Depois do fiasco e do boicote de Caça-Fantasmas em 2016, a franquia retorna aos cinemas com uma continuação direta dos dois filmes clássicos. Dessa vez apostando muito mais no conceito e na história prévia já consolidada e eternizada na mente coletiva da cultura pop, Caça-Fantasmas: Mais Além possui apenas um título interessante e não fazendo jus a ele em nenhum momento. A narrativa aqui acontece décadas depois dos eventos de Caça-Fantasmas 2, e acompanhamos a família Spengler diante do olhar da filha mais nova, Phoebe (McKenna Grace). Após a morte do seu avô, ela, junto de sua mãe Callie (Carrie Con) e seu irmão Trevor (Finn Wolfhard), são obrigados a assumir a casa deixada de herança e lá descobrem algo que jamais imaginaram.
Jason Reitman assina a direção do novo longa e possui menos inspiração ou qualquer tentativa de realizar um trabalho bem-feito do que funcionário mau pago no fim do mês. Na maior parte do tempo isso é a predominância de tudo que compele ao trabalho do diretor na trama de um filme. Não há uma história interessante, muito menos bem desenvolvida ou que ofereça algo para atrair a atenção se não os próprios filmes clássicos, tirando o fato de alguns personagens que realmente possuem carisma e sustentam o mínimo possível dessa aventura totalmente insípida. Tendo em vista que o charme de Caça-Fantasmas de 1984 são seus personagens e a sua bela dose de comédia aliada ao sci-fi trash oitentista, espera-se que o legado mantenha aquilo que consagrou a obra, mas somos obrigados a assistir tiradas e piadas mais batidas e mais preguiçosas a cada segundo que passa.
Phoebe junto de Podcast (Logan Kim) carregam nas costas o que fica de bom nesse filme. Dois personagens extremamente carismáticos e que possuem bastante química entre si. Tudo que é colocado nas mãos da dupla em 124 minutos de projeção são funcionais e orgânico. Phoebe é dona de um ímpeto que movimenta a história e Podcast alimenta essa coragem com a única coisa de comédia que funciona no filme. É curioso observar que as piadas mais inteligentes ficam a cargo de Podcast, uma criança e a genialidade a cargo de Phoebe, ao passo que isso sustenta algo positivo ainda cai no marasmo de personagens crianças serem superdotados e resolverem tudo à base do roteiro precisa. Precisamos consertar um carro velho sem peça alguma? Precisamos aprender a atirar com um raio de prótons sozinho? Não se preocupe, temos todas as soluções.
Por um lado, temos pequenos bons personagens e do outro, pesando demais a balança, somos bombardeados de coisa alguma. Collie juntamente com Senhor Grooberson (Paul Rudd) são desprovidos de qualquer texto ou outra característica que torne relevante a presença deles em cena. Totalmente descartáveis, e você simplesmente não se importa se algo vai acontecer com eles ou não, no caso, tendo em vista a previsibilidade da história, nenhuma sensação de perigo ou tensão é gerada ou esperada. Paul Rudd é limitado a fazer ele mesmo no filme e a ser um rosto conhecido no pôster para chamar pessoas para o cinema. O mesmo fica para Trevor, personagem de Finn Wolfhard, ator que também é dono de um carisma imenso e que já tem um histórico em filmes de aventura de terror, uma série chamada Stranger Things —talvez tenha faltado esse material de pesquisa— e que é subaproveitado ao máximo, limitado a frases de efeito e a ser o motorista do carro clássico da franquia.
Com exceção dos efeitos visuais e práticos do filme, que de fato são bem legais mesmo, uma boa atualização para os padrões tecnológicos atuais, de resto, nada funciona também. Não há uma trilha sonora que evoque momento algum de tensão, romance ou aventura dentro do filme, nem que esta fosse o mais clichê possível, o fato é que não existe, é sem presença e esquecível ao ponto de que se a cena estivesse sem não faria falta. Quanto à ameaça principal da trama, ela preenche todo o bingo de vilão desinteressante e não ameaçador possível. Somado a um visual que é qualquer coisa que havia no armário do estúdio, uma maquiagem de cosplay em fim de evento e a nenhuma fala sequer, é dito que este é o apocalipse em sua forma física. Sim, que é derrotado em aproximadamente 5 minutos depois de sua aparição e da forma mais sem graça do mundo.
Quando chega no clímax da história, percebemos que Caça-Fantasmas: Mais Além nada mais se tratava de um filme homenagem a Harold Harris, que faleceu em 2014. Tratando-se disso, há um apelo emocional que, de fato, funciona e dá uma aquecida no coração, porém essa sensação é bastante mitigada pelo fato do maldito CGI. Vão saber do que estou falando quando assistirem, e se já assistiram…nossa, senhora. Ruim né, cara? E assinando o atestado de que a única coisa que sabiam que estavam fazendo era uma celebração a Harold, o filme termina abruptamente e é isso, começa música tema e sobe os créditos. Não esquecendo, claro, que fica um gancho para um segundo filme dessa nova franquia.
Caça-Fantasmas: Mais Além não passa de uma novela ruim adolescente com efeitos visuais interessantes. Possui dois bons personagens e se limita a ser uma sessão da tarde gourmetizada que fantasia sua falta de esmero com uma homenagem, fan service e uma tentativa de revitalizar uma franquia clássica goela abaixo.