Guillermo del Toro empresta sua magia para a Netflix
O que se pode esperar da mistura entre Guillermo del Toro e Netflix? Nada menos que algo mágico. Em meio ao numeroso catálogo do serviço de streaming, cada vez mais recheado de produções originais, Caçadores de Trolls pode passar despercebido. Mas esse é um erro enorme, pelo menos para quem é fã de boas animações.
Baseada no livro escrito por del Toro e Daniel Kraus (Scowler, Rotters), a animação mostra a vida de Jim, um garoto de 15 anos que é transformado em um caçador de trolls e defensor dos Trolls do bem, depois de encontrar sem querer um amuleto mágico. Enquanto luta ao lado do seu melhor amigo, Toby, e do Troll sabichão Blinky, ele precisa ao mesmo tempo conciliar os ensaios e deveres de casa da escola.
Em comparação ao material original, Caçadores de Trolls da Netflix possui algumas modificações. Além da troca de alguns personagens, o clima é bem mais leve que o apresentado no livro. Mas não significa que estamos diante de algo completamente infantilizado. A série animada possui um ótimo equilíbrio entre as faixas etárias, o que pode atingir os mais variados tipos de público.
Existem cenas de ação, momentos de tensão, mas também existe espaço para diversão. Apesar do começo lento, Caçadores de Trolls não demora para engrenar e fisgar o espectador. Com personagens carismáticos, a animação consegue distribuir bem os núcleos da vida de Jim, ainda que alguns deles inevitavelmente acabem se cruzando.
Mas o que chama a atenção é a clássica assinatura visual de Guillermo del Toro, presente na maioria de suas obras. Tudo muito colorido e lúdico, mas com características próprias. Olhos mais atentos aos últimos trabalhos do diretor podem fisgar algumas referências, especialmente de Hellboy (e não estou falando apenas de Ron Perlman na dublagem).
Apesar do excesso de episódios, 26 para ser mais exato, a primeira parte da temporada de Caçadores de Trolls não deixa a peteca cair. Claro, como toda série do tipo, existem aqueles episódios que dão uma travada na trama. Mas o final é recompensador, provando que cada situação tem sua função. E ainda deixa um gancho excelente para o futuro.
Na dublagem, além de Ron Perlman, nomes como Kelsey Grammer, Charlie Saxton, Steven Yeun e Anton Yelchin estão presentes. Aliás, esse foi um dos últimos trabalhos de Anton antes do trágico acidente que lhe tirou a vida.
Caçadores de Trolls também conta com produção da DreamWorks Animation, velha parceria da Netflix que já rendeu séries como Dragões: Corrida até o Limite (baseada em Como Treinar o seu Dragão), As Aventuras do Gato de Botas e Saúdem Todos o Rei Julien (o melhor personagem da franquia Madagascar).
Sempre se comenta que Guillermo del Toro não é um cara de muita sorte e que ainda precisa de um projeto estrondoso para que portas maiores se abram em sua carreira. Caçadores de Trolls ainda não é esse projeto, mas mostra que o mexicano é competente em qualquer gênero. Que sua magia continue a serviço da Netflix por muito tempo.