Better Call Saul se aproveita de sua aparente despretensão
Sabe quando bate aquele sentimento, induzindo uma pessoa (pode ser você) a fazer algo que não deveria mas acaba fazendo mesmo assim? É a melhor forma de definir o Jimmy McGill (Bob Odenkirk) da segunda temporada de Better Call Saul. O protagonista do spin-off de Breaking Bad está perdendo seus escrúpulos gradativamente, e as pessoas que o cercam serão influenciadas como nunca pelo seu modo de lidar com o que consideramos antiético, imoral e eventualmente ilegal.
SG esteve aqui
Algumas das introduções de episódios mostram Saul Goodman em sua condição de fugitivo pós Breaking Bad, e seria interessante se os produtores dedicassem uma temporada especialmente a esse período no futuro. Enquanto isso não ocorre, temos uma série aparentemente despretensiosa na missão de contar a origem de alguém, mas que surpreende na qualidade final. A criação de Vince Gillian e Peter Gould é ambientada de forma a interagir com o público constantemente (se aproveitando da memória afetiva dos mais velhos), seja no humor nostálgico e escarrado de Jimmy ou então nas fitas VHS, lojas de xérox 24 horas e nos enormes celulares antigos. Esses elementos dão uma interessante identidade visual, como no episódio onde o protagonista começa a vestir as combinações mais ridículas possíveis de terno para chatear seu patrão.
Melhor chamar o Mike
Mike (Jonathan Banks) interage pouco com Jimmy, mas o seu envolvimento com personagens de Breaking Bad se dá organicamente tornando as referências a “BB” cada vez mais regojizantes. Aparecem nessa temporada Tuco (Raymond Cruz, novamente roubando a cena), os irmãos assassinos do México, além do inesquecível Hector Salamanca (Mark Margolis) num plot com pegada totalmente diferente da principal. Infelizmente deixou de ganhar nota 10 por não concluir o arco até o final da temporada.
O coração de Jimmy
Grande evolução de Kim Wexler (Rhea Seehorn), dessa vez melhor escrita e assumindo as rédeas em diversas situações, como na forma de lidar com as atitudes questionáveis de Jimmy. Rhea é uma boa atriz e só esteve contida porque sua personagem foi escrita assim, mas agora está muito mais solta. Mas é no desentendimento com Chuck (Michael McKean) que mora o coração da trama dessa vez. Sua intolerância ao eletro magnetismo é levada ao extremo aqui, e flashbacks pontuais ajudam a trazer profundidade para o personagem e justificar seus atos contra o irmão. Inclusive o último ato deve forçar o protagonista a finalmente alterar seu nome para Saul Goodman.
Better Call Saul conseguiu reafirmar o argumento de que “Breaking Bad é excelente, mas o papo aqui é outro”. Referências são legais mas em primeiro lugar sempre vem a qualidade da história. Dessa forma, fica cada vez menos necessário as participações especiais de Walter White e Jessie, por ser simplesmente impossível relacionar esses personagens no passado sem furar o roteiro da série. Para a terceira temporada, fica a necessidade de tornar a série menos arrastada e monótona.