Morbius Morbius

Afinal, perco ou não meu tempo com Morbius?

Antes de tudo, eu não conhecia o personagem previamente, logo, toda e qualquer avaliação aqui feito sobre ele é baseada exclusivamente no filme. 

Michael Morbius tem um raro distúrbio sanguíneo, que não somente o deixa gravemente doente o tempo inteiro, como também faz com que o seu tempo na Terra esteja contado. Seu desejo é criar uma cura para ele, seu melhor amigo Milo e toda e qualquer pessoa que carregue a mesma doença. O filme inicia com ele em algum local em Porto Rico, em meio a um cenário montanhoso e com uma cena toda gasta em entrar em uma caverna e filmar o tamanho dela – a relevância de demonstrar isso é pouca, visto que temos um close de Morbius olhando para dentro dela e dá para perceber a sua magnitude. A cena inicial é bem confusa, e acaba perdendo seja lá qual era a intenção do diretor, além de, claro, diálogos expositivos. Tem uma sequência de momentos que não encaixam ou são só ruins mesmo, como o piloto e sua equipe querendo abandonar Morbius na entrada da caverna porque tá anoitecendo e o protagonista diz “ok” (até agora me perguntando como ele iria embora, se nem andar direito consegue e está em um local extremamente ermo), ou quando Michael para em frente à armadilha que pediu para colocarem em frente à caverna e corta a palma da mão, por onde saem dois filete de sangue que atraem a morcegada inteira, IN-TEI-RA, pra fora do buraco em que tavam dormindo. E quando eu digo morcegada, são milhares de morcegos-vampiros. E você fica se questionando sobre o motivo que o levou até ali ao invés de pagar alguém SAUDÁVEL para fazer o serviço, mas acho que pensaram que esse drama inicial daria um tom mais… Ok, não faço ideia.

E corta para a abertura. Primeiro, gostaria de dizer que achei interessante as cores da bandeira BI em néon na tela, mas, de resto, é tosco em um nível que não sei nem por onde começar a explicar. Só vocês vendo mesmo.

Antes de pular para o resto, gostaria que conhecessem um pouco desses bichinhos, pois o morcego-vampiro é a base dos poderes de Morbius:

1: eles são morcegos hematófagos, que se alimentam exclusivamente de sangue. Eles fazem uma pequena incisão na vítima, por onde se alimentarão lambendo a ferida – na saliva dessa espécie há enzimas anticoagulantes;

2: por causa da sua forma de alimentação, eles são temidos e vistos de forma negativa, sendo normalmente relacionados a uma série de lendas e mitos – porém, o seu nível de ameaça é classificado como “pouco preocupante” pela International Union for Conservation of Nature (IUCN);

3: para localizar suas presas, recorrem a ecolocalização e visão, além de percepções olfativas e auditivas.  A ecolocalização é a emissão de ondas de altíssima frequência, pela boca ou pelas narinas, que ao atingirem um objeto, são refletidos em forma de ecos e captados pelos ouvidos do animal, permitindo a identificação do ambiente ao redor;

4: o deslocamento dele inclui movimentos terrestres com postura quadrúpede – ele pode andar, correr e saltar, o que ajuda bastante nas caça e captura da presa. Quando se aproxima de suas presas, pousa bem próximo, se deslocando até elas, subindo lentamente e selecionando o local onde fará a alimentação. O movimento de saltar é também utilizado pelo morcego, como uma forma de fuga e para iniciar o voo, sendo a única espécie capaz de iniciá-lo a partir de uma superfície horizontal;

5: como se alimentam apenas de sangue, sua alimentação possui mínimo de gorduras e carboidratos, embora rica em ferro e proteínas. Porém, por terem uma dieta tão baixa em calorias, eles não podem ficar muito tempo sem comer.

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Por que estou mostrando isso quando deveria estar falando mal do filme? Bem, só para exibir que a produção até quis fazer algo elaborado, mas foi desperdiçado em um longa com muitos nadas.

