Intenso e sufocante do começo ao fim, A Queda é mais do que meramente um filme de sobrevivência, flertando com o terror, não só pela contextualização, mas principalmente pelas escolhas no desenrolar da trama.
Uma amiga puxa a outra para esse novo desafio após uma tragédia pessoal que marcou a vida das duas. A princípio, colocar uma velha antena de TV de 600 metros como premissa para a aventura parece pouco para alpinistas profissionais que já escalaram montanhas colossais, mas o roteiro não quer emitir comparações nesse aspecto, e sim impor diferentes adversidades durante a empreitada, movida mais por um delírio de superação do que feito com responsabilidade. Por isso mesmo, uma das personagens se comporta boa parte do tempo como aqueles influencers que vão até o limite entre a vida e a morte apenas por uma selfie, ou se arriscam além da conta em ideias que, para nós, espectadores e meros mortais, parecem ainda mais sem sentido.
Scott Mann dirige e escreve, junto de Jonathan Frank, A Queda de uma maneira que supera a sensação de adrenalina por parte do público, oferecendo boas doses de horror durante a sessão. Seja através de pesadelos que a princípio fingem ser reais, seja em diversas situações em que a dupla se coloca à prova para, a todo custo, ter uma chance de resgate – e nisso envolve-se drone, celulares, tênis jogados e outros improvisos -, à medida em que coloca abutres, tempestade e principalmente a própria precariedade da antena como desafios mortais. É impossível para o espectador respirar aliviado um segundo sequer, já que a direção bem dosada sabe equilibrar o drama dos diálogos, que coloca paternidade, casamento e amizade em cheque em diferentes aspectos, com situações de risco iminente. E por isso mesmo escolher entre sequências é tão difícil por aqui, mas eu diria que a descida de corda para pegar uma mochila, e a subida até o extremo a fim de conseguir bateria são as mais desesperadoras.
O diretor também sabe explorar os ângulos de maneira a criar vertigem em seu público, deixando o desconforto rolar até o último minuto antes dos créditos subirem. O design de produção é competente, ainda mais quando se nota, gradual e sutilmente, a pele das garotas se deteriorando com o tempo que passam nas alturas. Pequenas ideias sugeridas antes, seja no dilema moral, seja no uso sagaz da tecnologia, são bem utilizadas como recurso durante a narrativa. Ainda que em oposição certas saídas também soem forçadas, como o caminhão que aparece bem na hora, os coadjuvantes sem um mínimo de empatia, ou de certas decisões completamente suicidas por parte das personagens. Mesmo assim, releva-se essas sequências em prol da adrenalina sufocante que o filme promove.
Grace Caroline Currey e Virginia Gardner estão bem e se destacam principalmente pelo desempenho físico, ao qual a produção contribui ao reforçá-lo em um cenário crível, que jamais parece fazer uso do CGi, para suas tão complexas cenas nas alturas. Jeffrey Dean Morgan tem uma participação mínima, apenas para fortalecer os nomes no cartaz. E assim, aliado a uma chocante reviravolta, A Queda se torna uma sessão efetiva e aflitiva, justamente por compreender a gramática de seu gênero de sobrevivência, trazendo para junto de si todos os tropos de um terror digno.
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