Dirigido por Ben Leonberg e com estreia nos cinemas brasileiros em 30 de outubro, o filme Bom Menino (Good Boy) chega ao público pela Paris Filmes com uma proposta incomum para o gênero de terror: contar uma história de casa mal-assombrada do ponto de vista de um cachorro. O longa, que também foi lançado nos Estados Unidos pela Shudder e IFC Films, usa a lealdade e a percepção aguçada de um animal como lente principal para explorar o medo, a doença e o vínculo entre humanos e seus companheiros de quatro patas. Confira a nossa crítica do filme:
Um terror contado pelos sentidos de Indy, o Bom Menino
O protagonista é Indy, um Duck Tolling Retriever da Nova Escócia treinado pelo próprio diretor ao longo de três anos. O cachorro vive com Todd (Shane Jensen), um homem que se recupera de um susto com câncer e decide se isolar na cabana herdada de seu avô, localizada em uma floresta deserta. A casa, no entanto, guarda mistérios — sons vindos do porão, sombras nos corredores e uma presença invisível que só Indy parece perceber.
A narrativa se desenvolve a partir da altura e da perspectiva de Indy, o que transforma cada ruído, cheiro ou movimento em potencial fonte de terror. O diretor de fotografia Wade Grebnoel mantém a câmera rente ao chão, reproduzindo o campo de visão do cachorro. Essa escolha visual, aliada ao design de som minucioso, faz com que o público experimente os sustos não como espectadores humanos, mas como seres guiados por instinto.
Lealdade, medo e mortalidade
Embora Bom Menino use elementos clássicos do terror — a casa isolada, o passado sombrio e as aparições fantasmagóricas —, o filme não se apoia apenas nos sustos. O roteiro, escrito por Ben Leonberg e Alex Cannon, transforma o horror sobrenatural em metáfora para temas como a doença e o medo da perda. Todd, debilitado e emocionalmente fragilizado, é acompanhado fielmente por Indy, cuja devoção se torna o verdadeiro eixo da história.
Em alguns momentos, o público é levado a duvidar da própria realidade. Estaria Indy de fato vendo algo sobrenatural ou apenas reagindo ao comportamento errático de seu dono? O longa brinca com essa ambiguidade, sugerindo que o terror pode ser tanto físico quanto psicológico — e que, para um cão, o maior medo é perder seu humano.
O simbolismo e a força da simplicidade
A produção independente aposta em uma abordagem naturalista, valorizando o trabalho corporal de Indy e a atmosfera criada pelos sons da floresta e da casa. Pequenas ações — um latido, o levantar de orelhas, um olhar fixo para o vazio — ganham força narrativa. O filme também intercala as cenas presentes com fitas VHS antigas do avô de Todd (Larry Fessenden), reforçando a ideia de que o passado da família continua assombrando o espaço.

Apesar de sua curta duração, com apenas 72 minutos, Bom Menino consegue equilibrar o terror sobrenatural com uma sensibilidade rara. O resultado é uma obra que vai além do susto, oferecendo uma reflexão sobre a fidelidade e o instinto de proteção que une humanos e animais.
Crítica: vale à pena assistir ao filme de terror Bom Menino?
Empatia, medo e lealdade
No fim, Bom Menino se revela menos sobre monstros e mais sobre a conexão emocional entre dono e cão. Através dos olhos de Indy, Ben Leonberg transforma um cenário clássico de horror em um estudo sobre empatia, medo e lealdade. O filme entrega uma experiência sensorial singular, onde o terror nasce tanto da escuridão quanto do amor incondicional que um cachorro sente por seu humano.