A casa caiu para a indústria de games: Sindicato dos Atores entra em greve

A indústria dos vídeo games vai muito bem, obrigado. São bilhões de dólares movimentados com lançamentos de novos jogos, eventos cada vez mais populares, novos consoles e etc. Apesar de alguns tropeços nos últimos anos, ainda é um crescimento sem precedentes. Mas apesar de gerar toda essa grana, a divisão desses lucros não é lá das mais justas. E tem gente que não está nenhum pouco feliz com isso.

Assim como os roteiristas entraram em greve e pararam Hollywood em 2007, os atores que trabalham na dublagem e captura de movimentos em games resolveram lutar por seus direitos e melhores condições na profissão. O anúncio foi feito pelo SAG-AFTRA (Screen Actors Guild, também conhecido como Sindicato dos Atores em PT-BR, junto com a Associação Americana de Artistas de Rádio e TV), que já havia sinalizado a intenção da greve alguns dias atrás, caso as empresas não oferecessem um acordo decente.

“Depois de vários meses barganhando com os empregadores, nós não chegamos a um acordo justo para os membros do SAG-AFTRA que trabalham em vídeo games, muitas vezes os mais populares do mundo”, afirmou a presidente do Screen Actors Guild‐American Federation of Television and Radio Artists, Gabrielle Carteris. E apesar de estarmos na reta final de 2016, a greve afeta boa parte dos games que entraram em produção depois de 17 de fevereiro do ano passado. Afinal, quanto mais sofisticado é um jogo, mais tempo ele leva para ser desenvolvido e lançado. E muitos atores estão envolvidos nesse processo.

Os membros do SAG-AFTRA ameaçam fazer piquetes em frente à Eletronic Arts. Empresas como Activision Blizzard, Take Two, Disney e Warner Bros. também estão na lista de “alvos”. Acontece que essa confusão não é recente, já que informações divulgadas apontam que o sindicato e as empresas – por meio de advogados – estão em negociação nos últimos 18 meses. E apesar de todo esse tempo, as grandes empresas não engoliram bem essa história de greve. Elas alegam que esperavam que os líderes do sindicato levassem as propostas para serem analisadas pelos membros, mas que isso não ocorreu.

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O que o SAG-AFTRA busca não é algo de outro mundo. Entre os pedidos estava um sistema de remuneração onde os atores receberiam pagamentos residuais baseados no sucesso comercial de um game. Também visavam melhores condições de segurança durante a dublagem e captura de movimentos. Um sistema de bônus também foi proposto, onde os atores receberiam pagamentos adicionais para cada 2 milhões de cópias ou downloads vendidos – ou assinantes exclusivos para games online. Tal prática é bastante comum em Hollywood, onde os atores renomados recebem parte do lucro das grandes produções em que atuam.

Acontece que o pedido foi negado pelas grandes empresas, que alegam que a indústria é fundamentalmente diferente de Hollywood e que esse sistema não seria viável. Bem, por falta de dinheiro é que não é. No atual cenário, a indústria dos games aplica multas gigantescas nos contratos dos atores, caso eles se atrasem ou se desliguem da produção. Agentes também podem ser punidos caso seus clientes faltem testes. O problema é que o ator raramente sabe qual personagem está dublando e em qual jogo ele vai aparecer. O sigilo também é outra característica marcante.

Analisando o plano geral, a situação é bastante desfavorável para os atores. No momento, eles recebem uma boa quantia no início do trabalho e nada mais. E como é possível imaginar, nem sempre é fácil arrumar emprego nessas empresas. A ideia do SAG-AFTRA era que seus membros recebessem algum dinheiro entre um trabalho e outro, assim poderiam manter as coisas organizadas em casa até que outra oportunidade surgisse. O mínimo esperado para os profissionais do ramo.

Afinal, a maioria esmagadora desses atores é desconhecida. E assim como a polêmica de famosos dublando jogos por aqui rende uma discussão inflamada, a situação não é diferente nos EUA. Nomes conhecidos como Kevin Spacey e Ellen Page já se aventuraram por essas águas, recebendo uma quantia considerável por isso. Mas parece que um investimento na qualidade de trabalho de quem rala nisso todos os dias está fora de questão.

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Mas apesar de todo o esforço, a luta do SAG-AFTRA pode acabar silenciada. Os membros do sindicato atuam em cerca de 25% dos jogos produzidos atualmente, segundo dados fornecidos pelas empresas. Uma porcentagem bastante baixa. E claro que isso seria utilizado como alvo pelos advogados.

“Consideramos a ideia de greve precipitada, desnecessária e uma ação que só causará mal aos seus membros. SAG-AFTRA representa artistas em apenas 25% dos jogos no mercado. Qualquer greve não só vai fazer com que seus membros não trabalhem, mas também dar a seus competidores uma vantagem enquanto qualquer greve estiver acontecendo”, é o que afirma o comunicado oficial, assinado por Scott J. Witlin, do escritório de advocacia Barnes & Thornburg LLP.

Nos EUA, apenas atores sindicalizados podem trabalhar em filmes e séries. Na parte dos games isso não é regra. As empresas preferem escolher profissionais que não possuem ligação com sindicatos, facilitando assim a manutenção do regime atual. Para quem quer trabalhar, independente da situação, é uma chance de ouro. Mas é algo que enfraquece a luta de quem busca melhores condições.

Quem não liga muito para dublagens de games, vai seguir a vida normalmente. Mas seria interessante se todos os fãs abrissem os olhos para essa situação. Tem gente batalhando muito para garantir sua diversão 😉

Fonte: Los Angeles Times