Voltando ao filme, temos, em tese, 4 personagens relevantes: Morbius, Martine, Milo e Emil Nikos. Por que “em tese”? Ninguém, absolutamente NINGUÉM, tem desenvolvimento, arco ou mesmo uma real relevância para a história. Isso mesmo, nem o próprio protagonista tem importância na própria trama. Ele é um herói? Um vilão? Um anti-herói? Nada além de um vampiro atormentado, no pior estilo Anne Rice. Nem Louis fez tanto drama em Entrevista com o Vampiro! Jared Leto, muito criticado pelo seu Coringa bizarro, está até que bem no papel, e fez o seu melhor, o que, considerando o filme, não precisou de muita coisa, visto que o personagem é mais raso que um pires e não há muito o que mostrar. A narrativa até se esforça para dar algum tipo de background e inserir a sua motivação, o que o levou a fazer experimentos com os morceguinhos e pum! Se tornar um “monstro”. Por exemplo, no flashback há uma sequência de acontecimentos que firmariam a base para o resto da trama: Michael e Milo virando melhores amigos e o protagonista sendo descoberto como um verdadeiro gênio e sendo enviado para estudar em uma escola especial. Em suma, ele precisa se tornar médico e cientista para salvar a ele e o seu BFF da vida, que é o que ele faz. Também deveria servir para o aprofundamento da relação de ambos com Nikos, que é o responsável por cuidar deles, e fica com Milo até sua fase adulta, sendo apontado como uma figura paterna para ambos. Porém, essa relação de pai e filhos não é explorada, é apenas JOGADA na nossa cara, assim como várias outras situações.

Apesar da genialidade de Morbius, ele toma várias decisões duvidosas, como fazer o teste com o soro que desenvolveu usando o DNA dos morcegos-vampiros em água internacionais em um navio com uma tripulação para lá de curiosa: apenas ele e Martine (sua assistente, médica brilhante, e interesse forçadamente amoroso) e um MONTE de mercenário. Por quê? Simplesmente para Morbius, ao se transformar, ter quem matar, já que não há outra explicação plausível para estar em alto-mar com figuras perigosas, sem nenhum outro tipo de tripulação. Ele não avança em Martine, mas ela é o estopim para o ódio desenfreado do rapaz, uma vez que jogam ela de lado, que cai em cima de uma mesa e ENTRA EM COMA! Sem brincadeira. Ah, e esses caras são as únicas pessoas que ele mata no filme, o que não faz dele um herói, pois não tava tentando salvar ninguém, tava só se alimentando e se vingando mesmo. O que também não faz dele um vilão. Enfim, a parte boa é que, como cientista, ele percebe que precisa fazer testes consigo para descobrir quais habilidades parece ter desenvolvido, quanto tempo consegue ficar sem sangue, entre outras coisas. São cenas que eu, particularmente, gostei, e mesmo que tenha incomodado muita gente o fato de sair uma espécie de fumaça quando ele se move rapidamente, eu gostei porque me lembrou muito de jogos de videogame – claro, provavelmente esse recurso foi utilizado para disfarçar o CGI cagado, mas ficou interessante. Inclusive, os momentos em que exibem as habilidades dele trazem efeitos intrigantes, alguns que ficaram bons, como a ecolocalização, e outros que não rolaram muito, como o “ventinho” que é mostrado que o ajuda a voar. A transformação do personagem na sua forma “morceguesca” seria melhor se não escurecessem as cenas para disfarçar erros, principalmente em cenas de “ação” – eu mal considero o que rola no filme como ação -, que misturam o escuro com as sombras coloridas que saem do personagem, aqueles efeitos de câmera que deixam tudo confuso, e, como a cereja do bolo, colocam slow motion para destacar algumas partes da luta, e são até bem colocados, mas perde muito do seu real efeito quando vem com tudo isso junto.

