Uma igreja de cabeça para baixo e a palavra Preacher Uma igreja de cabeça para baixo e a palavra Preacher

Analisando o Piloto de Preacher

Quando Garth Ennis trouxe para o selo Vertigo a série Preacher, chocou o mundo dos quadrinhos e logo se tornou um clássico cult. A história do pastor Jesse Custer repleta de humor negro, violência e muita blasfêmia era exagerada até para alguns ateus e, apesar de ter momentos bizarramente engraçados, conseguia também arrancar lágrimas dos olhos com outras situações emocionantes. Por muito tempo acreditava-se que essa hq seria inadaptável por causa do seu conteúdo, mas nesse domingo tivemos o seu episódio piloto. Será que ele foi uma adaptação fiel?

No primeiro episódio temos algumas aparições de uma entidade que entra em padres em locais diferentes do mundo, mas sempre que um padre recebe a entidade, ele explode em uma nuvem de sangue. Enquanto isso, no Texas, temos o pastor Jesse Custer tentando viver e resolver os problemas de uma cidadezinha no cu dos Estados Unidos. O seu caminho se cruza com o vampiro Irlandês Cassidy que literalmente caiu na cidade e também com uma conhecida do seu passado sujo, Tulip, que parece ser uma ladra.

A primeira coisa que precisa ser dita é que Preacher não é uma adaptação fiel quadro a quadro da hq, logo no primeiro episódio vemos muitas mudanças de personagens e como eles se encontram. O que parece é que pegaram alguns dos personagens mais famosos dos quadrinhos e os colocaram todos na mesma cidade para interagir e serem introduzidos. Acredito que essa é a única reclamação séria que tenho com o episódio, ele tenta apresentar personagens demais e acaba tendo um problema de ritmo e confusão de trama por causa disso. Eu nem acho ruim mudarem alguns personagens, mas essa forçação de mostrar cada um com seu mini-plot influenciou a narrativa de forma ruim. Vamos esperar que o ritmo melhore no resto da temporada, já que não teremos mais muita coisa para se apresentar. Esse episódio funciona como um “Preacher Begins”, ele constrói a temporada com elementos que vemos na primeira hq e com coisas que podem ter acontecido antes.

O elenco da série posando na frente de uma igreja

O clima do episódio, porém, está bem parecido com o dos quadrinhos, com bastante violência e humor negro. Deu pra perceber que o produtor da série, Seth Rogen, trouxe uma narrativa e clima bem parecido com o seu filme This is The End, que também usa de uma paródia religiosa para contar uma história de humor meio bizarra. Ao que parece ele foi a pessoa certa para trazer o quadrinho às telas. Imagino que a série não será tão blasfêmica quanto a hq, mas nesse piloto já da pra ver algumas coisas hereges bem divertidas.

Talvez a melhor coisa da série até o momento é o casting. Jesse Custer não é o mesmo dos quadrinhos, principalmente por que aqui temos um personagem ainda em construção, alguém que ainda vai ter aquela personalidade de caubói que vemos no Custer original. Cassidy, apesar de não ficar de óculos direto, está muito bom e bastante igual aos quadrinhos, até o sotaque bizarro foi trazido. O Cara de Cu não está tão chocante e nojento mas está funcionando. A surpresa mais gostosa foi a Tulipa, Ruth Negga conseguiu fazer uma Tulipa muito mais carismática e ótima de assistir. Em um episódio a personagem já me ganhou e já acho ela bem melhor do que a Tulipa da história original. Fico feliz de ver que trocaram a raça da atriz colocando uma negra, que mulher!

O episódio é bem dirigido, tem uma direção bem dinâmica e rápida. Apesar do problema de ritmo e história de introdução meio confusa, ele consegue ser assustador e engraçado ao mesmo tempo, uma combinação difícil de conseguir. Como um bom piloto, ele empolga e dá vontade de saber logo o que vai acontecer. Em questão de produção deu pra ver que gastaram uma graninha considerável aqui, espero que a qualidade continue. Preacher tem tudo para ser uma ótima série e cair nas graças daqueles que curtem uma história bizarra e estilosa, com requintes de blasfêmia e humor negro. Para os fãs, a dica é relaxar e não esperar uma adaptação fiel, mas sim uma boa história contada de forma diferente que já conhecemos.