Série mostra que pode andar – e muito bem – sem fazer fan-service de Breaking Bad
Breaking Bad fez uma legião de fãs pelo mundo. Era compreensível, sendo assim, que um spin-off (um programa derivado) fosse criado. Justo também é que o protagonista dessa novidade fosse um dos personagens mais carismáticos da sua matriz, um advogado egocêntrico que faz o “bom” e velho trabalho sujo, representando legalmente a parte mais odiada da sociedade: os bandidos (em sua maioria, os mais pobres).
Eis que surge a nova série, que sem estrear já havia garantido seu lugar ao sol com uma segunda temporada. Pois é, senhores, efeito Breaking Bad. Será que veríamos Walter White ou Jessie Pinkman? Qualquer coisa desse universo deve ser legal, todos pensaram. Reparou que já citamos três vezes o título da série com Heizenberg, e nada de Better Call Saul? Foi intencional. A partir de agora, esqueça Bryan Cranston e sua turma (ou a maior parte dela).
Nesta comédia de humor negro derivada da premiada série Breaking Bad, Jimmy McGill, um advogado ambicioso mas quase sem clientes, decide subir na vida e se transforma em Saul Goodman, o advogado capaz de tirar Walter White de mil enrascadas com a lei – com manobras nem sempre legais.
A curva de desenvolvimento de Jimmy McGill (Bob Odenkirk) é inesperada. Superadas as expectativas errôneas, o programa mostra um cara que está passando por dificuldades de muitos tipos, seja de cunho financeiro, sentimental ou até mesmo moral. Resquícios do Saul que tanto gostamos é possível identificar em vários momentos, mas isso não significa que o cara seja bonzinho no início e depois vá se tornando um malandro. Trata-se de tentativa e erro. O que temos em peso nessa temporada é um protagonista que, apesar dos desvios morais e éticos, procura “fazer a coisa certa” numa visão macro da situação, para que sua carreira como advogado decole e assim ele passe a ganhar muito dinheiro e sucesso.
Uma dúvida que ficava antes do início de Better Call Saul era em relação ao elenco. Com a confirmação de que os dois principais da série de origem não apareceriam, apenas Mike (Jonathan Banks) era conhecido pelo grande público, e também a única garantia de um personagem forte além do protagonista, com suas motivações bem estabelecidas (o que se confirmou para a alegria de todos). O irmão Chuck McGill (Michael McKean) a princípio parece um personagem muito entediante (com sua alergia a aparelhos eletrônicos) mas que com o passar dos episódios terá uma importância única para o processo de definição do caráter de Jimmy. O mais próximo que ele tem de um par romântico é com Kim (Rhea Seehorn), que faz bem o perfil de advogada mas não empolga muito quem está assistindo.
Visualmente Better Call Saul não é tão saturada quanto sua série de origem, mas a ambientação e os cenários que passam toda a sensação do calor de Albuquerque, Novo México, estão presentes. Nesse sentido não há como dizer que o criador de tudo isso, Vince Gilligan, esteja revolucionando a TV novamente. Mas nem é preciso, se concordarmos que os ângulos inusitados (e ainda criativos) continuam e é um deleite acompanhar a fotografia desse programa. A qualidade do show também deve ser creditada a Peter Gould, que foi o responsável pelo texto da primeira aparição de Saul Goodman nesse universo, e continua o bom trabalho aqui.
Better Call Saul não é Breaking Bad. Supere isso e aproveite esse ótimo seriado disponível no Netflix.