Black Mirror é uma série genial, que executa com perfeição todos os seus aspectos, seja pelos episódios perturbadores ou pelas críticas levantadas que se estendem além do que é mostrado em tela. É incrível a facilidade com que o espectador se vê representado de alguma forma nas situações apresentadas, por mais bizarras que elas possam ser. Usar da tecnologia como uma isca para atrair um público diversificado e depois atacá-lo com críticas inteligentes e certeiras foi uma sacada e tanto de Charlie Brooker, criador do seriado.
Afinal, o ser humano tornou-se cada vez mais dependente da tecnologia com o passar do tempo. Claro que isso tem pontos positivos, mas parece que escolhemos não enxergar o enorme lado negativo disso tudo. E é justamente essa ferida que Black Mirror cutuca sem dó. Lá em 2011, época de lançamento da série, Charlie comentou qual a sua intenção com essa criação e mostrou o quanto estava pronto para nos guiar por uma realidade cruel. “Se a tecnologia é como uma droga – e ela parece com uma droga – quais são precisamente os efeitos colaterais? Essa área entre o prazer e o desconforto é onde Black Mirror, minha nova série dramática, está situada. O “espelho negro” do título é aquele que você irá encontrar em cada parede, em cada mesa, na palma de cada mão: a fria e brilhante tela de uma TV, monitor, smartphone.”
E é impressionante, como após cinco anos desde seu lançamento, ela ainda consegue conversar com vários aspectos da nossa vida. Episódios como The Entire History of You, White Bear, The Waldo Moment e Fifteen Million Merits são exemplos do quanto as críticas de Black Mirror conseguem se manter atualizadas mesmo com o passar do tempo. Talvez seja, em parte, nosso demérito. Com duas temporadas e um especial de Natal, a série saiu de cena em 2014.
Mesmo com as inúmeras qualidades, Black Mirror acabou não sendo reconhecida da maneira que deveria. E até hoje algumas atitudes mostram o quanto isso foi um erro. Mas o tempo passou e muitos aspectos da relação sociedade x tecnologia mudaram, alguns para pior. Ficava a sensação de que a série precisava voltar para ensinar algumas coisas para essa nova geração. Não apenas como algo “antigo” que você indica para um amigo, mas de cara nova e totalmente revigorada. O passo decisivo foi dado quando a Netflix anunciou que faria uma nova temporada e com Charlie Brooker supervisionando tudo.
Nesse meio tempo, o serviço de streaming adicionou os sete episódios existentes ao seu catálogo. E com todo o conforto e praticidade oferecidos, a série alcançou novos horizontes. Mas crescia a expectativa de quando os novos episódios iriam ao ar. Bem, essa espera já tem data para acabar: 21 de outubro. O anúncio foi feito durante um evento da Netflix voltado para críticos de TV.
Também foram divulgados os títulos, diretores e atores dos seis episódios da terceira temporada. Se você viu as duas primeiras, percebeu que alguns rostos conhecidos deram as caras na série. Aqui não será diferente. Também teremos mais episódios por temporada, pulando de três para seis. Um aumento na medida certa, evitando assim as velhas enrolações. Confira a lista:
San Junipero (S03E01)
Estrelado por Mackenzie Davis (Perdido Em Marte) e Gugu Mbatha-Raw. Dirigido por Owen Harris (que já passou por Black Mirror no episódio Be Right Back, S02E02).
Shut Up and Dance (S03E02)
Estrelado Jerome Flynn (o Bronn de Game Of Thrones) e Alex Lawther. Dirigido por James Watkins.
Nosedive (S03E03)
Estrelado por Bryce Dallas Howard (Jurassic World), Alice Eve (Stark Trek: Além da Escuridão) e James Norton. Dirigido por Joe Wright (Orgulho & Preconceito).
Men Against Fire (S03E04)
Estrelado por Michael Kelly (o Doug de House Of Cards), Malaquias Kirby e Madeleine Brewer (Orange Is The New Black). Diretor ainda não confirmado.
Hated in The Nation (S03E05)
Estrelado por Kelly MacDonald (Boardwalk Empire). Dirigido por James Hawes (que já comandou episódio da também excelente Penny Dreadful).
Playtest (S03E06)
Estrelado por Wyatt Russell e Hannah John-Kamen. Dirigido por Dan Trachtenberg (Rua Cloverfield, 10).
Você tem tempo de sobra para acompanhar as temporadas anteriores antes do lançamento da nova. Então assista cada episódio com calma e absorva tudo o que ele tem para oferecer. No fim, aposto que vai conseguir enxergar todo um mundo que existe além desse “espelho negro”.