Primeira temporada de Carta ao Rei é apressada, mal executada e sem alma.
Independente do final horrendo, é inegável que Game of Thrones deixou um vácuo no mundo das séries. Especialmente quando o tema é aventura no clássico aspecto medieval. Não chega a ser surpresa, portanto, que vira e mexe alguma produção busque preencher esse vazio. The Witcher se candidatou, com todo o marketing da Netflix, mas ainda não chegou lá. Curiosamente, o serviço de streaming lançou outra atração que surfa nesse estilo. Porém, Carta ao Rei é algo no mínimo risível.
Baseada no livro escrito pela holandesa Tonke Dragt, a trama de Carta ao Rei não é das mais originais. Logo no primeiro episódio, conhecemos a profecia que permeia a história: o mundo será coberto por uma grande escuridão, que só será derrota pela luz de um jovem herói. É desse ponto que conhecemos Tiuri (Amir Wilson), jovem de classe alta que está prestes a participar de um torneio para tornar-se um cavaleiro. Durante o processo, ele acaba envolvido em uma intriga política e assume a missão de entregar uma carta ao rei de Unawen, reino vizinho à Dagonaut, onde ele vive com a mãe e o padrasto.
Todo o desenvolvimento da história e dos seus personagens é apressado, dando pouco espaço para que o espectador consiga situar-se nesse novo mundo e aprender sobre aqueles que o habitam. O peso de ser os olhos do público acaba caindo nos ombros do protagonista, que mais sofre com os equívocos narrativos. Apesar de seu forte senso de justiça, como todo grande herói medieval, chega a ser estranho que sua falta de habilidade e maturidade o façam chegar tão longe. Conveniências de roteiro sempre existem, mas aqui marcam uma presença massiva.
Isso acaba refletindo nos personagens secundários, que como um amontoado de clichês, pouco tem a dizer. Quem ainda consegue um certo destaque é Lavínia (Ruby Ashbourne Serkis, filha de Andy Serkis, que tem uma pequena participação). Ainda que seu temperamento a torne insuportável em determinados momentos. O grupo de jovens cavaleiros que partem atrás de Tiuri funciona, em partes, como alívio cômico. E alcançam certo sucesso nesse quesito.
Carta ao Rei falha até mesmo em desenvolver suas principais ameaças. Os Cavaleiros Vermelhos, apontados como os mais terríveis do reino, não conseguem capturar de forma eficaz um grupo de adolescentes. O príncipe Viridian (Gijs Blom), principal antagonista da trama, pouco faz em cena. Suas participações se resumem a fazer caras e bocas e discursos vazios. E o esperado confronto contra o herói profético não possui nenhuma emoção latente.
Nos aspectos técnicos, Carta ao Rei também não impressiona. Com exceção de algumas locações extremamente bonitas, todo o resto parece ter sido feito com o orçamento no limite. O que fica claro nas cenas em que o CGI precisa trabalhar.
Talvez esteja cobrando demais de um produto voltado para o público infantojuvenil, porém, existem vários outros exemplos de produções desse nicho que possuem uma qualidade muito maior. Em suma, a primeira temporada de Carta ao Rei é rasa e sem voz. Poderia ter pelo menos uma música grudenta sobre bruxos e moedas…