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Boa Noite, Mamãe! (2022)

É inevitável que um filme estrangeiro de sucesso, independente do gênero e do ano de lançamento, irá ganhar um remake produzido por Hollywood. Entre os principais alvos estão os longas de terror, em especial os asiáticos. Impossível não lembrar dos sucessos que foram O Grito (2004) e O Chamado (2002). É comum ainda que a nova versão ganhe mais notoriedade do que o material original, ainda que a diferença de qualidade seja explícita. No entanto, o consenso geral concorda que essas refilmagens são desnecessárias na maioria dos casos. Boa Noite, Mamãe!, novo lançamento do Prime Video, mostra que Hollywood não sabe mesmo ouvir a voz da razão.

O alvo aqui é o filme austríaco dirigido por Veronika Franz e Severin Fiala, que ganhou fama através do boca a boca dos fãs de terror. Enervante e estilosa, a versão original foca na tensa relação entre uma mãe e seus filhos. A base do remake é a mesma, porém, todo o mistério é deixado de lado para que o drama familiar ganhe mais espaço. Uma ideia até interessante no papel, mas que se mostra um erro na prática. Isolada em uma casa no campo, uma mãe (Naomi Watts) recebe a visita de seus filhos gêmeos Lucas (Nicholas Crovetti) e Elias (Cameron Crovetti). Para a surpresa dos garotos, a mulher passou por um procedimento estético e precisa andar com o rosto coberto até se recuperar. Impondo uma série de regras estranhas, ela desperta a desconfiança dos filhos.

Essa nova versão de Boa Noite, Mamãe! parece tão desesperada em imprimir sua própria identidade que ignora tudo o que fez do longa de 2014 um sucesso entre o público. Não existe nada de errado em buscar alguma originalidade, o problema é falhar na execução dessa proposta. Deixando comparações de lado, o roteiro de Kyle Warren em nenhum momento desperta tensão e dúvida no espectador. O comportamento errático da mãe, assim como a resposta dos filhos diante desse cenário estranho, abre um leque de opções para trabalhar o mistério de maneira mais eficiente. No entanto, o espectador mais atento conseguirá decifrar o segredo da trama antes da metade do filme. Isso se não estiver muito ocupado mexendo no celular enquanto o tempo se arrasta. Boa Noite, Mamãe! tem menos de duas horas de duração e parece uma eternidade.

A direção de Matt Sobel também não entrega algum tipo de ousadia, seguindo o roteiro de maneira protocolar. Uma determinada cena no banheiro, se melhor trabalhada, poderia gerar um momento de tensão convincente. Parece que todos os envolvidos na produção concordaram que a violência do longa original não teria espaço aqui e que o drama seria uma alternativa mais eficiente. O resultado é um suspense tímido, incapaz de despertar qualquer emoção diferente do tédio no público. O que ainda impede que Boa Noite, Mamãe! naufrague de vez é o talento de Naomi Watts, que rouba para si todas as cenas em que está presente. Curiosamente, ela estrelou o remake de O Chamado. Que por sinal é bem melhor que isso aqui.

O remake de Boa Noite, Mamãe! é apenas mais um exemplo de que Hollywood detesta legendas com todas as suas forças. Falha como homenagem ao original e como uma forma de fisgar novos espectadores, servindo apenas para a pilha de descarte dos serviços de streaming. Aliás, aposto que deve ser mais barato negociar direitos de exibição do que filmar todo um projeto apenas por birra.