É possível afirmar que após os 6 primeiros capítulos, Star Wars não vive uma boa fase nos cinemas. A última trilogia passou longe de agradar o público (embora Os Últimos Jedi seja um ótimo filme) e a Disney não consegue entregar qualidade constante nas séries live-action. Porém, longe dos olhos dos espectadores casuais, a saga criada por George Lucas encontrou um caminho próprio nas animações. Um lar onde é possível desenvolver personagens e contar boas histórias sem toda a afetação cinematográfica. Isso se ignorarmos toda a discussão sobre o que é canônico ou não. É desse universo tão particular que surge Ahsoka, nova série original do Disney+, que tem como principal missão apresentar velhos rostos para um novo público.
Após os eventos da segunda temporada de The Mandalorian, Ahsoka Tano (Rosario Dawson) embarca em uma missão para manter a recém conquistada paz na Nova República. No rastro de um antigo e poderoso inimigo, ela precisará da ajuda de Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo) para concluir seu objetivo. Responsável por criar a protagonista na série animada Clone Wars, Dave Filoni tem uma tarefa ingrata nas mãos: contextualizar anos de vivência e desenvolvimento dos personagens em apenas alguns episódios. Se você cair de paraquedas na série, encontrará um roteiro didático especialmente preparado para abordar questões cruciais para desenvolver a trama. Mas isso nos leva ao principal ponto dos primeiros episódios: envolvimento emocional.
Ainda que o texto diga que Ahsoka, Sabine e Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead) compartilham um passado juntas, quem não acompanhou a construção dessa relação pode ter dificuldades em abraçar a emoção presente no reencontro delas. Mostrar é sempre melhor do que contar e a série não tem tempo suficiente para isso. Por isso os diálogos expositivos são tão presentes nos dois primeiros episódios, que além de preparar o terreno para o que veremos a seguir, também servem como uma maneira de reaproximar Sabine e sua antiga mestra. Não seria loucura considerar Ahsoka uma continuação espiritual de Star Wars Rebels, já que tudo gira em torno de encontrar Ezra (Eman Esfandi) e o temido Grão Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen).
Já nas novidades, todo o destaque vai para o perigoso e imponente Baylan Skoll (o saudoso Ray Stevenson) e sua aprendiz Shin Hati (Ivanna Sakhno). Extremamente habilidosos, a dupla promete ser um desafio para a protagonista ao longo da série. Como especialidade da casa, Filoni e o diretor Steph Green entregam boas cenas de ação nos primeiros episódios. Com batalhas espaciais e empolgantes duelos de sabres de luz, Ahsoka deve agradar quem busca por mais diversão e menos contexto político (o que é praticamente impossível em Star Wars…).
Apesar da barreira emocional, Ahsoka pode funcionar como uma ponte para que mais personagens e elementos das animações ganhem destaque em produções live-action. É um começo promissor para essa nova empreitada no universo de Star Wars. Sei que nem tudo precisa ter a mesma qualidade de Andor, o que é uma pena. Então que pelo menos a série se aproxime mais de Rebels do que de Boba Fett...