeras produções originais da Netflix que surgem todos os dias, Chef’s Table ainda é uma das melhores. Uma joia que merece toda a atenção desse mundo.