Lançado recentemente no Prime Video da Amazon, Boa Noite, Mamãe é o remake do filme austríaco de mesmo nome lançado em 2014. Dentro do contexto de que essa é uma produção um tanto desnecessária, uma vez que mantém a base do seu longa original, podemos dizer também que ela possui uma série de previsibilidades no roteiro, mas se quiser uma análise mais detalhada do que achamos, você pode clicar aqui para ler a crítica do Charles.
Nesse texto, quero apenas apontar para as questões pertinentes que o filme deixou para os espectadores.
Afinal, o que aconteceu com Lukas e Elias em Boa Noite, Mamãe?
Logo no início do filme, o roteiro e a montagem nos dão algumas pistas de que o Lukas que vemos ali é apenas uma projeção do seu irmão gêmeo, Elias. Depois de um vídeo mostrando as crianças e seus pais felizes, em casa, a cena corta para Elias no carro, desenhando uma arte para presentear sua mãe (Naomi Watts), que não o vê há muito tempo. Desse modo, entendemos que aquela família sofreu algum tipo de abalo que levou os pais ao divórcio.
No entanto, o reencontro dos filhos com a mãe sofre um duplo choque: além da personagem de Naomi Watts estar com o rosto um tanto horripilante, todo enfaixado, seu comportamento passa muito longe do que Lukas e Elias (e, por consequência, o espectador) esperavam, mostrando uma figura amarga e pouco afável.
Por que a mãe rasgou o desenho e por que ela não cantou a música para Elias?
Dentro das obviedades desse roteiro de terror, que é mostrar que as crianças vão passar a desconfiar ainda mais da mãe (ou seja lá quem for) até as coisas saírem do controle, alguns fatos chamam a atenção e vamos nos atentar a dois deles: o desenho e a canção.
O fato da mãe ter rasgado o desenho e se recusado a cantar a música de dormir alimenta ainda mais a ideia de que aquela não é a pessoa correta, então, por mais que possamos prever que no final aquele Lukas será revelado apenas como uma projeção, ainda há essa intriga sobre a mãe.
A chave está no próprio motivo de Lukas não estar de fato ali: ele morreu de uma forma trágica, baleado acidentalmente enquanto brincava com Elias no celeiro. Como esse é um tipo de acontecimento que impacta drasticamente qualquer família, não poderia ser diferente com essa. Quando a mãe não canta a música e diz ao filho que ele já está bastante crescido para essas coisas, temos a fala de uma personagem que está passando por um pesadíssimo processo de luto. Mais precisamente, no segundo estágio, que é o da raiva (de acordo com a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross). O mesmo vale para o fato dela ter rasgado o desenho, gritado com Elias, quebrado seu celular e até ter agredido o garoto.
Lentes de contato
Quando Elias é levado de volta à sua mãe, que recebe ele e a polícia sem o curativo no rosto, o filme passa a implementar o seu plot twist principal e definitivo: Lukas já está morto e é de fato uma projeção do irmão em tela, e a mãe é apenas ela mesma numa das piores versões que poderia ser naquele momento de muita dor.
Para desespero de quem assiste, a mãe é amarrada na cama e Elias passa então a assumir um papel de antagonista involuntário da trama, pois está sob forte influência do Lukas imaginário (de quem ele sempre esteve, na verdade). Antes que possamos temer por algo pior para a mulher amarrada, ele consegue se libertar momentaneamente dessa influência e solta a sua mãe, que o leva ao celeiro para revelar toda a verdade: Lukas morreu justamente ali, e Elias se nega a aceitar essa trágica realidade. É como se ele ainda estivesse no primeiro estágio do luto, que é a negação.
O que se segue é Elias empurrando a mãe, que cai gravemente ferida e inconsciente. Elias apenas foge dali antes do fogo tomar conta do local, onde a mãe permanece e acaba morrendo. Temos então a volta de Lukas, só que agora acompanhado de uma nova pessoa projetada por Elias: sua mãe.
O final de Boa Noite, Mamãe pode frustrar àqueles que buscam filmes como reconforto e, independente da qualidade do que é mostrado na direção de Matt Sobel, a produção consegue expor algumas questões interessantes ao público.