Asteroid City Asteroid City

Asteroid City: mais simbolismos do que respostas

Wes Anderson tem uma assinatura marcante, sempre com seus tons pastéis, histórias e personagens peculiares, diálogos que ficam na sua cabeça por horas, além de uma criatividade maravilhosa em termos de roteiro. Em “Asteroid City”, todos esses elementos estão muitíssimo bem presentes, mas dessa vez, acompanhados de uma metalinguagem que beira à paródia, e muitas mensagens que estão, nada sutilmente, impostas à narrativa.

A história se passa durante “histerismo” da década de 1950, em que a presença das guerras ainda estavam fortes – tem até um fotógrafo de guerra, interpretado por Jason Schwartzman -, existindo assim uma certa paranoia, assim como narrativas com alienígenas que preenchiam o imaginário popular, a melancolia que se arrastou durante esse período devido a tudo o que aconteceu, ao mesmo tempo em que o país sofria um visível crescimento econômico, entre outros detalhes marcantes do períodos dos “boomers”. Entender um pouco da história do país é bom para entender de forma mais completa “Asteroid City”. Por sorte (ou não), estamos tão mergulhados na cultura deles que sabemos o suficiente para pegarmos os diversos componentes da narrativa.

Os personagens vão se chegando na cidadezinha que tem uma população tão pequena que talvez o termo correto fosse vila ou vilarejo. Claro, tudo faz parte da montagem de uma peça de teatro, cujo apresentador (Bryan Cranston) nos mostra uma espécie de making off com o dramaturgo responsável (Edward Norton) pela criação de tal obra, exibindo passagens desses momentos criativos junto a ele, assim como com o diretor da peça (Adrien Brody). É uma coisa dentro de uma outra dentro de outra coisa. Não é bem algo inovador, mas é, com certeza, bem trabalhado. As passagens entre o que é a construção da trama da peça de teatro – cujo título é “Asteroid City” mesmo -, que vemos como um filme, e as próprias cenas dela que assistimos são bem amparadas por elementos estilísticos e jogo de câmeras, para que não fique confuso para quem está do outro lado da tela – mas sabemos que os mais desatentos podem se perder um pouco, e tá tudo bem, é bastante coisa para processar.

Dentro dessa cidade, temos diversos personagens, que propositalmente são engessados e desconfortáveis com o papel que constroem dentro da narrativa da peça de teatro, mas muito confortáveis dentro do filme em si. O elenco é muito vasto, misturando atores e atrizes famosos com outros que são conhecidos, mas não tão famosos, e nenhum talento é desperdiçado em briga de ego. Cada um se comporta dentro do longa da forma que precisa ser, e isso cria momentos realmente interessantes de se assistir.

Há temas um pouco demais sendo trabalhados ao longo de “Asteroid City”, com uma narrativa que exibe e aponta diversos fatores ao mesmo tempo, como luto, a pressão que os filhos sofrem para suprirem os desejos dos pais – que cada vez menos tentam os entender -, paranoia alienígena, a presença forte do militarismo, a bomba atômica, etc. Esse fator pode ser conflitante para quem quer ver um filme mais leve, talvez com o dinamismo que muitas vezes povoa as histórias de Anderson, talvez com mais humor – que permanece sendo uma marca, principalmente no tom ácido e crítico -, ou, sei lá o que alguém poderia ir atrás de um filme do Anderson. O filme pode ser considerado, de certa forma, “parado”, não maçante, mas pode ser sentido como se fosse mais estático, sem acontecimentos megalomaníacos, apesar com cenas que beiram o absurdo – marca do diretor, claro.

“Asteroid City” é um retrato adequado da época em que se passa a história, indo e voltando em suas mensagens, mas que podem ser bem confusas. Afinal, até mesmo os personagens parecem perdidos no sentido do que está acontecendo, questionando ao diretor sobre o que é aquilo tudo, encaminhando todo o dilema para cenas que trazem muito mais simbolismos do que respostas.

Vale a pena ir ao cinema admirar a obra que é “Asteroid City”? Vale, afinal, ele é muito bonito de se ser assistido em uma tela gigantesca. Mas se não ver também não vai fazer tanta diferença.