Quem aqui se lembra do Game Boy Advance, ou simplesmente GBA, como os fãs o chamam? Lançado em 2001, era o quarto dispositivo de jogos portáteis da Nintendo, seguindo os passos do enorme sucesso do Game Boy Color, e tinha uma fantástica biblioteca de jogos: Wario Land 4, Metroid Fusion, Castlevania: Dawn of Sorrow, Fire Emblem – só para citar alguns, e se você era fã de jogos de plataforma, não faltavam títulos interessantes para jogar. Os melhores jogos de plataforma do GBA eram simples, diretos, divertidos de controlar e tinham muitas coisas para colecionar, tornando as sessões de jogatina curtas e agradáveis. E é exatamente isso que Beard Blade faz.
Beard Blade é um jogo de plataforma visivelmente inspirado nos jogos de plataforma da era do GBA, como o já mencionado Wario Land 4 ou Klonoa: Empire of Dreams. Desenvolvido por uma dupla indie, Glovebox Games, Beard Blade pulou na Steam em 20 de julho de 2021, marcando o primeiro jogo que o estúdio fez. E que melhor maneira de começar do que com um título simples, mas agradável?
Nossa história começa com um grupo de monstros parecidos com goblins desenterrando uma das sete esferas do dragã- quero dizer… um artefato brilhante do chão, mas antes que eles possam fugir, uma ovelha fofa não perde tempo e engole o precioso artefato, fugindo em seguida. Eles a perseguem e acabam na fazenda de Branson (nosso protagonista), e, incapazes de distinguir as ovelhas, eles fazem uma confusão e acabam sequestrando todas elas – acordando Branson no processo, que começa a correr atrás dos sequestradores.
Depois de uma rápida procura a bordo do navio dos ladrões de ovelha, Branson encontra um prisioneiro chamado Forbeau, que diz que ele foi capturado pela mesma gangue que roubou as ovelhas: os Smuglins (é um trocadilho em inglês, uma junção de ‘smuggle’ e ‘goblin’, ou ‘roubo’ e ‘goblin’. Goblins ladrões). Depois de uma leve fuga de prisão, Forbeau, que afirma ser uma espécie de mago, recompensa nosso herói usando sua magia em Branson, dizendo que ‘tem efeitos diferentes para cada pessoa‘. Eis que, no caso de Branson, sua barba ganha poderes metamórficos, transformando-a em diferentes armas, como um punho, uma bola com espinhos e, claro – uma lâmina.
Após causar alguns danos à propriedade alheia, explorar o navio e encontrar um conjunto de roupas e capa de aparência heroica, Branson encontra os Smuglins – e seu líder, Orzo. Mas antes que eles possam conversar sobre o mal-entendido com um jogo de xadrez e algumas xícaras de chá (ou comecem a se bater), a ovelha que comeu o precioso tesouro começa a brilhar e provoca uma explosão, enviando ovelhas, heróis e vilões voando para a ilha de Pimento, onde Branson deve encontrar e resgatar seu rebanho de ovelhas e talvez descobrir o que os Smuglins estão querendo com aquele artefato brilhante.
E então começa a nossa jornada! Um enredo simples, mas eficiente, e outro que meio que fica em segundo plano pelo resto do tempo, bem à moda de jogos de plataforma clássicos. A partir daqui é apenas a jogabilidade pura e algumas cinemáticas polvilhadas aqui e ali. O jogo tem a estrutura de progressão de nível por nível, onde você ajuda Branson a pular em algumas plataformas, lutar contra alguns Smuglins e, eventualmente, encontrar uma de suas ovelhas (no final de cada nível) – e algumas coisas extras, se você é do tipo que gosta de explorar.
Você consegue controlar Branson muito bem enquanto corre, pula e corta o seu caminho através da ilha de Pimento, usando um botão para pular e outro para atacar- direto ao ponto e fácil de compreender, mas à medida que sua aventura continua, ele consegue alguns movimentos extras como planar (parecido com o cabelo de helicóptero de Rayman), uma pancada no chão ao estilo da Sentada Violenta do Mario (usando sua barba como uma parede de tijolos) e um ataque semelhante a uma garra (usando sua barba, obviamente) para se pendurar nos objetos e se jogar para cima. Durante todo o caminho, você encontrará uma variedade de moedas que pode coletar para gastar na barbearia do Forbeau para conceder a Branson as habilidades mencionadas e muito mais, e cada estágio contém seis moedas de Orzo, dois baús de tesouro e duas cartas colecionáveis. Parece um monte de colecionáveis por estágio, o que significa que as fases serão muito longas, certo? Bom, não exatamente.
