A vida é traiçoeira meu chapa. A essa altura do campeonato você já deve saber que não é aquele livro de colorir que nos venderam durante a infância. Cada dia é um novo soco na cara e no estômago, enquanto uma voz ordena que você não levante mais. Seu corpo fica tentado em obedecer. E muitas vezes parece ser a escolha certa a se fazer.
Eu já fui a nocaute, você também. Mas é como diz aquele velho boxeador italiano expert em sangrar até quase morrer: “A vida é sobre o quanto você aguenta apanhar e seguir em frente” ou algo assim. E tem um cara que manja de erguer a cabeça e seguir caminhando. O nome dele? Jake Gyllenhaal. Vai dizer que não foi uma baita de uma rasteira quando não o indicaram ao Oscar por sua aula de atuação em O Abutre?
Em busca do que ele acredita ser merecedor, optou por ser massacrado fisicamente em Southpaw (Nocaute), novo filme do sempre consistente Antoine Fuqua. Sim, já deu para perceber que é um filme sobre boxe. É aquela dose de clichês que te fazem renovar as energias.
Jake vive aqui o campeão dos meio-pesados Billy Hope. Curioso que um cara fadado a uma metamorfose brutal tenha ‘esperança’ em seu nome. Talvez seja o que precisamos naqueles dias em que o mundo decide tocar um foda-se bem grande na nossa cara.
Nocaute é montado totalmente sobre as atuações. Rachel McAdams fica pouco tempo em tela, mas é o gatilho para que Jake possa liberar sua fera enjaulada. Forest Whitaker dispensa comentários. Seu diálogo com Billy no terceiro ato do filme é de cortar o coração. Dois sofredores se apoiando para não afundarem. Mas é Oona Laurence que rouba a cena. O talento da jovem atriz ofusca tudo ao redor em vários momentos. Você olha e pensa: puxa vida, já passei por isso. Já me perdi assim. E sabemos que não é fácil achar o caminho de volta.
A mão pesada e certeira de Fuqua esfrega nossa cara numa parede de pessimismo, para depois limpar o sangue enquanto respiramos fundo. Se deixar a frescura um pouco de lado, é completamente possível se apaixonar pelos clichês e até mesmo aprender com eles. Vai por mim, aprender a lição do modo fácil é o mais recomendado em alguns momentos. Essa é a função de Nocaute. Te impedir de beijar a lona direto. Afinal 3 quedas no mesmo assalto e a luta está perdida.
Claro que uma boa trilha sonora é essencial. E Eminem não decepciona. É dele o hino motivacional do longa, ‘Kings Never Die’. Aliás esse é outro cara que já apanhou bastante na vida e soube seguir em frente. Curioso que ele deveria estrelar o filme no projeto original, mas deu sua benção a Jake. Um não é muito diferente do outro. Exceto é claro pelo talento na atuação.
Southpaw precisa ser apreciado nas entrelinhas. Mesmo que não tenha o final mais surpreendente do cinema, é uma caminhada honesta com o espectador. E todo o filme capaz de acender uma chama que te faz encarar a vida de frente merece ser respeitado. Palmas para Jake Gyllenhaal, que não desistiu mesmo depois de ser nocauteado. Palmas para nós também.
Então pegue as luvas empoeiradas do fundo da gaveta, coloque Eminem para tocar e vá lutar. Enquanto Billy Hope estiver de pé, haverá esperança. Enquanto estivermos de pé, haverá esperança.