Dirigido por Edward Berger, vencedor do Oscar por Nada de Novo no Front, Balada de Um Jogador (Ballad of a Small Player) chega à Netflix como um drama psicológico ambientado em Macau, inspirado no livro homônimo de Lawrence Osborne. O roteiro, assinado por Rowan Joffe, acompanha a jornada de um homem à beira do colapso moral e financeiro, explorando os limites entre vício, culpa e redenção.
Balada de Um Jogador
Um personagem perdido entre luxo e ruína
Colin Farrell interpreta Lord Doyle, um trapaceiro britânico que foge para Macau após aplicar um golpe milionário em Londres. Sob uma fachada de jogador sofisticado, Doyle vive cercado por cassinos, garrafas de champanhe e ilusões de grandeza, enquanto tenta escapar dos fantasmas de seu passado. Farrell entrega uma atuação intensa, dominada pela ansiedade e pelo desespero de um homem em espiral autodestrutiva.
O personagem, tratado como um “fantasma estrangeiro” pelos locais, parece movido por um impulso sobrenatural de jogar e perder. Berger traduz esse tormento interno em imagens exuberantes e desorientadoras, captadas pelo diretor de fotografia James Friend, que utiliza ângulos extremos e lentes amplas para refletir a instabilidade do protagonista.
Macau como espelho do vício e da decadência
O cenário de Macau desempenha papel essencial na narrativa. Durante o festival dos “Hungry Ghosts”, quando os espíritos dos mortos retornam à Terra, Doyle é confrontado não apenas por seus erros, mas também por Cynthia Blithe (Tilda Swinton), uma investigadora que o persegue para cobrar a dívida de seu golpe. A presença de Swinton reforça o tom de fábula sombria que permeia o longa, em que os mortos e os vivos se confundem sob luzes de neon e fumaça de cassinos.
Entre as figuras que cruzam seu caminho está Dao Ming (Fala Chen), uma funcionária de cassino que parece guiá-lo rumo à redenção — ou ao abismo. A relação entre os dois revela o contraste entre compaixão e destruição, tema central da obra.

Forma exuberante, substância questionável
Visualmente, Balada de Um Jogador impressiona. A direção de arte de Jonathan Houlding e o figurino de Lisy Christl misturam elegância europeia e tradições chinesas, criando um mundo vibrante e caótico. O design de som, cuidadosamente construído, intensifica cada momento de tensão — do embaralhar das cartas ao som das luvas de couro de Doyle.
Ainda assim, o filme se equilibra entre a estilização e o vazio. Berger investe em uma mise-en-scène elaborada para compensar a fragilidade emocional do roteiro, que às vezes se perde em metáforas excessivas. Farrell sustenta o drama com carisma e entrega física, mas o arco de redenção de Doyle carece de impacto real.
Crítica de Balada de Um Jogador – vale a pena assistir ao filme na Netflix?
Um mergulho estético sobre a autodestruição
Balada de Um Jogador é uma experiência visual e sensorial sobre um homem consumido pelo vício e pela culpa. Apesar da beleza formal e da performance hipnótica de Farrell, o longa deixa no ar a sensação de que há mais estilo do que substância. Berger oferece um retrato elegante do colapso humano, mas o espectador sai da sessão com o mesmo vazio que assombra seu protagonista.
Título original: Ballad of a Small Player
Direção: Edward Berger
Elenco: Colin Farrell, Tilda Swinton, Fala Chen, Deanie Ip, Alex Jennings
Duração: 101 minutos
Disponível na Netflix