O filme Até a Última Gota (Straw, 2025), dirigido e escrito por Tyler Perry, mergulha no cotidiano de uma mulher que enfrenta uma sucessão de acontecimentos extremos em um único dia. A produção combina elementos de drama social e suspense psicológico, explorando a sobrecarga emocional e os limites da resistência humana. Leia a nossa crítica.
A trama de Até a Última Gota
A narrativa acompanha Janiyah (Taraji P. Henson), mãe solo que enfrenta dificuldades financeiras enquanto cuida da filha, Aria, que sofre de problemas de saúde. Logo nos primeiros minutos, o longa apresenta a precariedade de sua rotina e a sobreposição de desafios que se acumulam ao longo de um único dia.
Janiyah perde o emprego, tem o carro apreendido após uma abordagem policial, descobre que a assistência social retirou a filha de casa e, por fim, é despejada. O acúmulo de acontecimentos culmina em um assalto ao local onde trabalhava, que a coloca no centro de uma situação de reféns em um banco. Embora não tenha planejado o confronto, Janiyah acaba sendo vista como a principal suspeita, enquanto tenta desesperadamente descontar um cheque para sustentar a filha.
O peso das atuações e a condução da narrativa de Tyler Perry na Netflix
A performance de Taraji P. Henson sustenta a construção emocional do filme. Sua interpretação traduz a tensão e o desespero de Janiyah, que tenta manter o controle em meio ao caos. Ao lado dela, Sherri Shepherd, no papel da caixa do banco Nicole, e Teyana Taylor, como a detetive Raymond, contribuem para estabelecer pontos de equilíbrio narrativo. Nicole funciona como uma ponte de empatia dentro do banco, enquanto Raymond lidera as negociações com a polícia, acreditando na inocência de Janiyah.
A direção de Tyler Perry aposta em uma narrativa intensa, alternando entre cenas de grande carga emocional e momentos de suspense mais contidos. Há interrupções no ritmo, principalmente nas sequências envolvendo o FBI, que fragmentam a tensão principal, mas o núcleo da história permanece centrado na relação de Janiyah com a filha e na sua luta pela sobrevivência.
Realidade e delírio na construção da trama de Até a Última Gota
Um dos elementos mais marcantes de Até a Última Gota é a fronteira entre realidade e imaginação. A narrativa insere o espectador na perspectiva de Janiyah, cuja percepção dos acontecimentos é moldada pelo trauma e pelo luto. A revelação central de que Aria morreu na noite anterior à maior parte dos eventos do filme redefine toda a narrativa: as interações da protagonista com a filha são, na verdade, fruto de um estado dissociativo.
Essa escolha narrativa dá novo sentido a cenas anteriores, como o momento em que Janiyah acredita ter deixado a filha na escola. A diretora, que a observa sem dizer nada, já sabia da morte de Aria, mas a personagem permanece presa a um ciclo de negação.
Temas sociais e crítica estrutural de Straw
O filme aborda questões ligadas à desigualdade social, ao racismo estrutural e ao colapso emocional diante da falta de amparo. A frase presente no roteiro, “as pessoas não sabem o quanto é caro ser pobre”, sintetiza um dos principais pontos da produção: o custo emocional e material de sobreviver em um sistema que marginaliza indivíduos em situação de vulnerabilidade.
Ao mesmo tempo, o filme expõe a pressão exercida por instituições como a assistência social, a polícia e o sistema bancário sobre pessoas que vivem à beira do colapso financeiro. Cada evento negativo enfrentado por Janiyah intensifica essa crítica, mostrando como estruturas de poder contribuem para aprofundar crises individuais.

O final explicado de Até a Última Gota
O desfecho do filme deixa em aberto a fronteira entre realidade e delírio. Após liberar a gerente do banco, Janiyah é presa sem violência. No entanto, a cena final mostra uma multidão reunida, aparentemente em apoio à protagonista, o que gera interpretações distintas.
A imagem pode representar um momento real, sinalizando empatia coletiva diante da sua situação, ou ser mais uma manifestação do estado psicológico da personagem, que continua a lidar com a perda da filha e com os eventos traumáticos do dia. A ausência de uma conclusão definitiva reforça a proposta do filme de explorar a fragilidade da percepção humana diante do luto e do estresse extremo.
Crítica de Até a Última Gota (Straw): vale à pena assistir ao filme da Netflix?
Até a Última Gota (Straw) combina drama social com suspense psicológico, conduzindo o espectador por uma narrativa densa sobre sobrevivência, luto e desigualdade. A atuação de Taraji P. Henson sustenta a carga emocional do filme, enquanto a direção de Tyler Perry mantém o foco no impacto humano das situações extremas.
O longa não oferece respostas fáceis, preferindo deixar zonas cinzentas entre realidade e imaginação. Ao fazer isso, coloca o espectador diante de uma reflexão sobre até que ponto a percepção de um indivíduo pode ser moldada pela dor, pelo trauma e pela negação.