Crítica | Capitão Feio – Identidade, de Magno e Marcelo Costa

Graphic MSP lançada em 2017, Capitão Feio – Identidade mostra o mais icônico vilão da Turma da Mônica numa história recheada de referências

A ideia de colocar vilões no protagonismo das histórias em quadrinhos não é nenhuma novidade. Coringa, Loki, Lex Luthor e Magneto são alguns exemplos fáceis que vêm à memória, só para citar alguns do mercado mainstream internacional. Nesse sentido, nada mais coerente que termos uma abordagem semelhante com o mais famoso vilão da Turma da Mônica, cria de Mauricio de Sousa, certo?

Pois é exatamente que isso que Capitão Feio – Identidade nos traz. Os irmãos Magno e Marcelo Costa aplicam aqui uma abordagem bastante oportuna, propondo contar uma história de origem no sentido de construção da identidade do personagem, como o próprio subtítulo da graphic novel sugere. Dessa forma, você pode esperar uma estrutura narrativa certamente já vista em super heróis, mas, ao mesmo tempo, os autores usam da mitologia já estabelecida por Mauricio de Sousa. Ou seja, não vemos aqui a origem dos seus poderes.

O tema principal de Capitão Feio vai além da sujeira. Por mais que tente fazer o que é certo, ele acaba sendo rejeitado por todos à sua volta devido ao odor horrível que é exalado. Na história, isso serve muito bem como uma crítica ao modo que a sociedade lida com o assunto: ao invés de acolhermos nosso ambiente e as criaturas que o cercam, em busca de melhorias e assistência, expulsamos o lixo para longe.

E o que mais acontece com nosso protagonista é isso, levando-o ao isolamento de tudo e todos. O curioso é que os irmãos Costa dão tons de atualidade à obra, e isso pode ser observado em alguns pontos. A começar pelo lado político social, onde temos a figura política preocupada com as repercussões que a exposição de toda a sujeira pode causar. Porém, isso se destaca ainda mais com os desenhos, onde temos um acidente automobilístico causado pela distração no smartphone, assim como a materialização de um monstro gigante feito de lixo (lembra da declaração do prefeito de São Paulo, afirmando que “a cidade é um lixo vivo“?). Nesse aspecto, Identidade também acaba entregando um pouco de como é o caráter da própria sociedade.

Toda a parte visual da HQ foi trabalhada com grande esmero. Como em toda Graphic MSP, os desenhos conversam muito com a essência do protagonista e aqui há um choque interessante dos ambientes urbanos onde o Capitão Feio aparece (que são bastante limpos) e a carga impactante que o personagem traz, lançando mão também dessa inspiração para a elaboração das cenas de ação, que está com boa fluidez nas páginas, além de bem variada nos ângulos.

Capitão Feio – Identidade é uma Graphic MSP que cumpre muito bem sua proposta, conseguindo entregar algo a mais do ponto de vista autoral e artístico. Mesmo quem conhece pouco do personagem não se sentirá perdido aqui. A edição (que possui versão mais e menos cara) traz ainda um prefácio do próprio Mauricio de Sousa, curiosidades e esboços da obra e um nostálgico guia das referências usadas.