Milo é um péssimo vilão. Apesar do ator, Matt Smith, estar obviamente se divertindo no papel, seu personagem não tem nada a acrescentar na trama. Sua motivação é pífia, podendo se igualar ao de uma criança birrenta. Ele toma o soro escondido de Morbius (que, ao invés de destruir o soro, deixou ele lá dando sopa), gastando seu tempo para encher o saco do amigo pedindo para que fossem malvados juntos. Basicamente, fica tentando chamar a atenção de Michael e tendo ciúmes mortais de Martine, porque ele quer o melhor amigo só para si. Literalmente um empata foda. Pra que Morbius iria querer ficar com uma mulher se podia tá fazendo ruindade por aí com seu melhor amigo? Era pros dois estarem lá, colocando o pé pra velho tropeçar, dando camarão para gente alérgica a ele, mordendo policiais, dando susto em gente cardíaca… Sabe como é, só coisa ruim mesmo, serem bem vilões! Sem brincadeira, essa é a motivação dele: a de que ele e Morbius têm que ser vampiros juntos e fazerem maldades por aí, já que agora são superfortes e supervelozes. Milo não gasta tempo descobrindo as próprias habilidades para além da força e da velocidade, o que faz com que tenha zero sentido Morbius ter medo do ex-amigo, visto que ele próprio estudou o que pode fazer e poderia dar um pau no outro usando apenas uma mão. Mas aí não teria conflito, né?

Aliás, a personalidade do personagem Milo muda drasticamente após a sua transformação. Eu dou uma colher de chá pelo simples fato de que existem estudos que mostram que muitos homens não param de ser ruins quando entram na velhice, é simplesmente porque não têm mais forças e podem apanhar de todo mundo, principalmente das pessoas que agora são adultas e podem se defender deles. Milo seria a versão ao contrário. Provavelmente agia como um bom moço porque não tinha a opção de fazer mais nada, já que dependia de todo mundo, e, quando se curou, tornou-se quem realmente deveria ter sido o tempo todo. Fica aí a teoria para ficar mais palatável essa mudança aleatória.

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Martine só serve para duas coisas no filme: quase morrer e morrer. A trama tenta apresentá-la como uma mulher forte, inteligente, dona de si, porém, com a falta de desenvolvimento da história e dos personagens, ela tá ali só de enfeite e para causar reações de raiva em Michael, já que ela é o seu interesse amoroso – outro fato que só é jogado na nossa cara de qualquer jeito. Nikos também só está ali figurando, um desperdício de ator, e sua participação mais significativa, a de ir conversar com Milo para entender o que está acontecendo com ele e ajudá-lo, termina com ele morrendo. A cena, inclusive, é a que aponta o personagem como a figura paterna de Milo e Morbius, mas, como nunca aprofundaram essas relações, eu não poderia me importar menos com o descarte desnecessário dele. É possível que a intenção do roteiro fosse mostrar a desumanização do vilão, como ele é MAU, mas bateu na trave e foi parar em “mais uma ação birrenta do antagonista”.

No fim das contas, o filme termina da forma mais imbecil possível, com Milo matando Martine para implicar com Morbius e ele querer ir pro lado dele – algo completamente SEM SENTIDO ALGUM -, e ambos lutando. Dessa vez, o descartado foi Milo, pelo poder do protagonismo de Michael, que, para a inveja do Batman, conversa com os morcegos e os utiliza para se livrar do encosto. Sem história alguma, o filme encerra com um cliffhanger ridículo da Martine abrindo os olhinhos – que agora estão vermelhos -, além das cenas pós-creditos que amarram o filme ao MCU de uma forma completamente aleatória e forçada envolvendo o Abutre. Ah, e eles aproveitaram para ligar ainda mais o Venom ao universo da Marvel, pois o anti-herói é citado em Morbius.

Com transições piores dos que a dos filmes antigos do 007, Morbius prova que dá sim para criar muita expectativa em uma história que não tem história, um “vilão” (se é que podemos chamá-lo assim) mais perdido do que cego em tiroteio, personagens sem importância ou carisma, e um protagonista que termina sendo apenas um vampiro, pois em momento algum ele é heróico, ou vilanesco, ou mesmo com ações dúbias que o tornariam um anti-herói. Nope. Ele é um cientista que virou vampiro e, por um acaso, teve que se livrar do BFF que estava enchendo o seu saco. Resumi o filme inteiro aqui. Não à toa, muitas pessoas saem do cinema entediadas ou com ódio, pois o filme tinha absolutamente TUDO para ser incrível, porém, conseguiu apenas ser pior do que Venom (que tem história, mesmo que picotada e não muito boa, e faz a gente rir).