Rodrigo García constrói um retrato fragmentado de mulheres no limite
O novo filme mexicano da Netflix, As Loucuras (2025), dirigido e roteirizado por Rodrigo García, chega ao catálogo com a proposta de apresentar seis histórias protagonizadas por mulheres em diferentes estágios de ruptura emocional. Em um formato antológico que reflete o interesse crescente por narrativas centradas em personagens femininas, o longa aposta na intensidade dramática e em diálogos extensos para explorar o que acontece quando cada protagonista atravessa o próprio limite. Confira a crítica do filme:
A trama de As Loucuras
A estrutura do filme gira em torno de Renata, interpretada por Cassandra Ciangherotti, cuja performance sustenta boa parte da força dramática da obra. Em prisão domiciliar após um incidente revelado aos poucos, Renata é observada pelo pai e por vizinhos enquanto tenta lidar com um diagnóstico de transtorno bipolar que insiste não refletir sua real condição. A personagem funciona como eixo temático e emocional da antologia, conectando direta ou indiretamente as tramas que se desdobram ao longo da narrativa.
Ao redor de Renata, As Loucuras apresenta outros retratos que compõem o mosaico do filme. Penélope, vivida por Naian González Norvind, tenta conciliar a rotina exaustiva de trabalhar com animais em fim de vida enquanto enfrenta experiências pessoais dolorosas. Já Miranda, interpretada por Ilse Salas, protagoniza uma viagem de táxi ao lado da mãe logo após uma cirurgia, sequência que se conecta de maneira inesperada à história principal.
Outra personagem central é Irlanda, psiquiatra de Renata, interpretada por Ángeles Cruz. Sua trama envolve o ressurgimento de um trauma antigo durante um encontro familiar, apontando para temas como violência doméstica e o peso de memórias não resolvidas. O filme também acompanha Soledad (Natalia Solián), irmã de Renata, que presencia uma situação de possível abuso em uma aula de teatro-dança, evidenciando dinâmicas de poder e desconforto que se manifestam em ambientes artísticos. Por fim, a narrativa de Serena (Fernanda Castillo), uma empresária que visita a casa onde Renata está confinada, encerra o ciclo com um diálogo direto sobre autonomia, vulnerabilidade e crise.
A estética do teatro
A forma como García constrói essas histórias revela um apreço por uma estética próxima ao teatro filmado. Conversas longas, cenas em tempo estendido e foco constante na expressão emocional das atrizes marcam o estilo do longa. Essa escolha pode resultar em ritmo irregular, já que algumas tramas se alongam mais do que o necessário, mas também permite que o elenco entregue interpretações que sustentam o projeto.

O filme examina diferentes percepções sobre o comportamento feminino e o estigma associado a mulheres que demonstram intensidade emocional. Ao retratar suas protagonistas em momentos de colapso, reinvenção ou confronto, García cria um panorama que discute a pressão social, as demandas familiares e a relação entre vulnerabilidade e autocontrole.
Crítica: vale à pena assistir As Loucuras na Netflix?
As Loucuras não busca agradar a um público amplo, mas encontra força na autenticidade de suas personagens e na maneira como cada história se entrelaça a partir da figura enigmática de Renata. O resultado é uma obra que abraça o cinema de arte e aposta na sensibilidade de seu elenco para refletir um conjunto de experiências que coexistem entre caos, lucidez e resistência.