Seguinte: Assim como Wario Land 3 para Game Boy Color (que é um jogo no qual gastei mais horas do que posso contar), Beard Blade tem um sistema de dia e noite, e certas partes de cada fase só serão acessíveis em cada horário, e, por causa disso, apenas metade dos colecionáveis estará disponível para cada horário, tornando a jornada por cada estágio relativamente curta e perfeita para pequenas jogatinas.
Os colecionáveis são as moedas de Orzo já mencionadas, baús de tesouro que podem conter um… tesouro… ou um CD, que desbloqueará uma música do jogo para você ouvir – ou pelo menos é o que eu acho, porque não consigo nem por tudo que é mais sagrado fazer o Sound Test funcionar. É no menu Opções, mas o jogo não parece carregar as músicas que eu peguei antes de escolher um arquivo de salvamento e quando você carrega o seu save, o menu de opções no jogo não tem o Sound Test. Talvez seja uma recompensa por zerar o jogo 100%?
De qualquer forma, os colecionáveis não são lá de grande importância no fim das contas: os CDs (supostamente) te dão acesso ao teste de som, as cartas te dizem uma biografia de cada inimigo e personagem que você encontra, e cada tesouro tem sua própria descrição criativa.
Dado que o jogo conta quantas moedas de Orzo você tem na parte inferior da tela no mapa, imagino que elas podem servir para um final secreto ou um bônus no final, mas do meio pro final os colecionáveis começam a ser colocados em lugares bem… mal-educados, digamos assim – algumas delas não podem ser coletadas diretamente (eles literalmente se teleportam pra longe de você), alguns deles estão por trás de paredes escondidas em que deve agachar para entrar (então, se você é como eu, provavelmente vai ficar se esfregando na parede tentando encontrar onde diabos está a entrada até lembrar que você pode agachar) e os que mais me irritam: os que exigem que você saiba qual o caminho certo a seguir na fase, o que, na maioria das vezes, vai te forçar a jogar a mesma fase pelo menos mais uma vez. Em contrapartida, você pode sair da fase direto do menu de pausa depois de ter os itens que “perdeu”.
Visualmente, a qualidade de ‘sprite’ (os modelos de personagem e cenário) de Beard Blade é incrível e cheia de detalhes. Os jogos de GBA tem um certo visual único, que é semelhante ao SNES, mas com um toque a mais de detalhes e em uma tela menor – e Beard Blade replica perfeitamente este visual, com o bônus adicional de nenhum pixel estourado ao ser colocado no modo de tela cheia. E servindo de mais prova para as comparações com o GBA, a resolução nativa do jogo é de cerca de 486 x 304 (cerca de 17 x 10 cm).
As áreas são bem diferentes umas das outras, não só há distintas mecânicas em cada área que você visita – algumas mais divertidas, outras mais chatas (tô olhando para você, Michi’s Cemetery) – como na mesma fase os mapas das versões de dia e noite mudam significativamente, mantendo o jogo visualmente variado e distintamente polido. Claro, você vai se deparar com algumas fases com o mesmo tema: uma praia, uma floresta, e até mesmo uma mansão, mas isso não significa que cada área não tenha sua justa carga de originalidade – e até algumas surpresinhas.
Essa variedade também pode ser aplicada à música do jogo: toda área tem uma música mais enérgica ou otimista para o dia e uma música mais tranquila, misteriosa, ou até meio amedrontadora para a noite. Toda a trilha sonora pode ser encontrada no Spotify e na Apple Music, então dê uma escutada se você estiver com vontade de ouvir uns sons de 16 bits – de repente alguma fica na sua cabeça. Minhas favoritas são Annatto Forest (Day), Shallot Shipyard (ambas) e Michi’s Manor (Day).
Em conclusão, Beard Blade não é isento de problemas – as localizações de alguns colecionáveis, alguns bugs aqui e ali (um que inclusive me deixou preso e me fez reiniciar a fase), algumas mecânicas de fase irritantes e um final um pouco anticlimático – e eu sei que não consegui todos os colecionáveis, mas não me incomodei com isso porque minha jornada de 8 horas ainda foi uma experiência maravilhosa que desperta aquela coceira que só um jogo de plataforma de GBA traz (específico, eu sei) e, definitivamente, vai ser um jogo que vou jogar de novo em um futuro próximo. E, ei, talvez finalmente consiga zerar com 100% dos colecionáveis. Em breve.
Beard Blade está disponível na Steam e, se você gostar da série Wario Land e estiver com nostalgia do GBA, ou se for fã de jogos de plataforma, este é um título que você com certeza deve experimentar.