Com estreia marcada para 1º de outubro, Bom Dia, Verônica apresenta um mistério instigante
O mundo é um lugar sombrio, onde todos os dias nossas noções de fé e humanidade são testadas. E na maioria das vezes, o sofrimento é abafado por injustiças e negligências. Por isso, obras que conseguem jogar um pouco de luz nessa escuridão são tão importantes. Bom Dia, Verônica – nova série original da Netflix – segue por esse caminho. Mostrando que apesar de toda a crueldade e violência, é possível lutar por uma realidade melhor.
Baseada no livro publicado pela Darkside Books e escrito por Raphael Montes e Ilana Casoy, a trama acompanha a escrivã da polícia Verônica Torres (Tainá Müller) que após presenciar um suicídio decide investigar um golpista que ataca e humilha mulheres. Tomada por seu senso de justiça e traumas do passado, a protagonista está disposta a tudo para ajudar as vítimas. Em outro ponto da cidade, o casal Janete (Camila Morgado) e Brandão (Eduardo Moscovis) esconde segredos terríveis que logo irão cruzar o caminho de Verônica.
Nos três episódios liberados antecipadamente pela Netflix, é possível enxergar em Bom Dia, Verônica uma boa adaptação do material base. E mais do que isso, uma série com personalidade. Não apenas por algumas modificações feitas, mas por conseguir atualizar sua linguagem para se adequar ao cenário social em que estamos inseridos. Além da questão investigativa que um suspense policial de respeito exige, a obra mostra os resultados terríveis que machismo, violência doméstica, assédio, corrupção e etc causam nas mulheres. E como é importante ter apoio em momentos de necessidade.
Como criador da série, Raphael Montes consegue transportar a qualidade do livro para a tela. Bom Dia, Verônica entrega uma atmosfera opressora que coloca seus personagens no limite psicológico, o que acaba mexendo também com o espectador. Até onde foi possível ver, os mistérios da narrativa estão bem distribuídos nos detalhes e não devem afastar aqueles que não conhecem a história original. Aliás, mesmo com cenas de violência gráfica, a atração é bastante convidativa para quem gosta do gênero. Embora alguns núcleos quebrem a fluidez dos episódios, dispersando a imersão do público em determinados momentos.
O elenco estrelado consegue dar profundidade para os personagens do livro, tornando-os mais interessantes do que no original. Tainá Müller funciona bem como uma pessoa que tenta ajudar, mesmo que não possua todas as habilidades necessárias para isso. Sua rotina dividida entre cuidar da família e das responsabilidades do trabalho certamente irá cobrar um alto preço. Mas quem brilha mesmo são Camila Morgado e Eduardo Moscovis. Ela dá voz e rosto para mulheres oprimidas por seus maridos, tão destruídas que não conseguem nem mesmo buscar ajuda. Seja por vergonha, medo ou algum tipo de sentimento de culpa. Já ele constrói com intensidade o monstro que dorme ao lado na cama, que só precisa de um olhar para ser ameaçador.
No entanto, um velho problema das produções nacionais está presente: a naturalidade dos diálogos. Herança das novelas, essa barreira é sempre difícil de ser superada. Em vários momentos tudo soa artificial demais, o que exige de quem está assistindo uma dose de boa vontade para comprar o cenário apresentado. Em termos gerais, Bom Dia, Verônica tem um começo promissor e que pode agradar a audiência. Um bom mistério, bons personagens e um assunto social importante são sempre bem vindos.