Disney promove uma atualização adequada para o clássico A Bela e a Fera, mas sem muito brilho próprio
Finalmente chega aos cinemas a versão com atores reais de A Bela e a Fera, clássica animação de 1991 da Disney que conquistou milhões de fãs nos últimos 25 anos. Aparentemente, a empolgação do público em geral escondeu um pouco da responsabilidade que é adaptar para um novo formato um filme musical que ganhou nada menos do que o Oscar de melhor trilha sonora e melhor canção original, além de ser a primeira animação indicada ao prêmio de melhor filme no Oscar. Essa empolgação se justifica na figura de Emma Watson, atriz absurdamente identificada com o público jovem pela sua participação na saga Harry Potter e seu consequente ativismo feminino, servindo de grande exemplo para toda uma geração.
Para quem não assistiu o original a trama acompanha Bela, uma jovem encantadora e fã de literatura. Seu sonho é poder conhecer novas coisas na vida, muitas delas inspiradas pelo conteúdo consumido na biblioteca do pequeno vilarejo que mora na França. Sua vida muda completamente quando seu pai é feito prisioneiro num castelo aparentemente amaldiçoado, onde ela toma seu lugar sob a promessa de ser uma prisioneira para sempre. O local é comandado por uma criatura de aparência e atitude horripilante, mas eventos maiores forçará uma aproximação entre os dois.
No geral, A Bela e a Fera foi muito bem atualizado para os tempos atuais mesmo que em proporções conservadoras em relação aos acontecimentos do roteiro. Entretanto, o peso é diminuído se comparado à nova postura das protagonistas femininas da Disney como em Frozen, Malévola e mais recentemente Moana. Em curtas palavras, toda a diversidade trazida nessa releitura (com personagens negros, gays e outras minorias) não é mais um diferencial, mas sim um padrão da indústria. Nesse aspecto, quem possui a curva dramática mais interessante é mesmo LeFou (Josh Gad, dublado no Brasil por Alírio Netto, vocalista da banda de metal Age of Artemis), provocando boicote de A Bela e a Fera por líderes religiosos e até de estado pela declarada orientação sexual do personagem.
O que incomoda mesmo nesse A Bela e a Fera é o monstro vivido por Dan Stevens (protagonista da série Legion, do FX), e não é por falta de qualidade nas artes cênicas. Sentimos seu bom desempenho interpretativo nos diálogos com Emma Watson, mas a roupagem digital está muito preguiçosa (algo perceptível principalmente na cena onde ocorre a luta com os lobos na floresta) e em desacordo com a proposta estética da fantasia do filme. Talvez se fosse usado um visual mais animado para todo o núcleo de personagens mágicos do castelo esse defeito seria amenizado.
Um grande acerto foi o modo como se dá a aproximação de Bela com a Fera. Se no desenho poucos elementos de comum podiam ser identificados entre os dois, aqui isso é melhor trabalhado principalmente pelo interesse de ambos em literatura, além do paralelo traçado com o fato de ambos carecerem de amor materno desde a infância. A dupla Lumière e Cogsworth pode não brilhar tanto nessa versão, mas são muito bem dublados e vividos por Ewan McGregor e Ian McKellen.
Sendo assim, uma grande questão é como A Bela e a Fera de 2017 será absorvido por pessoas, sejam elas crianças ou adultos, que não assistiram à animação original. Apesar da adição e melhoramento de algumas canções, a sensação de que estamos assistindo o mesmo produto é bem nítida, algo que poderia ter sido melhorado positivamente se mudassem o fraco desfecho no embate entre Gaston (vivido dignamente por Luke Evans) e a Fera. Só as próximas semanas dirão se essa nova versão se tornará também um clássico, mas as chances são poucas. Ao menos é uma excelente sessão nostalgia para passar com a família.