“Em 2016 houve uma grande sensação de que as pessoas estavam enlouquecendo…”. É essa frase que abre o episódio piloto de BrainDead, nova série da CBS criada por Robert e Michelle King (as mentes por trás de The Good Wife). Chega a ser assustador o quanto tal frase explica perfeitamente o que vivemos hoje em dia. Uma rápida retrospectiva mental de tudo que aconteceu nesse primeiro semestre vai revelar o quanto as coisas parecem fora de ordem, ou melhor, o quanto as pessoas parecem fora de ordem. Mas BrainDead não trata de tudo que está errado no mundo, mas sim de um alvo específico: a política. Certamente você já percebeu que o cenário político no Brasil está fervendo. Manifestações, pessoas brigando pelos motivos mais ridículos e políticos tirando onda de tudo isso. Acontece que essa loucura não é uma exclusividade brasileira e no momento também está presente na terra do Tio Sam.
O nome de Donald Trump nunca esteve tão em alta, apesar das inúmeras peculiaridades do magnata. Famoso no início dos anos 2000 por apresentar o reality O Aprendiz (nossa versão teve Roberto Justus), Trump volta aos holofotes por encabeçar a atual corrida presidencial nos EUA. Totalmente desprovido de habilidades para um cargo tão importante, ele tornou-se o rosto de uma pergunta importante: o que está acontecendo? É aí que BrainDead entra, usando de ficção científica, aliens, horror e algumas pitadas de humor negro para tentar explicar as loucuras que estamos presenciando. No início conhecemos Laurel Healey (Mary Elizabeth Winstead, de Rua Cloverfield 10), uma jovem documentarista que não é muito fã do ramo de atuação de sua família, a política. Mas por causa de algumas dívidas estudantis, aceita trabalhar com seu irmão, o senador Luke (Danny Pinno).
Por uma coincidência cruel do destino, logo em seu primeiro dia de trabalho ela acaba envolvida em uma negociação que pode resolver uma crise partidária, além de ouvir estranhos relatos de pessoas com comportamentos incomuns. A partir desse ponto, cenários que pareciam tão distantes vão se misturando e movendo o plot principal da trama. O ponto forte de BrainDead consiste em usar o maior número possível de elementos da nossa realidade dentro de sua fantasia. Não apenas o atual cenário político nos EUA, mas também outros acontecimentos pouco lembrados. Os alienígenas da história chegaram ao nosso planeta através de um meteoro que caiu na Rússia, em uma cena muito parecida com a registrada por vários russos em 2013.
Apesar de toda a pegada fantasiosa, BrainDead ainda prefere focar um pouco mais em política, lembrando o espectador sempre que possível que existe uma crise partidária rolando. Os elementos extraordinários vão sendo adicionados em doses homeopáticas, talvez por medo de causar uma estranheza logo de cara e afastar o público alvo, seja lá qual for. Mas se você espera uma discussão profunda sobre política, melhor procurar outro lugar. A série parece assumir uma postura mais neutra nisso tudo. Talvez o fato da protagonista ser tão semelhante aos famosos “isentões” (termo amplamente utilizado em rodas de conversa por aqui), não tenha sido uma escolha aleatória.
Uma das características dos alienígenas de BrainDead é que eles descartam os cérebros das pessoas que possuem, fazendo com que eles virem literalmente água. Isso torna as vítimas mais fáceis de serem controladas. E quando políticos passam a ser atacados, as coisas saem de controle. Governantes sem cérebro, tomando decisões importantes e decidindo o rumo de um país. Qualquer semelhança com o que vivemos no mundo real pode não ser mera coincidência ¯\_(ツ)_/¯
Apesar de poucos momentos engraçados, BrainDead é vendida como uma série de humor. Isso explica o tom mais leve da produção, mesmo com algumas situações pouco convencionais. Mas não torna menos assustador o fato de que alienígenas são uma boa explicação para tudo que estamos vivendo esse ano. É, parece que as pessoas estão mesmo enlouquecendo…