Quando os créditos de “Um filho por um Filho“, primeiro episódio desse segundo ano de A Casa do Dragão subiram, ficava no ar a esperança de que finalmente a série abriria mão das promessas e colocaria seus personagens de fato no meio da Dança dos Dragões. Parecia o caminho mais lógico tendo em vista que a primeira temporada preparou o terreno para a sanguinária guerra civil da Casa Targaryen. Porém, “A Rainha que Sempre Foi” soa como mais um episódio que serve apenas para movimentar as peças no tabuleiro desse jogo de interesses. Após 18 episódios, “A Casa do Dragão” caminha em círculos.
Nem mesmo o aguardado momento batizado de “Queijo & Sangue” no livro base rendeu o resultado esperado. Parece que nenhum personagem dessa série toma atitudes por vontade própria. Aemond (Ewan Mitchell) matou Luke Velaryon (Elliot Grihault) sem querer. Assim como Daemon (Matt Smith) afirma que o plano que resultou no assassinato do filho mais novo de Aegon (Tom Glynn-Carney) foi um mal entendido. E quando algum personagem toma uma atitude drástica, o texto nunca consegue se aprofundar em suas motivações. Já na segunda temporada, o showrunner Ryan J. Condal sofre da mesma maldição que David Benioff e D.B. Weiss enfrentaram quando trabalharam em Game of Thrones: preencher lacunas dos livros e construir uma narrativa sólida para uma série de TV.
Quando o roteiro é falho, os personagens acabam pagando o preço. Rhaenyra (Emma D’Arcy) passa boa parte da temporada presa em seu pensamento de evitar um derramamento de sangue desnecessário. Não importa quantas tragédias recaiam sobre ela, seu arco se desenvolve de maneira lenta e diria até pouco lógica. Isso se reflete na ideia desesperada de se infiltrar em Porto Real para negociar a paz com Alicent (Olivia Cooke), apenas para perceber que sua antiga amiga está completamente impotente nesse conflito. Quando a situação se inverte no último episódio e Alicent procura Rhaenyra em Pedra do Dragão, finalmente percebemos que ela está consciente do que deve fazer. Antes tarde do que mais tarde.
Mas ninguém representa melhor o caminho tortuoso dessa temporada do que Daemon. Partindo para Harrenhal em busca de alimentar seu ego, o rei consorte ficou preso num ciclo de alucinações no antigo castelo. A ideia era clara: fazer com que ele entendesse o peso da coroa e percebesse que esse fardo não estava em seu destino. Mas a execução foi o ponto mais baixo de “A Casa do Dragão” até o momento. Esse arco praticamente original do personagem resulta numa simples constatação: ele deve lutar ao lado de Rhaenyra. Mas era necessário investir toda a temporada para alcançar esse resultado?
É fato que “A Casa do Dragão” brilha quando abraça sua vertente mais novelesca, com dramas familiares e tramas palacianas. Isso dá mais destaque para os momentos de ação, que são os que mais agradam o público de maneira geral. O texto irregular e o desenvolvimento pobre de boa parte dos núcleos passou a exigir mais sequências grandiosas que a série não estava disposta a entregar (ou não podia entregar de alguma forma). “O Dragão Vermelho e o Dourado” parecia o momento perfeito para afastar a sombra da desconfiança que pairava sobre a produção. E novamente promessas ficaram apenas no papel. Não entenda mal, nem tudo precisa girar em torno de batalhas. Quando bem elaborados, os momentos de estratégia e calmaria são o ponto alto da trama. Mas nem tudo funcionou da forma imaginada pelos roteiristas.
A pior ideia de todas foi aproximar a narrativa cada vez mais de “Game of Thrones”. Do ponto de vista da audiência e engajamento isso funciona. Basta acompanhar os memes e reações espalhados pela internet. Mas isso tira a identidade da série e a torna apenas mais um palco para o fanservice desmedido do espectador. Um tempo sagrado que poderia ser utilizado para trabalhar melhor outros núcleos que carecem de profundidade.
Entre altos e vários baixos, a segunda temporada de “A Casa do Dragão” chegou ao fim. Mais do que nunca, a série não tem mais tempo a perder. Não importa quantas peças ainda existam nesse tabuleiro, o jogo precisa começar antes que o público se canse de esperar. E não existe nada mais triste do que uma partida sem espectadores.