A Substância (The Substance, 2024) - Crítica, fatos e curiosidades do filme com Demi Moore A Substância (The Substance, 2024) - Crítica, fatos e curiosidades do filme com Demi Moore

A Substância (2025) | Crítica do Filme | HBO Max

O horror corporal como espelho da obsessão pela juventude

Em A Substância (The Substance, 2024), a diretora e roteirista Coralie Fargeat mergulha fundo nas contradições da sociedade obcecada pela aparência e pela eterna juventude. Após o sucesso de Revenge (2017), a cineasta francesa volta a usar o gênero do horror para examinar as pressões impostas às mulheres — agora sob a lente distorcida e visceral de um terror corporal que expõe o custo psicológico da busca pela perfeição. Estrelado por Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid, o longa mistura crítica social, espetáculo estético e desconforto físico em igual medida. Confira a crítica do filme que estreia na HBO Max:

A trama e o símbolo de “a substância”

Demi Moore interpreta Elisabeth Sparkle, uma ex-estrela de programas de ginástica que, ao ser demitida por um executivo que prefere “rostos mais jovens”, vê sua carreira e autoestima desmoronarem. Humilhada e invisibilizada pela indústria que a transformou em produto, ela encontra uma alternativa tentadora: uma injeção experimental chamada The Substance, capaz de gerar uma versão rejuvenescida de si mesma. Surge então Sue (Margaret Qualley), o reflexo idealizado de Elisabeth — mais jovem, mais confiante e perfeitamente adaptada ao padrão de beleza vigente.

Mas o acordo tem regras severas: as duas versões devem alternar a existência a cada sete dias, sob risco de consequências catastróficas. O que começa como um pacto de autopreservação logo se transforma em uma guerra interna entre o “eu” autêntico e o “eu” fabricado. Fargeat transforma essa metáfora em horror físico explícito, evocando referências a A Mosca, O Enigma de Outro Mundo e Carrie – A Estranha, de Brian De Palma.

Crítica ao culto da juventude e ao corpo como mercadoria

A diretora utiliza o corpo feminino como campo de batalha simbólico. O filme reflete a era contemporânea de produtos milagrosos e procedimentos estéticos que prometem juventude instantânea, aproximando-se do fenômeno social em torno de drogas como o Ozempic. A narrativa de A Substância desmascara a ilusão do “aperfeiçoamento” corporal, mostrando como a busca incessante pela perfeição pode se tornar autodestrutiva.

Fargeat não condena apenas a indústria do entretenimento, mas também o público que a alimenta. O personagem Harvey (Dennis Quaid), executivo grotesco que dispensa Elisabeth, é a caricatura viva de um sistema que mercantiliza a mulher até que ela perca valor de mercado. Quaid se diverte no papel, encarnando um tipo familiar de hipocrisia corporativa.

A Substância: elogiado terror com Demi Moore e Margaret Qualley ganha data de estreia pela MUBI
Créditos da imagem: Divulgação

As atuações e a direção visual

Demi Moore entrega uma performance intensa e vulnerável, explorando sem vaidade os limites da humilhação e da autocrítica. Sua Elisabeth é um retrato de uma mulher que internalizou o desprezo do mundo. Margaret Qualley complementa essa dualidade com uma presença inquietante — Sue é o ideal feminino transformado em ameaça.

Visualmente, A Substância é um espetáculo. A fotografia de Benjamin Kracun usa tons de rosa, azul e neon para construir uma estética artificial que remete tanto à cultura pop quanto à cirurgia plástica. O design de produção de Stanislas Reydellet reforça essa artificialidade: corredores intermináveis e laboratórios clínicos lembram tanto 2001: Uma Odisseia no Espaço quanto O Iluminado. O resultado é um ambiente que parece belo e repulsivo ao mesmo tempo.

O horror como metáfora do colapso identitário

O filme adota o horror corporal não apenas como artifício visual, mas como discurso. As mutações e deformações de Elisabeth e Sue representam a dissolução da identidade em meio às exigências da imagem pública. Fargeat constrói um paralelo entre a criação e o monstro, à semelhança de Frankenstein, sugerindo que a própria sociedade cria o horror que teme.

A Substância (The Substance, 2024) - Crítica, fatos e curiosidades do filme com Demi Moore

Nos 30 minutos finais, o longa atinge um clímax de pura catarse visual e física, com cenas que exploram o grotesco de forma quase operística. O confronto entre Elisabeth e Sue ultrapassa o limite do corpo e se torna uma metáfora para o colapso psicológico causado pela impossibilidade de aceitar o próprio envelhecimento.

Crítica: A Substância é um filmaço que merece a sua atenção

A Substância é um dos filmes mais provocativos dos últimos anos ao unir crítica social e terror estético. Coralie Fargeat realiza uma desconstrução brutal dos padrões de beleza e da indústria que os sustenta, enquanto Demi Moore ressurge em uma das atuações mais marcantes de sua carreira. O longa funciona como espelho de uma era em que o corpo é produto e a juventude, mercadoria.

Com humor ácido, violência estilizada e uma reflexão contundente sobre identidade e autodestruição, A Substância confirma Fargeat como uma das vozes mais originais do cinema contemporâneo — e transforma o horror corporal em instrumento de resistência.