Águas Rasas [REVIEW]

Ser humano vs Natureza é um tema batido pelos corredores de Hollywood. Vulcões, furacões, terremotos e toda a sorte de tragédias já caíram sobre as pessoas em inúmeros filmes. Forçando um pouco a memória, aposto que você consegue lembrar de alguns exemplos. Mas quando desastres naturais já não o suficiente, eis que surgem os animais. Cobras gigantes, jacarés gigantes, aranhas gigantes e etc. É o que chamamos de Eco-Horror, e que pode botar mais medo do que freiras fantasmas. Steven Spielberg e seu tubarão branco assassino foram pioneiros do gênero, fazendo milhares de pessoas aposentarem as sungas e biquínis por medo do mar. Mas, apesar de todas as variações, é raro encontrar um filme do segmento de qualidade decente.

O que encontramos, em grande quantidade, são filmes trash que nunca deveriam ter saído da lixeira onde foram encontrados. Mas nem tudo está perdido. Mesmo que não seja tão impactante quanto Tubarão, Águas Rasas mostra que é possível beber da fonte e utilizar tecnologias atuais sem parecer algo feito por crianças no quintal de casa. O longa é dirigido pelo ótimo Jaume Collet-Serra, conhecido por sua parceria com Liam Neeson e pelos filmes de terror A Casa de Cera e A Órfã. O espanhol entrega um thriller que prende o espectador do começo ao fim, do tipo que te faz engolir seco em vários momentos.

Numa trama eficiente e sem enrolação, Blake Lively (sim, a Serena de Gossip Girl) vive uma jovem que acabou de perder a mãe. Buscando reencontrar seu caminho, ela vai visitar uma praia paradisíaca que sua mãe conheceu quando ainda estava grávida. E justamente quando ela está curtindo a beleza e as ondas do local, a grande antagonista do filme surge para estragar a brincadeira. Isso mesmo, antagonista. Um enorme tubarão branco fêmea que dilacera a perna da jovem surfista e a deixa ilhada em um recife. É aí que começa a corrida contra o tempo. Afinal, além da predadora, existe o problema da maré que vai subir e deixá-la submersa. Um banquete servido numa bandeja de prata.

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A direção de Jaume vai construído com maestria a tensão entre as duas rivais. Mostrando que aprendeu bem com Spielberg, ele esconde o tubarão e vai revelando sua imponência aos poucos. Junto com a protagonista, o espectador vai aprendendo a temer aquela fera. Isso ajuda a criar empatia, o que é necessário já que acompanhamos apenas Blake durante 90% do filme. Quando ela toma decisões arriscadas, quando se machuca cada vez mais e principalmente quando quase é engolida, tudo causa no público uma agonia sem precedentes. Também existe uma dinâmica na filmagem que ajuda na criação do horror.

Palmas para a incrível fotografia do sempre competente Flavio Martínez Labiano, que contribui e muito para a eficiência do trabalho do diretor. O contraste da paisagem paradisíaca da Austrália (onde ocorreram as filmagens) e da situação aterrorizante que o filme apresenta merece todos os elogios possíveis. É como mostrar que existe beleza no terror. E claro, fisga o público de imediato.

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A predadora voraz também merece destaque. A mistura de efeitos especiais com o sempre eficiente animatrônico (olha Steven Spielberg dando aula de novo) ajuda a criar a silhueta aterrorizante necessária em filmes como esse. Em muitos momentos é impossível não imaginar que a desafortunada protagonista não conseguirá escapar dos dentes da morte. Infelizmente, os últimos minutos do filme não conseguem fugir de alguns problemas. Aparecem os clichês e soluções que não casam em nenhum momento com o clima criado. Muitos usariam a velha piada do “nadar, nadar e morrer na praia”. Mas não é o caso aqui.

Ao longo de seus quase 90 minutos, Águas Rasas caminha bem entre o suspense e o terror. E nunca esconde sua intenção de ser simples, sem a ambição de tentar reinventar a roda. Se atualmente o terror apela para criaturas que caminham no escuro e demônios, é sempre bom lembrar que nem sempre visitar uma praia é um programa tão seguro assim.