A nova série japonesa da Netflix, Até o Último Samurai (Last Samurai Standing), combina ação intensa e estética histórica em um formato de competição mortal. Inspirada no romance Ikusagami, de Shogo Imamura — vencedor do Prêmio Naoki de 2021 —, a produção dirigida por Michihito Fujii, Kento Yamaguchi e Toru Yamamoto estreia com seis episódios que mesclam drama de época, artes marciais e o suspense típico de narrativas de sobrevivência. Leia a crítica:
Até o Último Samurai
Uma competição de vida ou morte no Japão pós-samurai
Ambientada em 1878, a série acompanha 292 samurais desonrados atraídos para um jogo letal. O torneio começa no Templo Tenryuji, em Kyoto, e segue até Tóquio, prometendo 100 bilhões de ienes ao último sobrevivente. Cada participante recebe uma etiqueta de madeira que representa sua vida: perdê-la significa a morte. Para seguir no jogo, é preciso derrotar os oponentes e conquistar suas etiquetas — um sistema que torna cada duelo uma questão de sobrevivência.
A trama acompanha Shujiro Saga (Junichi Okada), um ex-samurai que entra na competição para salvar sua vila, afetada por um surto de cólera. Ao lado de Futaba, uma jovem com o mesmo objetivo, ele enfrenta guerreiros de diferentes origens enquanto tenta manter sua honra intacta em meio à brutalidade do torneio.
Entre Squid Game e o drama histórico japonês
Até o Último Samurai tem sido comparada a produções como Squid Game e Alice in Borderland pela estrutura de jogo mortal, mas mantém uma identidade própria ao inserir esse formato em um contexto histórico. A competição dos samurais é usada como metáfora para o declínio de uma era e o surgimento de um novo Japão, industrializado e governado por elites que assistem à violência como espetáculo.
Essas comparações reforçam o apelo global da série, que segue a tendência de produções asiáticas que combinam crítica social e entretenimento. Aqui, o comentário sobre a extinção dos samurais e a desigualdade entre classes surge de forma pontual, ainda que sem a mesma força política de outras obras do gênero.
O ponto alto: a coreografia das batalhas
O grande destaque da série está nas cenas de ação. Junichi Okada, além de protagonista, atua como coreógrafo de combate e entrega sequências de luta filmadas com câmera aberta, mínima dependência de cortes e uso quase inexistente de CGI. As batalhas são coreografadas com fluidez, destacando o domínio técnico dos atores e o realismo das armas.

Dentre os momentos mais marcantes estão o confronto contra soldados no episódio 2, a briga de bar em plano-sequência no episódio 4 e o duelo sob fogos de artifício no episódio 6. Essas cenas demonstram a precisão da direção e a habilidade do elenco em executar combates cinematográficos com intensidade visual.
Limitações e potencial para o futuro
Apesar da qualidade técnica, Até o Último Samurai apresenta personagens de construção simples. Shujiro é um protagonista funcional, mas seus conflitos pessoais são repetidos por meio de flashbacks, e sua relação com Futaba carece de evolução. Ainda assim, personagens como Kyojin, um competidor misterioso, indicam potencial de aprofundamento em futuras temporadas.
A série abre espaço para explorar mais os bastidores do torneio e os interesses dos organizadores, que observam o massacre como um experimento político e social. Com base nas pistas deixadas pelo roteiro, a trama prepara terreno para uma segunda temporada com mais camadas e tensões internas.

Crítica: vale à pena assistir Até o Último Samurai na Netflix?
Até o Último Samurai se destaca pela direção de arte e pela excelência das sequências de combate, consolidando-se como um espetáculo visual que atualiza o conceito de “batalha de samurais” para o público contemporâneo. Embora os personagens e a crítica social não alcancem a mesma força de suas referências coreanas, a série oferece uma experiência intensa e visualmente impactante, capaz de atrair tanto fãs de dramas históricos quanto admiradores de narrativas de sobrevivência.
Disponível na Netflix, Até o Último Samurai é uma obra que honra a tradição dos guerreiros japoneses ao mesmo tempo em que revisita o mito do último samurai sob a ótica moderna do “vencer ou morrer”.